O advogado mais vigarista dos EUA está de volta num episódio fantástico. Note-se que a série vive do seu argumento fugaz, de uma audácia extrema no cuidado das personagens, de uma normalidade incrivelmente realista no contexto em que se insere.
Se Breaking Bad estudava as suas personagens de forma gradual, Better Call Saul não foge à regra. Em “Cobbler”, de argumento assinado pela colaborada habitual Gennifer Hutchison, Jimmy continua a colaborar no caso da Sandpiper (que foi o objeto principal na primeira temporada da ascensão do protagonista), mas Chuck, seu irmão, descobre que Jimmy está, de facto, a progredir na carreira e não consegue esconder a sua curiosidade. A relação com Kim também tem melhorado o aspeto pessoal do nosso adorado advogado, ainda que ele seja chamado para salvar as costas de Mike. Ehrmantraut está preocupado com o seu antigo empregador, o farmacêutico Daniel Wormald, que resolvera melhorar o seu estatuto de vida ao comprar uma viatura espampanante que funciona como um espelho para ser-se declarado criminoso. Mike volta a ajudar o farmacêutico pouco experiente, resgatando os tão valiosos cartões de basebol que Nacho havia roubado, mas a polícia tem um interesse invulgar no farmacêutico, desconfiando que este poderá estar associado a alguma ilegalidade.
Better Call Saul regressa de forma brilhante, onde as personagens e o argumento estão lado a lado. É a prova de que não é necessário muitos artífices digitais para se criar momentos soberbos. Desde a solidão de Chuck – que, note-se, continua a “sofrer” de hipersensibilidade eletromagnética – até à honestidade no campo das relações humanas, Better Call Saul é um estudo profundo de personagens diversificadas que contribui para um enriquecimento notório da televisão como conceito. Este spin-off de Breaking Bad, que resgata duas das suas mais carismáticas personagens secundárias, prova estar ao mesmo nível da série que lhe deu origem, bem como traz um carisma próprio que está patente na destreza dos seus argumentistas.
Há um humor inteligente, uma exploração das personagens na sua totalidade, onde o espectador vai gradualmente conhecendo as facetas mais ocultas destes vigaristas que são tão humanos que nos faz esquecer que são personagens ficcionais. “Cobbler” é um engenhoso exemplo de televisão, que retira o que de melhor tem dos seus atores, leva a história a um ritmo interessante e não apressa o desenvolvimento dos intervenientes da ação, permitindo a criação de uma empatia segura entre eles e o público que os observa.
Se Bob Odenkirk e Jonathan Banks dispensam apresentação, já Rhea Seehorn era desconhecida entre nós, mas sem dúvida que a sua prestação tem vindo a crescer, já para não falar de Michael McKean (Chuck McGill) que continua a agarrar com firmeza o seu papel.
Assim sendo, o que nos reservará o resto da temporada? Não quero spoilers porque isto promete!
Jorge Lestre