Outcast – 01×02 – (I Remember) When She Loved Me
| 13 Jun, 2016

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“I love you Mom”

Outcast presenteia-nos com a continuação da construção de uma boa história. O episódio desta semana focou-se bastante no passado de Kyle Barnes com a mãe, na reação do reverendo Anderson ao exorcismo da semana passada e continuamos a aprender sobre os elementos que estão em jogo nesta narrativa.

Primeiro é preciso lembrar que, tal como The Walking Dead, esta é uma série de slow burn, querendo com isto dizer que não vão haver cenas de ação e picos de adrenalina em todos os episódios. A elaboração do enredo é um passo bastante importante nesta série e vamos acumulando bocadinhos de informação que só mais tarde perceberemos onde encaixam na história geral. Ou seja, haverá de certeza críticas que dirão que nada se passou em alguns episódios e que os produtores só estão a enrolar. Tudo isto para dizer que apesar deste episódio ter tido um ritmo mais calmo que o anterior, no final, se revimos bem, apercebemo-nos que muitas coisas se passaram.

Tal como o título nos indica, o grande centro do episódio foi o passado de Kyle, nomeadamente, a sua relação com a mãe sob o seu ponto de vista. Vemos a altura em que a mãe de Kyle era ela própria e o amava mais que tudo na vida, onde a vida tinha cor e tudo era alegria, e depois assistimos ao exato momento em que tudo corre mal e Sarah Barnes é possuída por uma entidade maligna. Daí para a frente vemos os abusos contínuos da mãe para o filho até ao momento em que ele decide ripostar e a cena final em que consegue expulsar o demónio da mãe.

“I Remember When She Loved Me” é também o nome do terceiro capítulo dos comics de Outcast criado por Kirkman e Azaceta. No entanto, se no primeiro episódio vimos uma clara adaptação do primeiro capítulo da banda desenhada, vemos agora a história a tomar uns contornos diferentes. Parece-me que teremos uma história baseada nos comics e que se seguirá por eles, mas que acrescentará muitos elementos novos, que complementará a história anterior e que poderá divergir em alguns aspetos da história original.

Como estava a dizer, vemos bastante da relação de Kyle e Sarah no passado, mas também vemos o que se passa no presente. Até ao episódio passado, Kyle nunca tinha percebido bem (e mesmo agora não percebe de todo) o que se tinha passado com a mãe e o porquê da mudança súbita de comportamento. Para ele a mãe tinha apenas virado um “monstro” que o maltratava, mas que continuava a ser ela. E depois de ela ter ficado em coma, nas palavras dele, ele tinha pensado que “nunca iria perder um minuto de sono” a pensar se o coma da mãe tinha sido culpa dele ou se poderia ser revertido ou quê. Estava livre dos abusos e a mãe tinha sofrido apenas o castigo justo e divino. Só que após presenciar o que aconteceu com Joshua tudo muda. Se os demónios existem mesmo, então o que se passou muda de figura, ele não sofreu de violência doméstica, ele sofreu de assombração demoníaca! E se Joshua voltou a ser o rapazinho que era antes, porque ficou a mãe dele em coma? Será que parte do demónio ainda lá está? E é com estes pensamentos que Kyle decide raptar a mãe do centro de cuidados médicos onde estava para repetir o ritual de exorcismo e a tentar trazer de volta.

E não foi só o Kyle que mudou com o caso de Joshua, o reverendo Anderson também teve um momento de clarividência e decide que precisa de tomar medidas e prevenir que novos casos de possessão aconteçam. É verdade que este não foi o primeiro exorcismo de Anderson e que ele já viu coisas inexplicáveis na sua vida, mas com a presença de Kyle as coisas foram diferentes. As coisas foram mais intensas, mais reais, o demónio sob a forma daquela poluição negra foi expulso de Joshua e os resultados são bem visíveis. Agora pensem vocês, se soubessem que os demónios são reais e fossem um dos “agentes” de Deus, o que fariam? Anderson decide que deve avisar a todo o custo a sua paróquia – mesmo que isso implique ser bruto, brusco e direto – de que o mal está à porta e que só indo à missa e rezando é que poderão proteger as suas almas. Só que vendo tantos lugares vazios na sua igreja decide que é preciso fazer mais, é preciso convencer as pessoas de que precisam mesmo de ir à igreja, é preciso espalhar a palavra do Senhor, e que melhor maneira do que reunir um exército de beatas? O exército de Anderson! Se, como a mim, o nome vos fez lembrar o exército de Dumbledore, a realidade está longe disso. Até as mais crentes parecem ouvir nas palavras do padre metáforas e não um relato de factos. E o que se passa com a tão grande aversão de Mildred para com Kyle? E o interesse de Patricia no reverendo? Serão tudo reações humanas normais ou estará já o exército de Anderson infiltrado de demónios?

