Depois de uma estadia atribulada em França, os Frasers estão de volta à Escócia. Terra mágica esta, onde a série fundou os seus alicerces. Numa visita a Lallybroch voltamos a ver Jenny e Ian, irmã e cunhado de Jamie, respetivamente, mas esta é uma visita passageira. Jamie precisa de negociar com o seu avô, que não é um homem propriamente simpático e acessível. Quando chegam às suas terras, Jamie reencontra-se com Colum MacKenzie e parece que terá de aperfeiçoar o seu poder de persuasão para competir com o clã que precisa do mesmo que os nossos heróis: o apoio militar da Velha Raposa para levar os jacobitas para a guerra. Laoghaire também está de volta, mas desta vez perde perdão a Claire pelas atrocidades que lhe causou.
Estar de volta à Escócia, com todo o seu encanto e beleza, traz Outlander de volta às origens. É um capítulo simples, com muito blá blá blá militar e ritmo lento que volta a realçar o carisma da série e que testa novamente as fronteiras do relacionamento dos nossos heróis. É interessante a forma como o romance de Outlander é trabalhado. Não existem clichés matrimoniais, por assim dizer. Enquanto imensas séries televisivas se alimentam de constantes traições amorosas, arrufos e ruturas amorosas abruptas para projetarem o seu enredo Shakespeariano forçado, Outlander continua a manter o casal Fraser no centro das atenções, reforçando os laços entre ambos e trabalhando a relação de forma plausível e realista. Ao tomarem esta decisão, quebram obrigatoriamente a banalidade relacional dos atores, criando um elo de ligação muito forte e contribuindo para a boa receção do público.
Apesar de a temática ser densa no que toca aos projetos da revolução jacobita e tentar aumentar o entusiasmo dos espectadores em trazer velhos compinchas/inimigos para a história, “The Fox’s Lair” consegue, de certa forma, ser competente a ligar pontas soltas ou a aproveitar pequenas porções de enredo para continuar a apimentar as coisas. Melhor do que voltarmos a ver Colum e a detestável Laoghaire é, de facto, regressarmos a casa. Mesmo para aqueles que não são fãs acérrimos da série, certamente um pequeno sentimento de nostalgia parece florescer assim que vemos o primeiro plano do ambiente húmido e verde da Escócia. A paisagem é também ela personagem, como havia mencionado nas reviews da primeira temporada. Há uma ligação forte entre as personagens e o cenário, a grandiosidade e requinte franceses contrastam com a humildade e simplicidade (ainda que de uma beleza própria) da tundra escocesa. Se na França o requinte se torna arma de falsidade e pretensiosismo, na Escócia a brutalidade linguística e a fisicalidade das ações transparecem logo as intenções dos seus habitantes, que vamos conhecendo ao longo dos episódios.
Ou seja, mesmo que o episódio tenha caído numa densidade um pouco aborrecida da guerra jacobita e com todas aquelas palavras que quase não se entendem dos clãs escoceses, pelo menos traz-nos de volta às origens da série o que, por si só, é já uma mais-valia para os fãs que mal podiam ver o dia em que Jamie e Claire regressassem ao seu habitat natural. Por este esforço e pelo progresso constante em tornar o casal ainda mais unido, “The Fox’s Lair” acaba por triunfar nas pequenas coisas e pelo retorno às origens.
Jorge Lestre