Um dos pontos fortes de Legends of Tomorrow é que nunca se sabe qual a abordagem que a série tomará a cada semana. Recentemente, os telespectadores foram premiados com uma visão de um futuro distópico, passando por espionagem durante a Guerra Fria, acabando num confronto no espaço ao estilo de Star Trek e Star Wars. O episódio desta semana, Night of the Hawk, mexeu novamente nessa abordagem, ou não fosse realizado por John F. Showalter (Supernatural, Ghost Whisperer, The Mentalist), dando-nos um episódio onde a equipa viajou atrás no tempo, para 1958, seguindo o paradeiro de Vandal Savage. Não foi um episódio perfeito, mas foi bom.
Eu sei que capturar o vilão e colocá-lo numa cela foi feito recentemente em Skyfall, Jessica Jones e The Avengers e não costuma acabar bem. E claro está, Vandal Savage, obviamente, não pode ser morto por razões óbvias, isso ficará a cargo, se calhar, da season finale. Mas ainda assim, os guionistas não poderiam vir com algo mais cativante para os episódios, com algo que fizesse bem ao vilão, em vez de termos estas narrativas saídas sabe-se lá de onde? Esta semana, tivemos Vandal Savage a tentar construir um exército de mutantes extraterrestres, ao estilo X-Files, faltou apenas Scully e Mulder juntarem-se à festa.
Mas sim, toda a gente já sabe que Legends Of Tomorrow tem esse problema, por isso… passando à frente. Night Of The Hawk levou-nos até 1958 e os guionistas foram um pouco mais além, abordando as injustiças sociais da época. E não poderiam tê-las feito de melhor maneira. As abordagens ao racismo, ao sexismo institucional, à orientação sexual foram mesmo um dos principais destaques do episódio.
E a cereja no topo do bolo foi a forma como a tripulação da Waverider lidou com essas injustiças sociais à sua própria maneira. Os super-heróis têm sido muitas vezes usados para explorar este tipo de temáticas nos “quadrinhos” e foi ótimo para ver Jax, Sara, Kendra e Ray continuarem essa tradição aqui.
Jax a opor-se aos adolescentes agressivos, Kendra a recusar servir a mulher de Savage e Sara a derramar o café sobre um chefe de uma enfermeira e a ameaçar constantemente assassinar Stein de forma lenta e dolorosa foi muito bom.
Por outro lado, a história real do episódio foi aborrecida, mais uma vez com Savage a transformar adolescentes em falcões do mal, usando o mesmo meteorito que deu os poderes a Carter e Kendra. Os efeitos especiais desses falcões foram bons, assim como o desaparecimento a passo dos vários jovens, mas…
O episódio teve obrigatoriamente referências a Back to the Future, mas o melhor foi o fato de a identidade Savage nesta época precisar de ser Dr. Curtis Knox. Knox era também o nome de um vilão interpretado pelo ator Dean Cain em Smallville, um vilão que era basicamente Vandal Savage em tudo, menos no nome.
Curiosamente, este episódio trabalhou bem o aspeto romântico, algo que tenho vindo a criticar e muito. Sara e Jax a fazerem conceções amorosas temporárias e a desinibirem certos circuitos internos e aqui com nota de destaque para Sara. E Kendra e Ray a clarificarem certos aspetos no seu relacionamento.
No entanto, como de costume, Vandal Savage provou ser o elo mais fraco da série. A ideia de colocar Savage como um psiquiatra de uma pequena cidade humilde e homem de família foi muito boa. Poucas coisas são mais assustadoras do que um assassino imortal a jogar o papel de anfitrião encantador num jantar. Infelizmente, Casper Crump não esteve à altura do desafio, mais uma vez. Continua a faltar a Savage aquele ponto essencial a todos os vilões: crueldade, além de carisma. A personagem de Savage é muito inconsistente e não cativa de todo os telespectadores.
Outro problema deste episódio foi o plano de Savage. Normalmente, Savage está sempre associado a algo que vai destruir o mundo ou cenários de destruição. Neste episódio, estava simplesmente a fazer experiências em jovens. Em que ponto este episódio contribui para o avanço global da narrativa? E para a compreensão do meteorito e dos poderes de Kendra? Continua a parecer que a série anda com a narrativa, relativamente a Savage, às voltas sem saber que rumo dar-lhe. De uma outra perspetiva, raramente estas viagens no tempo contribuem ativamente para a cruzada iniciada por Rip para derrubar o império de Savage.
E para terminar, mais uma vez, Kronos. Desta vez a criar estragos. No entanto será mais do mesmo, isto é um catalisador para um salto temporal ou teremos algo de novo?
Resumindo, Night of the Hawk foi um episódio agradável. A narrativa global continua algo sem rumo, no entanto a evolução dos personagens é enorme. Jax e Kendra tiveram tempo para mostrar os seus pontos fortes. O ponto fraco continua a ser os vilões. Alguns preconceitos relevantes da época mostraram-se apenas o suficiente para afetar o enredo, não sobrecarregando a atmosfera ou a premissa do episódio. E terminamos com expectativas altas para a próxima semana.
Fernando Augusto