Muitas vezes só se sente a falta de algo quando ela desaparece. Outras vezes é só quando ela reaparece que se dá o click. A reaparição da Dutch proporcionou um desses. A bom ver, ela perdeu-se um pouco nos últimos episódios, mas neste regresso voltou a demonstrar o quão divertida The Strain pode ser. The Strain anda tão desnecessariamente negra. Sim, um apocalipse vampírico certamente que será um assunto sério para quem o vive, mas nós estamos a vê-lo; é suposto ser divertido de ver. E claramente The Strain tem sido incapaz de oferecer negro com competência.
Como disse, a Dutch regressou e com uma ideia para tentar redimir o que fez. Tratou-se de *inserir explicação complicada e desnecessária do processo* para que o Eph pudesse aparecer durante menos de um minuto na TV a avisar as pessoas do que se passava. E eis que me surgiu um dilema! O Eph, o arrogante narcisista, passa grande parte desse tempo a quasi-gaguejar, nervoso e hesitante. Ora, ele sendo um arrogante narcisista, esta nova faceta, assim de repente, irritou-me solenemente. Em vez de aproveitar ao máximo para avisar as pessoas com um discurso curto e bem planeado, o senhor doutor fez aquilo? Já por outro lado, se a cena for um reencaminhar na personalidade, devo dizer que uma mudança para herói inseguro de si mesmo me agrada mais que o herói infundadamente presunçoso.
Quanto à mensagem em si, o Eph conseguiu pelo menos mostrar as fotos da sua autópsia a um vampiro, o que já não foi nada mau. Os resultados desta curta transmissão televisiva se verão no próximo episódio!
Voltámos aos flashbacks do Setrakian para finalmente conhecermos a dona do seu coração. Também do seu coração per se, embora agora me refira ao que ele guarda dentro de um frasco. A história, dadas as informações das quais já dispúnhamos, foi óbvia a cada passo. E foi isso um ponto negativo? Não necessariamente. Aliás, The Strain bem podia começar a tirar notas do que aqui fez. Nem todas as histórias se têm que redobrar em esforços para surpreender. Apesar de se já estar a adivinhar que durante a ausência de Setrakian – que se prolongaria demasiado, obviamente – a sua esposa seria transforma, isso não lhe retirou o valor emocional. Já sabermos que o Setrakian tinha matado a mulher com as próprias mãos, não o tornou menos terrível. Vê-lo a arrancar o coração de quem, num outrora tão próximo, havia sido o seu amor, não foi tornado menos dilacerante por já o termos visto antes num frasco. E é necessário ainda mencionar o peso da Miriam ter criado dois vampirinhos para sim, um rapaz e uma rapariga, como os filhos que ela queria com o Setrakian? Não é só o que se conta, mas como se conta.
Criar o paralelo dos flashbacks do Setrakian com a situação da Nora foi outra decisão sã. Depois da transmissão do Eph, o refúgio dos nossos heróis foi atacado por um grupo de vampiros. Uma casualidade no ataque: a mãe da Nora. A própria casualidade foi um aspeto muito bom já que a personagem pura e simplesmente já não tinha pernas para andar nesta história. Outro, o que tornou o paralelismo com o Setrakian justificado, foi a Nora ter matado a mãe com as próprias mãos. Ela amava a mãe e dúvidas de tal não existem. A decisão foi horrível, mas foi amor que a guiou. Um amor que requereu uma tremenda dose de coragem. Coragem que, se bem se lembram, o Gus não teve.
Falando em Gus, ele continua completamente à parte de tudo. Desde que ele conduziu o caixão para fora do aeroporto, o seu papel na história desvaneceu-se. O que diabos anda ele a fazer? Por que razão? Qual o papel dele nisto? Se alguém perceber, elucidem-me por favor. Até agora o Mundo Gus parece-me completamente à parte. E esta semana no mundo Gus, o que aconteceu então? Ele foi à procura de armas. Lembram-se quando ele andava envolvido num roubo de carros, há 7 episódios atrás? Não? Não vos culpo. Para quem não se recorda aquele moço que ele “visita” apareceu nesse episódio, “It’s Not For Everyone”. Quando entregaram a esse moço uma quantidade exorbitante de dinheiro para tratar de um contentor, o Gus achou que o que por lá estava tinha que ser ainda mais valioso e obrigou-o a ir ver do que se tratava. Surprise, surprise, carregamento de vampiros! Felizmente chegou a equipa SWAT vampírica para salvar a noite! Finalmente! É que já lá iam 5 episódios desde que eles apareceram em “For Services Rendered”! Esperem, o quê? Raptaram o Gus? Bem, pode ser que seja o evento que venha a tornar o Gus relevante.
Por fim, o Palmer, depois de tantos episódios a implorar, finamente lá foi salvo pelo Mestre. Mas será que foi realmente salvo? O aroma a preço imensurável a pagar chega aqui.
The Strain, entre altos e baixos, tem mais sido consistentemente medíocre. Será preciso um season finale EXTRAORDINÁRIO para restabelecer a minha confiança para eventualmente ver a segunda temporada.
Outras coisas:
– Repararam no vampiro que matou a mãe da Nora? Era o Gabriel não era? Foi para isto que andamos à volta do personagem tanto tempo?
– Lógica em The Strain: disparar contra a pessoa que te deu uma arma para te defenderes quando uma horda de vampiros se baba na tua direção.
Nota: 6.0/10
André F Dias