06×22 – I’m Thinking Of You All The While
[contém SPOILERS]
É difícil em medida mais que suficiente dizer adeus a um personagem regular desde o início da história…mas por onde sequer começar quando o personagem, com todo o mérito, se encaixa na definição de protagonista? Como é que a história se desfaz dele? Como é que continua? À segunda pergunta, só a sétima temporada de The Vampire Diaries poderá responder. Contudo, a primeira tem vindo a ser respondida nos últimos episódios. Em especial neste finale e de forma exímia!
Elena Gilbert. A série televisiva pode chamar-se The Vampire Diaries, por virtude ou defeito de ser o nome da série de livros em que se baseia, porém foi Elena, a humana, que nos introduziu ao mundo fantástico de Mystic Falls. Existe um certo não-gostar da personagem, que foi crescendo à medida que a série foi avançado. No entanto, ela é e sempre foi importante.
Elena Gilbert, uma adolescente fraturada pela morte dos seus pais, é atirada para um caos mitológico de vampiros e outras criaturas fantásticas. E, como se a sua identidade não estivesse abalada que chegue pela perda, até a que a definia como “normal humana” foi deitada por terra quando descobriu que era uma doppelgänger. Este foi, aliás, o ponto fulcral do enredo durante a segunda e terceiras épocas, precisamente a altura em que TVD esteve no auge da sua qualidade.
Todavia, por entre toda a loucura, Elena Gilbert, a humana, foi o nosso ponto de referência com o resto da história, o nosso ponto de identificação. Entre as criaturas fantásticas e poderosas que a rodeavam, querida pelo seu sangue de doppelgänger, a determinada altura até pela sua vida para ritual de sacrifício, ela preferia sacrificar-se a ver os amigos sofrerem. Na sua fragilidade existencial como pessoa e como “espécie”, ela era forte; heroína da história por mérito absoluto.
As coisas conduziram-se para uma vereda diferente quando no final da terceira época a Elena se tornou vampira. The Vampire Diaries tornaram–se, em facto, os diários de uma vampira. No entanto, Elena Gilbert, a vampira, não foi tão envolvente como Elena, a humana. Mesmo com a resultante maior maturidade que foi possível no enredo, a ausência de fragilidade, ironicamente, acabou por ser o ponto frágil da série [e aqui mais uma razão pela qual o ressuscitar do Jeremy foi das piores coisas que o argumento fez, já que a fragilidade da Elena na altura foi completamente anulada depois].
Independentemente disso, para o bem e para o mal, a Elena tem sido o âmago da história. Então, como se manda embora tal personagem? COMO? Sendo totalmente fiel ao personagem, parece ter sido a resposta da Julie Pec, a argumentista. Parece ser uma resposta bastante simples, não é verdade? Mas é um facto que em muitas séries quando personagens maiores ou menores partem, fazem-no atabalhoadamente, seja com mortes surpresa ou viagens sem grande sentido (basta ver o Jeremy na própria TVD).
Porém, a Elena recebeu a despedida que toda a sua história a fez merecer. O primeiro passo foi devolver-lhe a condição de humana à Elena, pois foi como humana que a conhecemos e desde o início que era humana que ela queria ficar. Perseguir esta ideia narrativa não foi sem tropeções, já que de forma inevitável envolveu interliga-la à relação com o Damon. E como tal, os movimentos argumentativos passaram por criar uma situação de “Será que ficam juntos? Será que não? Será que a Elena toma a cura? Será que o Damon a toma com ela?”. O grande problema em seguir esta linha de enredo foi a informação vindo do mundo real. Nós há muito já sabíamos que a Nina Dobrev ia abandonar a série e o Ian Somerhalder não. Assim, não havia real tensão nem jogo de apostas, de antemão sabíamos que a Elena e o Damon não ficariam juntos.
