Stranger Things, muito mais que uma história de monstros, horror e ficção científica, é uma série mais profunda e repleta de suspense. A série passa-se nos anos 80 e oferece-nos, se estivermos atentos, bastantes referências dessa década, tanto através da banda sonora, como através do que vai passando nas pequenas televisões e posteres que criam o ambiente de alguns sets.
Os irmãos Duffer, até aqui com um currículo curto, mostram-se ambiciosos e escrevem, produzem e realizam este festival de terror. Em termos de elenco, o único nome que salta à vista é o de Winona Ryder que, depois de muitos altos e baixos no cinema, tenta a sua sorte na TV. Confesso que estou muito curioso para assistir à evolução do desempenho dela, mas neste piloto não foi ela quem me prendeu a atenção, mas sim o grupo de jovens amigos “geeks”, Lucas, Dustin e Mike, vítimas de bullying, mas com muito para oferecer a esta narrativa. Do grupo faz ainda parte William, que após uma longa noite de jogos de tabuleiro na casa de um dos seus amigos, desaparece sem deixar rasto. Daqui nasce uma demanda em busca do paradeiro de Will, levada a cabo pela sua mãe (Winona Ryder), o seu irmão mais velho, o xerife local e o grupo de amigos. Para além destas personagens, existem outras, pertencentes as famílias dos quatro rapazes, que poderão vir a revelar desenvolvimentos interessantes, essencialmente na família de Mike, que surge como o líder do grupo.
Noutro núcleo, destaque para uma rapariga autoapelidada de Onze que parece ter fugido de algum lugar e se mostra assustada, esfomeada e frágil, mas que tem muito mais a dar do que os olhos revelam. Uma das cenas marcantes deste episódio é protagonizada por ela: depois de estar rodeada por um bando de gente armada, deixa dois fora de combate e desaparece. Mas o suspense e as dúvidas são enormes aqui, pois só nos são apresentados os resultados e é omitido o meio para esse fim.
Já estamos habituados a séries excelentes com o carimbo de qualidade Netflix. Julgo que não me enganarei muito ao dizer que está também será um sucesso. E qual é a melhor parte de ser da Netflix? O suspense pode ser saciado de imediato, uma vez que todos os 8 episódios que compõem esta minissérie foram lançados em simultâneo.
O véu só levantou um pouco neste primeiro episódio. Começa com um prólogo forte, onde as luzes intermitentes pautam o ritmo de uma cena de perseguição. As sequências de noite e terror sugerem a existência de monstros e um deles estará, porventura, por detrás do desaparecimento de Will, mas o que os nossos sentidos captam dos monstros não são mais, por enquanto, do que vultos, silhuetas nas sombras, sons grotescos, as reações de pânico das vítimas. Parece-me que é propositado para manter o suspense por mais tempo e a mim convenceu-me. Espero, no entanto, um vasto cardápio de monstros e anseio por ver se os efeitos visuais estarão à altura da boa realização e da boa banda sonora. Para já, o que vi foi um recurso inteligente e perspicaz de jogos de luz e sombra, bem articulados com a tensão crescente da banda sonora e que resultam em sequências muito bem orquestradas. Mas está tudo no começo, os indícios são bons, mas veremos o que os outros 7 episódios nos reservam.
André Borrego