Enquanto é espancado, Elliot mergulha numa estranha hipnose alegórica dos anos 80, como se pertencesse ao enredo de uma sitcom saída de uma das temporadas de Alf. A família está toda reunida, mamã, papá, Darlene e todos eles conseguem dizer umas graçolas, mas Elliot não entende o que se passa à sua volta. Será que Mr. Robot conseguiu apoderar-se finalmente da mente do nosso herói? É certo que, quando acorda, Elliot ainda não está livre de perigo. Ray sabe que não pode perder um hacker tão valioso e, portanto, mantém-no vivo, mas não sem umas quantas pisaduras bastante feias por todo o corpo.
Enquanto convalesce, Elliot está alheio do novo plano de Darlene de invadir os servidores da E Corp. Agora com a ajuda de Angela, as coisas parecem estar bem encaminhadas, mas surgem alguns imprevistos durante a operação que podem prejudicar todo o andamento do plano. A detetive DiPierro conversa com o seu chefe, dizendo que o ataque na China foi planeado com o propósito de interromper as investigações e não propriamente de magoar alguém, algo que para os seus superiores não deve ser levado com leveza.
Alguns fãs de Mr. Robot estão a começar a cansar-se da série. “Porquê?”, pergunto eu. As respostas variam entre o “seca”, o “história muito complicada”, “perdeu carisma” até ao “não sei o que se está a passar.” Ainda que consiga respeitar que o tom da série tenha ficado (ainda) mais negro do que o habitual não deixo de nutrir uma admiração gigantesca por toda a equipa. Esta segunda temporada é ainda mais humana, mais profunda e mais fantástica. Toda a homenagem a Fight Club parece ter florescido para algo muito superior. Este episódio em particular é de uma excelência argumentativa inigualável. A realização é tão soberba que em apenas 50 minutos somos capazes de rir, de suar, de nos sentirmos enojados, com pena e sentir um carinho grande pelas personagens. Não é qualquer série que consegue obter esta proeza.
Ao testar os limites da loucura de Elliot, Sam Esmail aproxima-nos mais do que nunca deste protagonista tão desequilibrado. Para entendermos onde ele quer chegar precisamos de nos sentir também um pouco loucos. Será esta simbiose com Mr. Robot problemática? Não será que Mr. Robot é a personificação da sanidade de Elliot e que ele está constantemente a negar? Não será a fsociety uma comitiva de Ocean’s Eleven que, em vez de assaltar casinos, procura conseguir resultados em prole da sociedade? É que, a meu ver, a série continua com uma riqueza visual estupenda. Não consigo ficar indiferente perante esta criatividade magnífica de se ser tão profundo e ao mesmo tempo tão divertido.
A beleza de Mr. Robot continua a surpreender e o talento de Rami Malek não mostra sinais de abrandar. E aquela abertura vai ficar para sempre na memória. Um golpe de mestre que é tão hilariante quanto preocupante e que consegue disfarçar uma situação terrível com um humor mordaz.
Mais uma vez, um aplauso, Sam Esmail!
Jorge Lestre