No episódio anterior, “I’ll Wed You In The Golden Summertime”, levei com alguma surpresa o Damon terminar a indecisão da cura e decidir de forma irredutível tomá-la. Menos surpreso, vi no final do episódio a Elena a ser atingida pela explosão causada pelo Kai. Julguei tratar-se da tal morte chocante que utilizariam para se livrarem da personagem. Mas a Julie Pec foi bem mais requintada que isso e escreveu o nosso vilão favorito dos últimos tempos a colocar um feitiço na Elena e na Bonnie. Enquanto a Bonnie permanecer viva, a Elena ficaria adormecida. Brilhante! Um feitiço tão retorcido e maquiavélico que só mesmo o Kai para se lembrar! É um feitiço completamente cruel porque envolve que ele o tenha feito perfeitamente ciente não só da relação do Damon com a Elena, mas também a amizade entre ele e a Bonnie. No entanto, falhou-lhe algo fatal, o que o Damon e a Elena têm, pode esperar uma vida. Neste caso, a vida toda da Bonnie. Por isso, ao invés de deixar a Bonnie morrer, como o Kai esperava, o Damon cortou a cabeça ao Kai!
Ao longo do episódio, além de toda a malvadez do Kai, tivemos várias cenas com a Elena e os outros personagens. Ao início não sabemos bem o que se está a passar. Sabemos que são os momentos finais, mas só depois do Kai ser removido da pintura é que nos é revelado que os personagens estão a imergir nos pensamentos da Elena Adormecida e que estão a dizer os seus “Adeus” para uns e “Até daqui a uma vida” para outros.
Uma despedida que gostei em particular foi a Elena finalmente agradecer à Bonnie todos os seus sacrifício e dizer que, FINALMENTE, é a sua vez de se sacrificar por ela. Recordando o momento da primeira época, a Bonnie faz penas flutuarem no ar, com magia.
Na despedida do Matt, encorajo-o a perseguir o seu sonho policial e na do Alaric, confortou-o da perda, uma palavra que a Elena percebe tão terrivelmente. Ao Tyler, disse-lhe para abraçar a sua natureza de lobo. Com o Stefan, apropriadamente, recorda o sítio onde lhe disse que não queria ser vampira e, juntos, encerram a história de amor que houve entre eles de forma definitiva, mas reconhecendo-a e respeitando-a. E, finalmente, o Damon. Acabámos com o Damon e a Elena a dançar, remetendo-nos àquele momento na primeira época que tanto pesou nos sentimentos entre ambos. Foi lindo. E foi perfeito.
A Elena não morreu. A Elena não partiu por razões absurdas. Ela está viva. Ela está à espera. Como disse à Bonnie, “We’ll both get everything we want. We just can’t have it at the same time.”. É um final agridoce, mas feliz. Seja como for que TVD continue, seja como for que TVD termine, a Elena teve e terá o final que merece. Isto é importante. E, tal como com muitas outras coisas em TVD ao longo do seu curso, outras séries deviam tirar notas.
Outras coisas:
– O Tyler também não vai voltar. No entanto, a sua despedida foi algo descolorada pela despedida da Elena. A retoma da sua maldição de lobisomem matando a Liv foi trágica e uma das coisas mais chocantes de TVD.
– Ficámos mesmo sem Kai? Morreu mesmo? Porque é que o Damon nunca fez aquilo com…bem, toda a gente? Os Heretics são os vilões da sétima época, portanto.
– O cliffhanger foi uma visão do futuro de Mystic Falls. O que diabo aconteceu???? E o Damon é o Batman agora?
– O discurso do Stefan para a Caroline no final do episódio foi tão bom! Steroline na próxima temporada!!
Nota: 9.9/10
Gostei imenso de fazer as reviews de The Vampire Diaries ao longo desta temporada. É-me uma série muito especial, por muito que a sua qualidade esteja a tornar-se algo semelhante a uma montanha russa de episódio para episódio. Infelizmente, não voltarei para a sétima temporada, já que as reviews não tem acessos que o justifiquem. A quem me leu, um obrigado. Espero que tenham gostado.
André F Dias