[Contém spoilers]
O abraço da Lagoa Negra
Apesar de continuar a sensação de estarmos mais perante uma continuação da 1.ª temporada do que propriamente numa nova temporada (que traz de negativo um sentimento de confusão), neste 2.º episódio já conseguimos entrar melhor no ritmo da série. Para além disso, os componentes de envolvimento e de arrepiar são potenciados por uma aguçada e atenciosa realização e banda sonora.
“Todos os caminhos vão dar a Roma” e em Rome continua a incessante procura por Sidney com abordagens cada vez mais violentas pela parte de Kyle e do chefe Giles. A cada instante que passa, a proporção de demónios parece aumentar assim como os seus simpatizantes, o número de ignorantes mantém-se e aqueles dispostos a lutar correm o risco de serem completamente assoberbados. Giles tem noção disto e é por isso que nem pensa duas vezes ao arrombar a casa de um infetado e apontar a arma à cabeça de quem a estava a proteger. Tudo vale na guerra. Mas será que ao olharem para trás no futuro não verão um rasto de desastres que podiam ter evitado? Ter-se-á Joshua tornado um dano colateral? Pensei que Giles o fosse seguir para ver se a “mãe” o levava a Sidney e depois iria resgatar a criança, mas parece que nada disso aconteceu. Mas também, se começasse a resgatar assim os inocentes, será que o prefeito e o resto das pessoas não o afastariam de vez do cargo? A escolha certa é uma escolha impossível. A escolha de Kyle passa apenas por encontrar Sidney e tentar arrancar-lhe respostas e acabar com o mal pela raiz.
É ainda bastante intrigante o facto da posição de Ogden não ser um caso pontual. Será que ambos (Ogden e Peter) já conheceram as mulheres depois de estarem possuídas? Ou o que os levou a apoiaram a sua parceira mesmo na mais extrema das situações?
No entanto, Kyle tem mais a acontecer na sua vida. Dentro de dias a mãe dele irá morrer. Irá ser revelado algo com impacto nos momentos finais? E Sarah? Poderá ela recuperar a consciência por breves instantes? E quanto a Amber? Na temporada passada, o pequeno rebento de Kyle mostrou atitudes irreverentes que semearam a dúvida de que também ela poderia estar possuída, porém isso acabou por ser completamente falso e, na verdade, também ela é uma outcast. Sendo assim, serão estas atitudes dela apenas o fruto de uma infância caótica? Depois desta fuga de Amber, terá Kyle que parar por um bocado a sua busca pelo “Diabo” para procurar a sua mulher e tentar reunir e “colar” a sua família?
Falemos agora de Mark, que triste final teve este valente polícia e homem de família! No episódio passado interroguei-me se valia a pena satisfazer a vontade de Megan e ter mais trabalho a encobrir a sua morte não simulando um suicídio. Mas ao vê-lo ser levado para o crematório não ficaram dúvidas de que dizer que se tinha suicidado teria sido uma enorme desonra à sua memória. O homem até conseguiu recuperar as alianças, era nada menos que um herói. Adeus Mark, partiste cedo demais! E se para mim é fácil dizer-lhe adeus quem não está a lidar nada bem com a situação é Megan. Holly está abandonada e desamparada (e cheira-me que isso não vai acabar bem), Amber continua com medo que os demónios voltem a possuir a filha e Kyle tenta atenuar a dor da irmã como pode: tratando do funeral de Mark e tenta ainda explicar a Megan sobre a possessão. Mas ela está em negação, está perdida e sem esperança e só as escuras águas do lago parecem oferecer uma solução para os seus problemas.
O bom reverendo teve um forte desenvolvimento esta semana ao ser obrigado a enfrentar as consequências das suas ações. Na prisão, Anderson enfrentou a sua namorada, Patricia, confessando que tinha provocado a morte de Aaron e teve ainda inesperadamente que enfrentar o passado do seu filho através de um adolescente toxicodependente que foi colocado na cela ao lado. Foi interessante finalmente saber mais sobre o misterioso filho de Anderson e começar a compreender o porquê da relação entre os dois ser tão difícil. No geral, os planos de filmagem neste episódio estiveram excelentes, ajudando ao suspense na série. Nomeadamente, a cena da possessão do prisioneiro foi excecional, criando a tensão que adoramos sentir em Outcast. Para além de tudo isso, foi um alivio saber que Anderson não provocou a morte de Aaron e que está de volta à Team Outcast e à luta contra os demónios. Seria difícil continuar a simpatizar com o reverendo se no seu “fanatismo” tivesse levado à morte de um “inocente”. E será que a rejeição da Bíblia para tentar exorcizar o demónio significa um abandono da fé? Será que não existe esperança para aqueles que não possuem poderes extraordinários? Porque abandonou Deus a cidade de Rome e deixa os demónios passearem livremente? Tudo isto serão de certo dúvidas que Anderson estará a pensar.
Sydney, o grande lobo mau, o bode do capeta, continua no seu refúgio a puxar os cordelinhos. Ele tem a mão em todo o lado e as teorias da conspiração são inevitáveis quando vemos provas da mão do Diabo em todo o lado. Uma vez que o médico de Sarah também é um demónio será que o piorar do seu estado poderá ser mais um dos planos de Sydney? E se a inocência de Anderson foi um alívio, veio por outro lado levantar mais uns poucos mistérios. A quem pertence o corpo macabro encontrado nos destroços da casa de Sydney? Será que o estado putrefacto do corpo é aquilo que está a acontecer a Sydney? Estará ele a apodrecer por dentro? Isto pode ser um fenómeno semelhante ao visto com Lucifer em Supernatural, que destrói rapidamente os recetáculos que possui. Mas poderá a enigmática “Fusão” ser a resolução desse e de outros problemas? E Aaron que está vivo, marcado e queimado, que papel irá desempenhar no futuro?
Como dá para perceber, esta é uma série em que a cada episódio mais e mais perguntas vão sendo adicionadas até só restar uma dúvida existencial do que raio se está a passar. Na temporada passada o peso esmagador da dúvida foi lidado na perfeição e assim esperamos que este ano o caso se repita.
E, para terminar, fica ainda mais uma questão: quem é que agarrou Megan?
Para a semana a batalha do trio de centuriões contra as forças do mal continuará. Até lá, cuidado com os sítios escuros!
Emanuel Candeias