A fuga de Alex Parrish continua num novo episódio de Quantico, onde as emoções estão ao rubro para descobrir quem é realmente o potencial bombista que a culpou pelo seu crime. Na Academia, algum tempo antes, os recrutas recebem uma nova tarefa: traçar o perfil psicológico uns dos outros de forma a evidenciar e estreitar as personalidades de cada um, trazendo os segredos mais impuros que escondem à tona.
Enquanto que Alex e Shelby se debatem com acusações ferozes uma à outra, Ryan e Simon confrontam as primeiras impressões que têm um do outro e que não são propriamente simpáticas. Nisto, Nimah e a sua irmã gémea discutem as qualidades e os defeitos da sua “simbiose”, em se tornarem a mesma pessoa durante o treino. Até mesmo os chefes do FBI trazem algumas novidades sobre as suas vidas, o que acrescenta ao público mais um mistério por resolver.
Resumindo, em “Cover”, os mistérios que estão envoltos nos segredos e nas desconfianças de cada membro são expostos a uma luz que procura ser conclusiva o suficiente para manter o espectador fixado na narrativa. Ficamos a conhecer a mãe de Alex, que é questionada sobre o paradeiro da filha aquando do recente atentado em solo americano, e vemos uma atração florescer entre Caleb e Shelby.
Ao progredir com o seu enredo, Quantico vai perdendo alguma consistência narrativa pelo simples facto de que, em vez de conduzir o espectador a conclusões, vai incutindo cada vez mais dúvidas, contaminando a história com mesquinhices desnecessárias para a evolução do argumento. A realização primária também não ajuda a série a subir a um patamar de referência que tanto necessita para receber o carinho e aceitação do público. Aliás, é a infantilidade destas inseguranças argumentativas e o constante acréscimo de novos “segredos” que levam o público a questionar-se se valerá a pena continuar a ver a série. Isto porque Quantico quer chegar a um ponto, mas dá voltas e voltas ao quarteirão para lá chegar.
Por muito que a contrução de personagens procure evoluir, o guião espalha-se por tentar colocar demasiada informação em 40 minutos, fazendo com que as imagens percam um certo realismo. Apesar disto, o elenco esforça-se por criar empatia mesmo que, em muitos dos casos, não seja bem-sucedido. É em Priyanka Chopra que as atenções e as câmaras se viram para trazer alguma paz e credibilidade ao frenesim inconsistente da história. A atriz continua a mostrar que é feita para papéis do género, ainda que veja a sua personagem cair numa plasticidade fútil e superficial.
Nem mesmo os mistérios que são lançados ao longo dos 40 e poucos minutos de episódio parecem ter sido trabalhados convenientemente. Veja-se os casos particulares de Alex ter dúvidas em relação ao passado do seu pai e da sua própria mãe ser facilmente convencida de que a filha é uma terrorista sanguinária. Mesmo a postura de Simon Asher, que “roubou” o protagonismo neste episódio, nunca parece seguir um rumo e nunca deixa o espectador a duvidar das suas intenções. Ou seja, ao contrário de Chopra, o resto do elenco também não é suficientemente talentoso para nos cativar nas constantes “surpresas” que vão surgindo ao longo do episódio e, embora tenha procurado arranjar uns minutos para tentar lembrar-me dos nomes dos personagens, nenhuma delas parece convencer-me de que são capazes de guardar segredos, muito menos serem selecionados para a Academia do FBI. Numa série que exige um mínimo de seriedade, Quantico caminha para um estatuto medíocre e sem grandes feitos a nível de televisão.
Jorge Lestre