Jimmy McGill está de volta! E a saudade não podia ser maior. O advogado mais vigarista do universo televisivo decide tirar umas curtas férias do ramo e, com isso, a relação com a sua colega Kim parece ter tomado um rumo. Enquanto Jimmy se diverte com as suas novas aventuras, num tom mais recente (ironia para o preto e branco utilizado na filmagem), Saul Goodman tenta ajustar-se à sua nova vida.
Já Mike despede-se do seu novo “trabalho” como segurança do funcionário farmacêutico Wormald, que parece ter-se esquecido da discrição do tipo de situações em que se envolve, comprando um jipe espampanante que qualquer polícia num raio de 5 km acharia suspeito. Mas Mike continua o mesmo de sempre, o bandido sensato, o veterano criminal que conquista todos com a sua postura autoritária e sorrisos escassos. E, como não podia deixar de ser em véspera de São Valentim, “love is in the air” e Jimmy reata com Kim, acrescentando uma pitada essencial de cumplicidade entre personagens aparentemente desconexas.
Depois de rejeitar a oportunidade de garantir um emprego seguro na área da advocacia, Jimmy tem que refletir na sua vida. Para quê trabalhar de forma justa e dentro das conformidades da lei quando se consegue obter muito mais dinheiro através da ajuda a criminosos? Deixa qualquer um a pensar. Mas Jimmy não é um advogado qualquer, como já sabemos. Fica no ar a questão que deve ser saboreada ao longo do episódio.
Thomas Schnauz, que é um colaborador já conhecido da série, traz-nos um episódio inicial muito divertido, mostrando que Better Call Saul se consegue desprender da fórmula mais pesada de Breaking Bad, continuando a realçar a tonalidade cómica do seu protagonista, bem como a incutir algumas vertentes de história interessantes e um humor mordaz que nos conquista do início ao fim. Aqui não interessa quem é melhor que quem, não interessa quem é justo ou quem é vigarista, o que realmente importa é a forma como o enredo vai construindo a sua história através das performances magníficas de Bob Odenkirk e Jonathan Banks, colocando-os em posições fantásticas que completam as suas curtas vidas na série-mãe de Vince Gilligan.
E aqueles momentos icónicos, como o salão de beleza que é a entrada do “escritório” de Jimmy, onde as cabeleireiras vietnamitas se chateiam com a “lata” do mesmo, ou o sair do parque de estacionamento com os ensinamentos de Mike, continuam a trazer a Better Call Saul um carisma único e fiel às suas origens. E, para um fã, quer duma, quer doutra série, a nostalgia torna-se uma constante.
Jorge Lestre