[Contém SPOILERS]
Ai cristo! Foi tão bom, isto!
Como já sabem por estas alturas, eu sou algo picuinhas com os episódios e geralmente dou notas com que muitos discordam. Mas eu faço isso porque episódios destes estão no reino da possibilidade! “Mama’s Here Now” foi, sem margem de dúvida, o melhor episódio de How To Get Away With Murder desde o piloto. Boas a excelentes interpretações, os diálogos especialmente afinados, um avanço significativo na narrativa e também trabalho de personagem! Tivemos tudo! E mesmo que nem todos pensemos no episódio nestas especificidades, sentimos! Porque sentiram o quão bom foi o episódio, certo? Todo o episódio de início ao fim em “Oh my god! Oh my god! Oh my god!” com muito “O quêêêê?” pelo meio e ainda espaço para soltar uns “Awww!” ADOREI!
No final do episódio passado, “She’s a Murder”, a Annalise Anna Mae telefonou em desespero a chamar mãezinha. Eu não andei a ajudar os homicidas do meu cônjuge nos últimos tempos, mas certamente que me consigo identificar com o sentimento de querer um pouco de colo de mãe após uma dose de circunstâncias de vida duvidosas. Foi por isso com muita expectativa que eu aguardei por este episódio, que ao trazer a mãe da Annalise prometia muito trabalho emocional na personagem. Foi tudo o que esperava e tão mais!
Cicely Tyson interpretou o papel de Ophelia, a mãe da Annalise e foi absolutamente brilhante. Cada momento de contracenação com a Viola Davis foi enleante! Desde o início que nos temos interrogado acerca da ambivalência da advogada. “Mama’s Here Now” puxou a cortina para nos mostrar a fratura entre as Annalises. Não só, a Ophelia também nos ofereceu a justificação da relação entre o Sam e a Annalise, uma das coisas mais estranhas que a série tinha. E ainda nos esclareceu de vez que realmente há algo entre a advogada e o Wes! Dito assim, até se poderia dizer que a personagem de Ophelia foi um mero vetor de entrega de informação e esclarecimento de narrativa. Mas a escrita e a representação da mesma por parte da Cicely Tyson ofereceram-nos uma personagem significativa que se tornou mais que isso.
Aquando do telefonema em “She’s a Murder”, esperava que a mãe que aparecesse fosse uma mulher de força como a Annalise, que a viesse levantar do chão com a sua personalidade, calculava eu, otimista e cheia de apoio para dar. Mas esta relação afinal era uma ponte sob a qual as águas que corriam eram mais enlameadas do que pensei.
Logo desde a primeira cena existe uma tensão entre mãe e filha. Somos levados a acreditar que a Ophelia censurar as escolhas de vida da filha é a maior causa desta tensão. E que apesar disso mãe é mãe e mesmo que a filha tenha assassinado o marido, não a deixará de amar por isso (“You can tell mamma. God is the only judge.”). Contudo, havia mais; algo que, ao que parece, até à data nunca havia sido expressado entre mãe e filha e que, dada a recente pressão, a Annalise não conteve mais: quando era criança foi violada pelo tio. Violação por si só é horrível, mas a Annalise desconfiava que a mãe sabia do que o tio tinha feito. E que se tinha remetido ao silêncio. Quão dói quando alguém que amamos fecha os olhos ao que nos magoa? Quão dói quando essa pessoa é também a que é suposto amar-nos mais que tudo, mais que qualquer outra? Quão fragmentador pode então ser isto, quando se é criança e fica sem qualquer resolução ou suavizador durante uma vida? E foi aqui que entrou o Sam, que foi psiquiatra da Annalise e por isso sabia do trauma que ela passou. Aqui, a razão de ser da relação entre os dois ficou um tanto clara. O que havia entre os dois era provavelmente uma relação de codependência. Por defeito de personalidade e profissão o Sam precisava de algo para “arranjar” e a Annalise era o “objeto” perfeito. Já a Annalise que se sentia precisamente quebrada, avariada, precisava de “manutenção” constante. (Sabendo isto, desafio-vos a relembrar o que o Sam, perfeitamente consciente da Annalise ter sido violada, disse na cena de discussão com a Annalise no episódio nove).
