Baccarat com cartas Uno e vírus fortes o suficiente para abater Genghis Khan… apenas um dia na vida de um “agente” do FBI.
Limitless está a tornar-se uma das maiores atrações entre as séries que estrearam. O piloto foi bom e deu para captar a atenção, mas para alguns teve um gostinho amargo, não só devido à grande semelhança com o filme, mas também pelo receio de não vir a trazer grande novidade e de ser apenas mais uma série com casos da semana. No entanto, este último episódio excedeu as expectativas e foi completamente hilariante.
De certa forma, temos na mesma um caso da semana, mas o desenvolvimento deste é bem equilibrado com a história principal. Gostei de ver que a família de Brian não foi posta de lado e vai estar, de facto, presente ao longo da série. O que dá um toque mais emocional à história e nos leva a gostar ainda mais do personagem de Jake McDorman, já que se vê que este é motivado a fazer o bem pela família. No jantar de família, Brian arrasa no Trivial Pursuit e, ao contrário do que é costume, é ele a dar conselhos ao resto da família, mas como ele diz, para a próxima tem que ser mais cuidadoso, pois suspeitas podem aparecer. E é o que acontece com o pai, Dennis, e o conflito entre mentir ou contar a verdade traz um lado mais pessoal, pois vê-se que Brian não quer desiludir o pai e quer, acima de tudo, que este se orgulhe dele. “I am not going to play along when you’re lying to me.”
No entanto, o grande trunfo deste episódio foram os momentos de humor, que tornam a série muito mais leve que o filme e a destacam dos outros tipos de séries criminais. Desde a 1.ª cena, com Brian a imaginar a sua nova vida no FBI como um filme de James Bond, em que está num casino, de tuxedo, a jogar baccarat; as marionetas de “Mike and Ike” e os mirabolantes planos de fuga (em conjunto com o seu “clone”) a estes dois “gorilas”; a cena em que Brian vai ser despedido com a música de fundo “You’re fired! Suplex, suplex, suplex backbreaker”; o facto de no meio de resolver os seus casos ainda consegue conhecer pessoas no autocarro e lhes dar conselhos “And I met some cool people on the bus!”; até o pormenor do soundtrack que ele acrescenta aos vídeos das câmaras de vigilância; tudo isto ajudou a um episódio muito agradável, e fez lembrar o estilo de Chuck e os personagens de John Dorian em Scrubs ou Andy Dwyer de Parks and Recreation’s.
Esperemos continuar a ver presente este tipo de comédia nos próximos episódios. Não esquecendo a banda sonora e as animações, que também são fantásticas e ajudam muito a criar o ambiente, esta semana tivemos a novidade também do opening da série, cuja música, do estilo electrónica, fica no ouvido.
Em relação ao caso em si, a verdade é que o trabalho no FBI não é bem como Brian imaginava. Basicamente é enfiado num gabinete cheio de ficheiros, num trabalho como consultor, em vez de agente de campo, e é examinado vezes sem conta devido à misteriosa resistência que este tem ao NZT (cumprimentos da injeção fornecida por Eddie Morra no episódio anterior, e que vemos em flashback). Mesmo enfiado num gabinete, isso não é obstáculo para o homem mais inteligente do mundo e Brian, sob o efeito de NZT, consegue desvendar a identidade de um bombista procurado e uma conspiração empresarial envolvendo um vírus genético específico para a prole de Genghis Khan (diga-se que mesmo o enredo para o crime foi bastante original).
É interessante como vemos ainda que Brian, mesmo sem estar sob o efeito da droga, embora mais lento, ainda consegue ser útil. A equipa produtora está realmente empenhada em fazer com que o público goste e se ligue ao personagem.
A dinâmica entre Brian e a Agente Rebecca é mais um dos pontos fortes, dá-nos um ponto de foco e permite-nos sentir a história através dos personagens (será que irá haver romance entre os dois?). O Agente Boyle surge como a parte céptica, que considera que o papel de Brian é irrelevante, mas ainda pouco sabemos sobre este personagem.
O final foi de deixar água na boca. Eddie Morra não está para brincadeiras. Apesar de continuarmos sem saber quais os seus planos e até quando lhe será útil Brian trabalhar no FBI, a presença dele é sentida pela enfermeira contratada (Sipiwe Moyo) para espiar e deixar Brian na linha (terá a pesquisa de Brian no computador levado a esta ação?; e Eddie, que no episódio anterior aparece como um salvador, nesta semana já dá mais um ar de possível vilão).
Em suma, Limitless em dois episódios conseguiu já trazer mais brilho que o filme (e o filme foi genial!) e abriu as portas para futuros desenvolvimentos muito interessantes.
Emanuel Candeias