Kyle está todo decidido a mudar a sua vida. Para além de tentar reaver a mãe, também quer restabelecer os laços com a filha e até já trocou as calças de pijama por jeans! Por intermédio de Megan decide enviar um presente de aniversário a Amber, um livro de banda desenhada (Homer Price) que Kyle lia em criança e que parece que Allison reconhece. O que será que Allison vai fazer? Irá fazer queixa de violação da ordem de restrição ou aceitar esta tentativa de contacto de Kyle? No telefonema, da semana passada, e com o presente agora, não vos parece que Allison tem a esperança de recuperar o que antes havia? Será que, tal como o passado entre Kyle e Sarah, veremos nos próximos episódios o que se passou claramente entre Kyle, a mulher e a filha?

Os laços entre Kyle e o reverendo Anderson continuam a fortalecer-se. Enquanto, por um lado, vemos Anderson a defender Kyle das acusações da polícia e dos mexericos das beatas, Kyle também confia em Anderson para tentarem exorcizar de novo Sarah. E foi muito interessante ver os dois pontos de vista, com Kyle a achar que parte do demónio ainda estava dentro da mãe, enquanto na versão de Anderson o que causou o coma de Sarah foi o demónio ter levado parte dela. Falhando o exorcismo, parece que a versão de Anderson é a mais acertada. Mas quanto de Sarah é que foi levado e será que nunca pode ser recuperado? No final vemos Sarah a verter uma lágrima, logo algo da alma dela ainda permanece no seu corpo.

O grande mistério do episódio foi-nos apresentado sob a forma de um homem velho vestido de preto, The Man in Black. Não parece ser de todo bom, mas parece ser mais do que uma simples pessoa possuída. E o que quis dizer no seu discurso a Sarah? De que forma é que eles têm o Kyle? Nos flashbacks vemos o demónio sob a forma de fumo negro a agarrar o jovem Kyle e a fazer-lhe alguma coisa, mas o que foi que realmente lhe fez?

Tivemos ainda um subplot com o Chefe Giles e Mark Holter, numa investigação bastante enigmática com animais mortos e pregados a árvores que formavam um trilho para uma roulotte abandonada. Onde se insere tudo isto na história de Kyle? Será mais uma pessoa possuída que estava a espreitar? Outro pormenor interessante nesta dupla é que Giles parece acreditar que há forças em jogo que fogem ao seu controlo e compreensão, enquanto que Mark (e também o vizinho de Kyle) nos mostram o mundo segundo a objetiva do normal e quotidiano.

Não posso ainda deixar de realçar o excelente trabalho de realização, neste episódio, levado a cabo por Howard Deutch, que consegue tão bem conjugar a cor e as luzes com os eventos do passado e os do presente, moldando-nos dessa forma o espírito, assim como muda brilhantemente as cenas de calmaria no presente com Kyle para os momentos aterradores da possessão passada de Sarah. Parabéns também para a qualidade de imagem e dos efeitos especiais, assim como a banda sonora.

E com a estreia de outro reverendo fora do normal em Preacher, para quem segue as duas séries, quem acham que é o reverendo mais irreverente: Preacher ou Anderson?

“All Alone No”, o próximo episódio, estreia na semana que vem e com uma nova possessão acho que teremos cenas de nos deixarem com os pelos em pé e a olhar para os cantos mais escuros da sala. Numa nota aparte, o filme The Conjuring 2, que estreou esta semana nos cinemas, já foi considerado uma obra-prima moderna de terror, por isso enquanto esperam pelo próximo episódio podem dar uma vista de olhos nesse filme e depois digam-me o que acharam. Até lá, cuidado com os sítios escuros.

Emanuel Candeias

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