Todavia, ignorou realmente a Ophelia a dor da filha? Ela própria também vítima de violação, remeteu-se a isso? Não. O que a Annalise não sabia e que a mãe finalmente revelou foi que o incêndio que lhes consumiu a casa de infância e em que o tio violador morreu, não foi mero acidente. Foi ação sua! Uma história poderosa entregue de forma igualmente poderosa e muito competente por parte de HTGAWM.
Da parte de Ophelia-Annalise estamos conversados, mas houve mais a tornar o episódio bom. Nomeadamente o caso da semana. Sim! Eu estou a elogiar o caso da semana! Porque esta semana merece. Primeiro porque a temática se intrincava com a história da Annalise e segundo porque serviu para foco e desenvolvimento da personagem Bonnie.
No caso desta semana, uma enfermeira foi acusada de ter violado um homem inconsciente nas urgências. Ela sendo uma rapariga não particularmente bonita e ele um homem escultural, as coisas não estavam com bom aspeto para o lado dela (trocadilho não intencionado). Especialmente quando descobriram que ela tinha postado num fórum a experiência.
Este caso serviu para estabelecer que por muito que queira, a Bonnie não é uma Annalise. Ela de facto ganhou o caso, mas com muitas quedas pelo caminho e nem metade da graciosidade a cortar a meta final. Já agora, o rapaz afinal não violado, era gay e estava de complô com o advogado do hospital e escolheram a enfermeira como alvo fácil para conseguirem sacar dinheiro ao hospital. O foco na personagem Bonnie permitiu-nos ver a Liza Weil como nunca antes na série porque…enfim…não lhe davam grande coisa para fazer, não é verdade? Espero que repitam porque a atriz mostrou que tem sido muito pouco aproveitada!
Este caso foi muito importante também porque mexeu com muitos preconceitos culturais em relação à violação. Mesmo tendo sido provado falso, tratou-se de um caso de violação em que a “vítima” era do género masculino. Além disso, quando a Bonnie tentou usar a orientação sexual da “vítima” para a descredibilizar o juiz arrasou-a por completo. Como a advogada de acusação disse: “This is a crime not about sex; it’s about power and anyone can be a victim.”
Pelo reino das outras personagens tivemos novamente o único casal que faz sentido na série a dar momentos fofos. Além do Oliver continuar a ser o hacker de serviço do Connor, também se auto-convidou para conhecer os “amigos” do Connor. Quando eles chegaram a casa, com o Oliver completamente embriagado e com vontade de ter sexo com o Connor, o Connor recusou-se. Tendo em conta os hábitos do Connor isto foi mesmo super querido e definitivamente prova que ele realmente gosta do Oliver.
O Wes continuou a investigar o caso do Riley, o antigo morador do seu apartamento e descobriu que ele foi preso e internado na mesma noite do homicídio da Lila. E nós descobrimos finalmente (!) que a Rebecca é realmente algo maléfica e que anda a controlar o Wes.
A Michaela está em modo paranoia (outra vez) a tentar descobrir o plano da Annalise que a levou a incriminar um homem inocente. Quando a Annalise a confrontou por andar a meter o nariz onde não é chamada, ficamos a perceber que há algo mais para além da questão do homem ser inocente: “He’s innocent…and Black.” Nuance interessante que os argumentistas introduziram aqui, já que as inclinações preconceituosas tendem a mais facilmente acreditar na culpabilidade de um homem negro, o que torna a defesa bem mais difícil! Mas claro que a Annalise tem um plano! E aparentemente inclui uma grande performance para as camaras da prisão! Mas com que finalidade? Esperamos para saber no final, para a semana, em episódio DUPLO!!! Que seja tão bom como este!
Outras coisas:
– Asher e Bonnie outra vez. Desta vez com o Frank a ver (?)
.Uuuuh, isto parece mau para o lado da Rebecca? Parece que foi ela que matou a Lila. Será?
– Esta série parece gostar muito de vodka. Olhem eu e HTGAWM a encontrarmos pontos em comum!
Nota: 9.6/10
André F Dias