Person of Interest encerrou esta semana a sua trilogia, após três extraordinários capítulos com muita intensidade, muita ação e muitas dores de coração.
“Control-Alt-Delete”, o episódio de encerramento, acompanha o dia-a-dia de Control, uma personagem que ficou encostada durante algum tempo. Control é uma mulher determinada, impetuosa e autoritária, não lida bem com ameaças, nem facilita a vida aos terroristas que colocam em perigo a nação americana; quando descobriu que uma Máquina havia sido criada para controlar tudo e todos, torturou arduamente Root para conseguir informações, ainda que não tenha sido bem-sucedida. Mesmo sendo uma das pessoas mais influentes na segurança nacional, Control é uma caçadora furtiva que começa a questionar o porquê de perseguir as suas presas. Quero eu dizer que no meio de uma operação de alto risco, é-lhe dito que não terá acesso ao portátil de um dos suspeitos que lhe foi ordenado capturar. Obviamente que não reage bem à imposição alheia dos agentes de Samaritan, que se recusam a permitir o acesso ao computador do suposto terrorista. A determinação da mesma leva-a a procurar outros meios para conseguir obter o que precisa, contactando dois agentes especiais (sendo que um deles foi o responsável por Shaw ter escapado às forças de captura de Samaritan um pouco antes da tragédia) para que encontrem o suspeito e descubram o que ele esconde. Ainda não temos sinais dos nossos protagonistas, mas sabemos que estão a planear alguma. Samaritan, encarnado por um pequeno rapaz (que mencionámos na nossa review anterior), vagueia pelos corredores da Casa Branca a chantagear um dos representantes que quer conversar com o Presidente, claramente às escondidas de Control.
Ao estarmos a assistir ao quotidiano dos ditos vilões, ficamos cada vez mais ansiosos para saber o que os nossos heróis andam a fazer. Os agentes de Control deixam escapar o suspeito assim que o encontram, mas recuperam o portátil, ainda que por poucos minutos. A única pista que conseguiram arranjar foi um horário de comboios escrevinhado com potenciais respostas para onde o suspeito se dirige. Assim que Control obtém as informações, dirige-se para um dos locais onde a sua presa irá aguardar pelo comboio. O que Control não espera é que durante a sua “caçada”, ela própria está a ser observada, ainda que não se saiba por quem. Em plena perseguição, é lançado um disparo de bazuca que abalroa o carro da chefe de segurança e, eis que os nossos heróis chegam, encapuçados.
Finch, Root e Reese estão de luto por Shaw, a sua sede de vingança é maior do que o seu discernimento. Não se conformando com a morte da sua companheira, a equipa pretende arrancar informações de Control; o problema é que o desespero e a mágoa levam a que Reese e Root se comportem de forma impulsiva e cruel, pelo que Finch intervém e confronta a sua refém. Control não cede, obviamente, mantém-se fiel aos seus princípios e afirma não ter conhecimento de nada. Finch entende, então, que a própria chefe de segurança, não é mais do que um peão de Samaritan, que vive na ignorância daquilo que lhe é ordenado.
A beleza argumentativa de Person of Interest mostra não ter limites. Não só esconde os seus protagonistas até pouco mais de vinte minutos do fim, como realça e destaca o avanço dos vilões, quebrando o cliché de episódios de luto habituais. A estratégia de manter o público em constante alerta para o que se irá passar e obrigá-lo a questionar-se do porquê de estar a ver uma personagem que, achava ele, não ter quase relevância nenhuma para a história principal, é um golpe de génio. Há que admitir que não é fácil a digestão da morte/ desaparecimento de uma das personagens principais, mas as séries, por norma, perdem demasiado tempo em lamúrias e pouco em avançar com a narrativa. Mas recordo que Person of Interest, não é uma série normal como todas as outras: é imprevisível e inteligente, audaz e criativa. Quebrar as regras é tudo aquilo que a torna única. Sabemos que os nossos heróis estão mal, sedentos de vingança e agem impulsivamente e emotivamente, e não precisamos de um episódio inteiro para sabermos disso. Parabéns a toda a equipa por esta magnífica decisão (falo de coração mesmo, não há ironias).
Voltando ao episódio, Control não cede e Finch, Root e Reese necessitam de agir, pois os agentes de Samaritan aproximam-se. Com tudo muito bem engendrado e planeado, Finch consegue esgueirar-se para dentro de uma carrinha de operações de escuta de Samaritan, assim que os seus agentes chegam ao local onde se encontram. Root e Reese ficam a atrasá-los mas Harold precisa de se despachar e, de repente, surge uma pista sobre o paradeiro de Shaw. Harold não sabe o que é, mas sabe que vale a pena tentar descobrir pela sua amiga que ninguém sabe o que lhe aconteceu desde o episódio anterior.
Não vou abordar mais do episódio, porque acho que os fãs devem ver por si mesmos e ficarem surpreendidos à sua maneira. Vou, claro, mencionar que a trilogia de Person of Interest encerra de forma competente e intensa, em que muitas lições de moral se podem retirar e muita arte se pode aproveitar para outras séries, especialmente a nível de estrutura e desenvolvimento de personagens. Menciono também que a Máquina não teve qualquer relevo durante todo o episódio e vejo-o como uma mais-valia sendo que o luto é uma componente centrada nos humanos e na forma como estes lidam com as emoções. Rendo-me, portanto, a este capítulo e espero ansiosamente pelo seu regresso porque, também eu, sinto a falta de Shaw.
Nota: 9/10
Jorge Lestre