Desde o início, Legends of Tomorrow tem sido uma das séries mais ambiciosas do universo da DC Comics. Depois de ter sido configurada, quer em Flash quer em Arrow, Legends, pegando no conceito de viagem no tempo, assumiu-se como uma série de super-heróis. A premissa era simples, matar Vandal Savage, um eterno vilão que vem a aterrorizar o mundo desde o antigo Egito. Embora o focus da série tenha por inúmeras vezes sido desviado, salvar o mundo deste tirano e tentar impedir a morte da família de Rip Hunter foi sempre o pensamento principal.
Esse objetivo finalmente foi concretizado na season finale. Legendary foi realizado por Dermott Downs, Phil Klemmer e Marc Guggenheim, e teve guião de Greg Berlanti e Chris Fedak. Esta semana, apesar dos nossos heróis terem regressado à força a 2016, voltaram a juntar-se a Rip, numa atitude de clara determinação. De uma vez por todas iriam tentar colocar um fim ao plano de Savage de reverter o mundo de volta a 1700 AC. Depois de resgatarem Kendra e Carter, a equipa explora uma fraqueza relacionada com os meteoritos e finalmente mata Savage, não menos do que três vezes.
Este episódio é marcado pelo passo de gigante na narrativa, que precisou de dezasseis episódios para tal, mas não só. A ação foi equilibrada, a realização esteve a um excelente nível e ainda houve tempo para um desfecho emocional, quer para Sara Lance, quer para Mick Rory, no processo de ultrapassar as suas enormes perdas. Embora grande parte do desenvolvimento da narrativa tenha sido demasiado apressado, ainda nos foram dadas pistas sobre o que vai ser a série na próxima temporada: algo muito diferente, mas com enorme potencial, Justice Society of America com a apresentação de Rex Tylor (Patrick J. Adams) como Hourman.
Foi preciso uma temporada inteira para finalmente ficarmos a saber o verdadeiro plano de Savage. Savage estava a usar tecnologia avançada enviada pelos Thanagarians para detonar cada um dos três meteoritos em três períodos de tempo diferentes. Este paradoxo temporal resultaria no colapso da timeline e a Terra voltaria ao tempo da primeira chuva de meteoritos, ou seja, ao Egito antigo, onde o nosso vilão seria governante e não conselheiro.
Depois de falharem o resgate de Kendra e Carter e, consecutivamente, matarem Savage no início do episódio, ver a tripulação ter sucesso foi realmente refrescante, o que contrasta com uma série de sucessivos fracassos durante toda a temporada. Dar a possibilidade a Sara e Mick de matar o vilão imortal foi simplesmente gratificante para eles. Finalmente puderam libertar toda a raiva que foram armazenando nos últimos episódios. Ao mesmo tempo, dividir a equipa foi também uma excelente ideia por parte dos guionistas. Kendra e Carter tiveram finalmente a oportunidade de matar de vez o seu eterno inimigo e não a desperdiçaram. Foi uma boa despedida para eles, que vão abandonar a série, mas, de uma perspetiva global, saíram sem cativar o público. E claro, o toque especial. Em contraste com o choque inicial, com uma despedida em grande, tivemos a surpresa final. Rip Hunter passou por uma experiência de quase morte, mas para um mestre do tempo, o tempo e a morte são coisas muito relativas. O facto de neste processo ter tempo para encerrar a morte da sua família também foi um belo toque no final de temporada.
Embora a ação do episódio estivesse centrada em torno do fim de Savage, o núcleo emocional esteve enraizado na dor e recuperação perante enormes perdas. A morte de Laurel Lance em Arrow, quatro episódios atrás, finalmente chegou a Legends. Após voltar a casa, Sara teve a notícia chocante da morte da irmã através do seu pai, o ex-detetive Quentin. Blackthorne e Lotz têm um historial riquíssimo em cenas emocionais e. mais uma vez, as suas atuações foram fantásticas. Não só na partilha do desgosto e no sofrimento que sentiram, mas nas razões legítimas para que Sara deixe a cidade novamente em busca de um milagre, na esperança de trazer Laurel de volta à vida.
No entanto, essa esperança, transbordando por momentos todo o ódio sentido por Laurel contra Rip, esbarrou num argumento irrefutável do líder da Waverider. Rip explica então a Sara que a sua inclusão naquela linha de tempo em particular não salvaria Laurel, acontecesse o que acontecesse. Pelo contrário, se voltassem atrás no tempo não só o destino de Laurel continuaria o mesmo, como Quentin e ela também morreriam. Eu quero acreditar que esta justificação é verdadeira, quero mesmo acreditar, mas já vimos muitas más atitudes de Rip Hunter, muitas atitudes egoístas que o tornam um capitão questionável.
Também a Mick é dado tempo e oportunidade de processar a perda do seu melhor amigo, Leonard Snart. O seu pequeno discurso a Snart, três anos no passado (ao que parece, Rip deixa Rory ir ao passado despedir-se do amigo), é perfeito, emotivo, sentido e dá-nos uma dica de como irá ser este herói na próxima temporada. Mick não quer perder mais nenhum amigo, a nenhum custo. Por outro lado, temos de levantar uma questão: não poderia Sara retroceder no tempo para se despedir da irmã?
O season finale também forneceu duas surpresas que preparam a série para a segunda temporada. A primeira é a despedida de Kendra e Carter. Após a morte do vilão, estes dois heróis vão aproveitar a recente liberdade ganha, numa qualquer linha temporal. E, de facto, a saída de ambos faz sentido, estiveram quase sempre à margem da série, apesar de serem peças-chave na narrativa da primeira temporada. Nunca ganharam o seu verdadeiro espaço, nunca encontraram o seu propósito, principalmente Carter.
A outra surpresa e, por certo, a maior, foi a presentação de um misterioso herói pertencente ao universo DC. Quando a equipa se preparava para embarcar na Waverider para uma nova aventura, Rex Tyler aparece, alertando a equipa para não entrarem na nave porque iriam morrer. Mas o mais curioso: ao que parece, foi Mick quem alertou Rex para tal facto. Tyler não é apenas do futuro, é membro da Justice Society of America e um sinal, claro, do que está para vir, não só para a segunda temporada de Legends of Tomorrow, mas para todo o universo da DC, em geral, na cadeia CW.
Ao longo da sua temporada, Legends teve bastantes problemas, enquanto se esforçava por equilibrar os múltiplos personagens com as viagens temporais e um vilão que nunca conseguiu ser verdadeiramente ameaçador. No entanto, a série conseguiu ser divertida, explorar várias épocas temporais e progrediu imenso com as narrativas dos nossos heróis, tornando-os cativantes, confiantes, emotivos. Nem sempre foi perfeita, mas quando o foi, foi excelente, e estes últimos episódios estiveram a um nível fantástico. Como o Stein diria, astonishing. Legendary foi um episódio fantástico e perfeito a todos os níveis. Amarrou as pontas soltas que ainda existiam e criou a base na qual a próxima temporada se irá debruçar.
Fernando Augusto