Californication sem o factor x
Will Arnett junta-se à Netflix para adicionar mais uma nova série de comédia na lista da empresa. Criada em conjunto com Mark Chappell (My Life in Film) e com a presença de Mitch Hurwitz (Arrested Development) como produtor executivo, a série parece ter teoricamente tudo para o sucesso com uma comédia inovadora e realmente divertida. No entanto, na prática isso não acontece.
Temos também um cast sólido, com estrelas como o próprio Will Arnett como personagem principal, Chip; David Sullivan (Argo), como Dennis, o melhor amigo de Chip; Lina Esco (Cane), como Kara, a “namorada” de Chip; e Ruth Kearney (Primeval), a interpretar London, a paixão dos dois amigos. Porém, os atores não são aproveitados da melhor forma, havendo demasiados momentos em que nada acontece, e um “nada” que realmente não tem nenhuma razão específica por trás.
Ora, o problema começa com o enredo. Apostar em mais uma série com um homem branco, mal ajustado e com uma crise de meia-idade é algo que já vimos e repetimos uma data de vezes, ou seja, para cativar teria que ser mesmo diferente e revolucionária. Mas passada a meia hora do piloto uma pessoa fica com uma mão cheia de nada de história.
O que ficamos a saber: Chip é um ex-alcoólico, trabalha nem sei bem em quê, anda de bicicleta de um lado para o outro e rouba todos os interesses amorosos a Dennis, de maneira desprezível. Dennis é o melhor amigo de Chip (não sei porquê, tendo em conta que é tratado como lixo), e é um neurótico (desempregado?) que não consegue convidar uma mulher para sair sem se tornar obsessivo e pesquisar primeiro tudo sobre ela.
Kara é o antigo interesse amoroso de Dennis e agora tem um caso com Chip; apesar, de aparentemente, Kara dar menos interesse à relação que Chip, na verdade, ela parece mais interessada que ele. London é o novo interesse de Dennis, mas Chip já começou a tentar roubá-la; ah, e é uma empregada num café (a única pessoa com emprego, pelos vistos). Fiquei ainda com interesse em ir pesquisar sobre o que é kombucha (Google it).
Os pontos positivos vão para os cenários, a banda sonora, o estilo hipster de Chip – a andar sempre na sua bicicleta pela cidade, e a representação de Will Arnett. Porém ficamos por aí. Quem é fã de Californication, vai encontrar muitas semelhanças com essa série, mas ficando com a sensação que em Flaked nada acontece. Enquanto Hank só fazia porcaria, mas conseguíamos simpatizar com ele, rir das situações e às vezes ficar irritados, Chip, por sua vez, dá-nos mais uma sensação de asco com um ponto de interrogação no fim. Ou seja, isto de comédia não tem nada, se virmos a série como um drama ainda pode ser que se dê um olhar com outra perspetiva.
Um aspeto negativo que também me chamou à atenção foi o facto das personagens femininas serem todas da faixa etária dos 20 e pouco anos, parecendo que não existem mulheres fora dessa bolha. Uma ótima forma de afastar boa parte do público.
O mais interessante do episódio foi realmente o final, que é o que nos leva a considerar ver o próximo episódio, para tentar compreender os problemas e as motivações de Chip, que parece ser uma personagem mais negra e complexa do que mostra. Só que com tanta série nova sempre a sair, e com comédias da própria Netflix como Love, que também partilha algumas semelhanças com Flaked, mas que se destaca muito mais, pessoalmente não me convenceu. Quem ficar realmente interessado em Chip, que é basicamente o que cativa na série, pode sempre fazer um binge watching a Flaked e depois comentar se vale a pena.
Emanuel Candeias