Conheçam o pequeno Jimmy McGill, um rapaz simples e normal que ajuda o pai nas limpezas do seu pequeno estabelecimento comercial e que lê a Playboy às escondidas. O pai de Jimmy é um homem honesto, um senhor singelo e sempre de espírito caridoso; o problema é que certos “clientes” abusam da sua generosidade. Com isto, percebemos um pouco a conduta de Jimmy McGill e dos esquemas vigaristas a que foi sujeito desde tenra idade. Mike precisa da ajuda do nosso advogado assim que a visita do Vovô Salamanca exige que este ilibe o seu neto das acusações e que o retire da prisão. Mais tarde, Jimmy apercebe-se que não é homem de seguir ordens e gosta de ter livre arbítrio enquanto lida com os seus casos, o que o faz “forçar” o seu despedimento de Davis & Main (momentos verdadeiramente cómicos) e procurar conforto e um potencial projeto de negócio com Kim Wexler que, por sua vez, está a ponderar aceitar um novo emprego numa conceituada firma de advogados.
Better Call Saul pode não ser do agrado de todos. É uma série que nem sempre possui momentos de ação, muito menos de comédia forçada. É uma história fidedigna ao seu universo, muito porque aproxima estes protagonistas ficcionais a uma realidade plausível e adaptados às circunstâncias do ambiente que os envolve. Há uma construção fiel deste quotidiano que pode muito bem servir de espelho a um ambiente popular da sociedade americana nos anos 80 e 90. Entende-se que é necessário “agitar as águas” de vez em quando e inserir alguns twists e momentos caricatos, não fossem Jimmy e Mike os líderes da narrativa. O problema é que, enquanto não se chega lá, é preciso fazer a história crescer. Normalmente, as séries de televisão preocupam-se mais em deslumbrar o espectador pelos visuais caprichados e pelas personagens meticulosamente estudadas, dotadas de uma sabedoria fora do vulgar, mas Better Call Saul não se insere neste meio.
Todos os intervenientes da narrativa são fortemente influenciados pela sua ocupação, mas não de forma mirabolante e irrealista. São indivíduos normais e, o que vemos, não é mais que um retrato ficcional de uma vivência diária de como eles agem. Com isto, procuro dizer que o aspeto “fascinante” ou que nos deixa maravilhados, aqui, reside no extraordinário argumento que torna este capítulo de Breaking Bad numa pérola no meio de tantas séries que são produzidas hoje em dia. A forma como as personagens embelezam a história, conferindo uma credibilidade fora do normal à temática, é absolutamente genial e sentimos que o que vemos é uma espécie de hipotética ao que pode estar a acontecer lá fora enquanto nos encontramos no conforto do lar.
Em suma, “Inflatable” continua a elevar a jornada de Jimmy McGill a um patamar superior, onde tudo o que vemos é reflexo da qualidade destes contadores de histórias que, ao contrário daqueles que inventam, estão aplicados em explorar todas as vantagens que têm a seu dispor. Desde os atores (em especial os colossais Bob Odenkirk e Jonathan Banks), à banda-sonora, à fotografia, aos cenários. Tudo é aproveitado pela câmara e nada é desperdiçado.
P.S.: Até o guarda-roupa no episódio foi uma pequena homenagem às cores da cultura pop e, até isso, resultou às mil maravilhas para proporcionar momentos de verdadeiras gargalhadas.
Jorge Lestre