Ministério do Tempo está a ser um déjà vu das aulas de português e o melhor mesmo é seguir o conselho do Tiago e desenterrar os apontamentos do 12.º ano! Depois de Camões, foi a vez de Fernando Pessoa (Dinarte Freitas) dar o ar da sua graça neste quinto episódio…
Depois de Afonso ser repreendido por salvar Ernesto no final do episódio passado – a sua pequena aventura de mota em 1540 teve as suas consequências – a equipa recebe uma nova missão: recuperar a Mensagem de Fernando Pessoa que, durante a sua impressão, foi apreendida pela PVDE. Tiago, Amélia e Afonso viajam ao passado e descobrem, devido a uma carteira perdida, que Mensagem não foi apreendida pela polícia, mas sim por Walcott, um americano. Os três correm para a estação de comboio e, enquanto Tiago distrai o americano, Afonso recupera os documentos. Aqui mais uma vez uma nota positiva sobre o uso da língua inglesa! Walcott é um americano e Tiago dirige-se a ele na sua língua materna, como foi feito em episódios anteriores com franceses e alemães. Um destaque para a incapacidade de Amélia de falar inglês, pois no século XIX a língua estrangeira com prioridade no nosso país era o Francês. Aqui é possível verificar como o mundo e Portugal evoluíram em dois séculos.
Um início bastante atribulado, mas simples, que nos fazia prever um episódio bastante calmo. Podemos verificar uma alteração à piada do “Tiago, explica-te”, algo recorrente desde o primeiro episódio, onde Salvador deixava para o paramédico a função de informar Afonso sobre os assuntos correntes. Neste episódio é o próprio Tiago que diz a Afonso que irá encontrar alguém para o informar sobre o que é o Quinto Império, descrito na Mensagem de Pessoa.
Quando chegam ao presente, a nossa patrulha pensa ter um pouco de descanso, mas logo são informados que a arca dos 25 mil documentos – a arca que contém todas as obras de Pessoa e que nos anos 80 ainda estava na posse de Henriqueta Rosa Dias, irmã de Pessoa – desapareceu. No Ministério deduzem que o ladrão vai tentar sair do país com os documentos de avião, aproveitando assim a confusão provocada pelo fim do rally.
O trio parte assim para 1989 para tentar impedir que estes documentos saiam do país. Enquanto Tiago mostra a Afonso o que é o rally, a equipa depara-se com uma alteração na história de Portugal e contacta o Ministério. Ernesto e Irene são enviados para assistir a patrulhar e Amélia descobre que Walcott é um viajante no tempo e todos juntos deduzem que ele está a tentar apagar Fernando Pessoa e a sua obra da história. Irene questiona Salvador sobre a existência de um Ministério do Tempo americano, deixando no ar a ideia de que o nosso Ministério poderá não ser o único. Poderá ser este o início de um novo enredo para a série?
O grupo vai até ao aeroporto disfarçado e enquanto Afonso, Irene e Ernesto capturam Walcott e o levam para ser interrogado, Amélia e Tiago procuram os documentos na bagagem. Durante este desenrolar de acontecimentos, Afonso encontra Mafalda Torres no aeroporto e, ao voltarem ao Ministério, Salvador percebe que esta estava a tentar ajudar Walcott.
O americano é interrogado e mais tarde detido numa prisão medieval em 1030, mas infelizmente alguns poemas desapareceram da Mensagem de Pessoa e a única solução é ir até ao passado e convencer o poeta a reescrevê-los. O agente incumbido desta missão é Luís de Camões, cujo sonho é conhecer Pessoa pois considera-o seu igual e a única pessoa que o compreende realmente. Este encontro é sem dúvida o momento alto do episódio, pois o contraste entre dois dos nossos mais brilhantes e memoráveis escritores é evidente. No final, Salvador acaba por contratar Fernando Pessoa como agente do Ministério pois “por um salário tem o Fernando Pessoa, o Álvaro de Campos, o Alberto Caeiro, o Ricardo Reis e o Bernardo Soares. Cinco por um.”
Paralelamente a este enredo assistimos à história dos pais de Tiago. No presente apresentam-se como um casal apaixonado um pelo outro e pelo filho, mas durante a viagem da patrulha ao passado, o paramédico descobre uma história completamente diferente.
Durante o dia em que a patrulha espera por Ernesto e Irene em 1989, Tiago resolve ir visitar o seu antigo bairro na companhia de Amélia. Os dois têm um breve encontro com Mariana, a falecida mulher de Tiago, ainda em criança. Amélia percebe que ele ainda não conseguiu superar a morte da esposa e aconselha-o a não continuar a interferir com o passado. Tiago decide então levar Amélia a um concerto dos Xutos e Pontapés. No fim do concerto os dois vão até um bar, onde se cruzam com o pai de Tiago, Miguel, acompanhado da amante, Raquel. Tiago fica em choque e depois de procurar a morada de Raquel quer ir ao seu encontro, mas é impedido por Afonso e Amélia.
Mais tarde, Tiago procura a amante do pai e fica surpreendido por esta saber que Miguel é casado e tem um filho pequeno. Apesar disto, o paramédico mente-lhe e diz que a sua irmã também foi enganada e que Raquel deve terminar a relação, pois irá acontecer-lhe o mesmo.
No final, em conversa com o pai, Tiago diz que ainda não esqueceu Mariana e Miguel confessa-lhe que também teve um grande amor, Raquel, e que estava mesmo disposto a deixar a mulher para poder ficar com ela. Tiago percebe aqui que não deveria ter interferido com o passado e que foram as suas ações que permitiram que os seus pais continuassem como casal, ou seja, a sua viagem ao passado estava destinada a acontecer, pois caso não o fizesse os pais ter-se-iam separado.
Mais um episódio fantástico que, apesar de ter diminuído o ritmo, não deixou de ser intrigante. O mistério que se está a criar à volta de Mafalda Torres, das suas intenções e do seu passado é verdadeiramente fascinante e deixa-me cada vez mais rendida.
A evolução da relação entre Afonso, Amélia e Tiago é algo a louvar. Podemos perceber uma aproximação entre os três, não só de aprendizagem, mas de amizade. Vemos várias vezes Tiago e Amélia a confidenciar um com o outro e trocarem conselhos e Tiago a ensinar Afonso sobre os vários costumes do século XXI. Algo que ainda não vimos no ecrã e espero que aconteça nos próximo episódios é uma aproximação entre Afonso e Amélia, assim como um desenvolvimento do lado mais pessoal do cavaleiro.
Não posso deixar de dar uma nota positiva ao guarda-roupa dos atores! Existe muito cuidado por parte da produção para conseguir enquadrar muito bem as personagens na época em que estes estão, mas deixar as suas próprias roupas enquanto passeiam pelo Ministério. É possível ver, na cena final, Amélia, Tiago e Afonso com as roupas das suas épocas (no fundo, pessoas com diferentes estilos), dando forma ao facto de o Ministério ser formado por pessoas de diferentes séculos.
Por fim, uma grande salva de palmas para João Vicente! Camões é, sem dúvida, uma das melhores e mais interessantes personagens desta série e dou por mim ansiosa para que este apareça. As suas piadas, discursos poéticos e interações com as mulheres que não são seduzidas pelas suas rimas são bastante divertidos. Espero que a sua presença seja cada vez mais constante e que a promessa de uma dupla com Fernando Pessoa, uma personagem completamente oposta, não desiluda!
Beatriz Pinto