Esta review pode conter spoilers!
Para os amantes das artes marciais, Into the Badlands vai ser a série de eleição durante as próximas semanas. Esta é a nova aposta da AMC (The Walking Dead, Mad Men, Breaking Bad) e promete ser, em certa parte, uma lufada de ar fresco no espectro televisivo.
A história é vagamente baseada num conto chinês do século XVI, Journey to the West, e situa-se num futuro pós-apocalíptico, tal como tantas outras histórias que abundam no cinema, televisão e literatura. A série foi criada pelas mesmas mentes que estiveram por trás de Smallville, Alfred Gough e Miles Milla;, tem como produtora executiva Stacey Scher, a produtora de Quentin Tarantino; é protagonizada por Daniel Wu e ainda conta com Huan-Chiu Ku (O Tigre e o Dragão, Kill Bill) como coordenador de artes marciais. De facto todos estes nomes envolvidos num só projeto faz elevar muitíssimo as expectativas de qualquer pessoa que esteja interessada em ver algo de qualidade. Será que isso se aplica a Into the Badlands?
O episódio piloto começa com uma explicação sucinta do contexto da narrativa. Após várias guerras, sete barões feudais restabeleceram a ordem e ofereceram proteção às pessoas em troca de servidão. Cada barão criou o seu exército de Clippers (assassinos) que foram ensinados a partir de uma idade muito tenra a obedecer os seus barões e a protegê-los. Sunny, o nosso protagonista, é um desses Clippers e prometeu a sua lealdade ao Barão Quinn (Marton Csokas).
Um dos problemas que eu encontrei neste episódio piloto foi a quantidade de clichés que a história apresenta, particularmente em dois elementos: Sunny e M.K. (Aramis Knight). O protagonista, Sunny, é um dos Clippers mais temidos das Badlands, mas, como era de esperar, tem no seu interior uma bondade escondida e um desejo de abandonar o seu barão e aquela terra em busca de algo melhor, embora não exista nada para além das Badlands, supostamente. Visto que se trata do personagem central da história, teria sido melhor se não fosse tão previsível. M.K. é um jovem que Sunny encontra após uma luta com um grupo de nómadas que atacaram mercadoria do seu barão por ordem da baronesa The Widow (Emily Beecham). Este rapaz é bastante cobiçado pela baronesa, mas nem o próprio, nem Sunny, nem o barão Quinn, sabem porquê.
E eis que chega o maior cliché de todos: pelos vistos M.K. tem capacidades sobrenaturais, que o tornam num lutador ainda melhor que Sunny, mas só são despertadas quando ele sangra. Sinto aqui alguma falta de originalidade e desilude-me um pouco esta ideia de “O Escolhido” destinado a grandes feitos que estão a incutir no personagem. Mas o maior problema que encontro aqui é que esta caracterização de M.K. torna-o bastante desinteressante, pois parece que sem este fator sobrenatural, não há nada que se consiga aproveitar nele.
Como é óbvio, estes não foram os únicos clichés que encontrei na história. Temos também um barão poderoso, Quinn, cuja família conspira contra ele e temos os restantes barões de Badlands a prepararem possivelmente uma cilada para derrubarem Quinn (quando na verdade não parece ser uma grande ameaça). A única exceção que detetei nesta narrativa foi a personagem The Widow. Para além de ser bastante intrigante, acredito que vai oferecer uma maior dinâmica à história, nem que seja pelo facto de ser uma mulher poderosa (embora os restantes barões ainda não o tenham percebido) num mundo dominado pelo sexo masculino.
Terminada a análise à parte menos boa do episódio, passemos agora para os elementos fortes do primeiro episódio de Into the Badlands! A série da AMC foi sempre apresentada como uma série de ação, que se iria focar em lutas e nas artes marciais. Assim, penso que não havia melhor maneira de começar o episódio do que com um cartão de boas-vindas onde a série mostra o que de melhor tem para oferecer: lutas intensas e bastante elaboradas. Essa será sempre a maior vantagem de Into the Badlands e o aspeto central da série. Por esse mesmo motivo podemos ignorar um pouco os clichés que vamos encontrando na história, pois Into the Badlands é, acima de tudo, uma série de entretenimento e, acreditem, as lutas vão compensar bastante os tempos mortos do episódio.
Neste piloto temos essencialmente duas grandes lutas, ambas protagonizadas por Sunny, magnificamente bem coreografadas por Stephen Fung. Por norma eu fico sempre um pouco irritada com séries que se dizem de ação e luta, mas que depois de luta não têm quase nada, fingem que têm. Como? Tentam camuflar a intensidade e rapidez dos movimentos dos combates com uma câmara irrequieta, digamos assim, e planos muito curtos, onde nunca temos oportunidade de ver nada no seu todo. Em Into the Badlands faz-se exatamente o contrário. Para além de termos planos mais longos, eles são também mais gerais, permitindo que o espectador acompanhe adequadamente toda a luta, desde o combate individual (Sunny vs. adversário), ao combate de grupo (Sunny vs. vários adversários).
Embora eu tenha apontado alguns aspetos mais negativos acerca deste primeiro episódio, não quero de maneira nenhuma passar uma ideia errada da série. Sim, a história tem clichés, mas eles podem muito bem evoluir para algo melhor (afinal, este é só o primeiro episódio). O importante é perceber que Into the Badlands não foi uma série pensada para ser um drama complexo e profundo. Não vamos ter aqui nenhum Mad Men, nem nenhum Breaking Bad. Teremos, contudo, uma série de ação e luta épica e uma grande ode às artes marciais que mantém o legado de Bruce Lee bem vivo!
Filipa Machado