Jimmy McGill fez das boas! Depois de ter feito um anúncio e lançado para um canal de televisão nas costas dos seus chefes e parceiros de Davis & Main, o advogado vê o seu recente emprego em risco de desaparecer. O mesmo se pode dizer da relação com Kim, já que resolveu mentir-lhe e ninguém melhor para tirar satisfações do que o seu irmão Chuck. Mike recebe uma nova tarefa de Nacho, que quer deixar de trabalhar para o gangster Tuco (um conhecido nosso das primeiras temporadas de Breaking Bad). O problema é que Mike está a mudar os seus hábitos e prefere ajudar Nacho sem recorrer à morte seja de quem for.
Better Call Saul continua a presentear-nos com episódios fenomenais onde o desenvolvimento de personagens continua em alta e a escrita alucinante. Se a astúcia em manter a história em constante rebuliço coloca as morais das personagens em cheque, já o trabalho dos atores é ainda mais complexo e trabalhoso. Nota-se que há uma dedicação incrivelmente íntima de Bob Odenkirk e Jonathan Banks, que alimentam e dão vida a esta história negra contada em diferentes cores. As relações humanas, levadas a um extremo plausível, tornam-se motivo de destaque, uma vez que permitem aos argumentistas jogarem com o fio cronológico de Breaking Bad.
Em “Gloves Off”, esta dupla de veteranos tem novos desafios. Estes desafios passam por articular diferentes estados de espírito em situações de extremo desconforto psicológico e também físico. O momento de Mike no restaurante mexicano é absolutamente vertiginoso e é filmado com um silêncio particularmente inquietante. Já as cenas de Jimmy mostram a habilidade de Odenkirk em saltar de um tom sarcástico para o revoltado sem que essa mudança seja demasiado drástica e que faça perder a força das cenas. Tudo em Better Call Saul é estudado ao pormenor, muito porque sem isso não haveria um realismo necessário e que consiga acompanhar o grau de qualidade da sua série-mãe.
O certo é que este spin-off mostra-se tão ou mais grandioso que Breaking Bad. Ter uma equipa de argumentistas talentosos e atores colossais da televisão torna Better Call Saul e, em específico esta 2.ª temporada, num dos melhores exemplos de televisão dos últimos tempos. Há um nervosismo estranho que nos envolve diretamente no quotidiano destas personagens. Há uma empatia entre fãs e produto televisivo e há um crescimento gradual de todo o universo que rodeia esta epopeia de Vince Gilligan.
Para aqueles que ainda tinham dúvidas do potencial da série, “Gloves Off” prova precisamente que o blá blá blá é compensado com cenas extraordinárias de ação e suspense sem recorrer a elementos sensacionalistas ou de horror. Portanto, fica aqui o conselho para o que pode ser um dos melhores episódios da semana.
Jorge Lestre