Eis a review do piloto da segunda série original da WGN America… Se bem se recordam, a série Salem, sobre bruxas, foi a grande estreia do canal com enredo original e que bateu os recordes de audiência da emissora (e nós também fizemos review desse piloto). O canal, continuando a aposta em séries de cariz histórico, contratou Sam Shaw (que já trabalhou em Masters of Sex) que optou por desenvolver o enredo em torno de um assunto polémico, mas muito importante, da nossa história: o desenvolvimento da bomba atómica.
*** Existem spoilers explosivos no texto que se segue***
Sinopse: No ano de 1943, em plena 2ª Guerra Mundial, em Los Alamos, Novo México, são reunidos os melhores cientistas do país e respetivas famílias. O objetivo é que, secretamente, se concretize o Projeto Manhattan… Ou seja, se construa a bomba atómica, antes que os alemães de Hitler o façam. Nesta pequena e recente cidade, enquanto os homens (e uma mulher) trabalham no ambicioso projeto, as esposas ficam em casa sem a mínima ideia do que os maridos fazem.
Confesso que não gostei deste piloto… Na minha opinião, pelo que deu para ver no episódio, trata-se de uma tentativa fracassada de imitar e fundir os estilos de Mad Men e Desperate Housewives. O primeiro episódio formou-se em torno de vários clichés e, sinceramente, não sei qual foi o pior…
1ª ronda de clichés: Charlie e a esposa vão a caminho de Los Alamos… Ele é um doutorado algures em física nuclear e, mesmo assim, não conseguiu emprego! A sua esposa, Abby, queria que ele aceitasse o cargo de vendedor na empresa do seu pai… Mas para Charlie, trabalhar em vendas e na empresa do sogro seria o maior pesadelo à face da Terra! Estão no meio do deserto e uma das mentes mais brilhantes não sabe onde fica o norte! Fartei-me de rir com esta situação! De que lhe adianta saber onde fica o norte? Só existe uma estrada… Até eu sabia que ele tinha de continuar em frente…
2ª ronda de clichés: Winter chefia uma pequena equipa de cientistas que inclui a única mulher a trabalhar no projeto Manhattan. As ideias que ele tem para desenvolver a bomba saem de pequenas cenas do quotidiano: jogar golfe, um bule de chá a exalar vapor, um disco de vinil a rolar no seu leitor… A sua esposa, Liza, é tão ou mais inteligente que o marido, doutorada em botânica e não percebe a razão da proibição do cultivo de alimentos nos arredores da pequena cidade… A filha de ambos, Callie, é uma adolescente rebelde que vive o sonho de estudar em Nova Iorque, de preferência longe dos pais…
3ª ronda de clichés: A pequena equipa de cientistas de Winter tem como adversária a enorme equipa de Akley, onde trabalham dezenas de cientistas e onde Charlie entrará ao serviço… Para piorar esta ronda de clichés, Winter criticou, anos antes, um dos melhores trabalhos académicos de Charlie e agora trabalham em empresas rivais… Aqui ainda posso mencionar que a pequena equipa de Winter, apesar de ter o projeto mais desenvolvido, acaba por perder o contrato para Akley.
4ª ronda de clichés: o trabalho decorre com o máximo de sigilo, as esposas não fazem ideia do projeto em que os maridos estão envolvidos… Mas é uma questão de tempo até que todos saibam! Porquê? As constantes explosões que se ouvem, os sussurros entre Charlie e Abby… E a confissão de Sid, o cientista de origem oriental (quiçá nipónica – este sim seria um cliché com uma enorme carga de humor negro) que vendeu os projetos confidenciais. Ou seja, em Los Alamos nem a grossura das paredes permite segredos (veja-se a noite de sexo entre Charlie e a esposa que foi tema de conversa no jantar patrocinado pelos Winters).
O episódio terminou e vi muito drama familiar/social e pouco Projeto Manhattan, ou seja, o piloto quase nada mostrou sobre o desenvolvimento da bomba atómica. No entanto, tenho de admitir que o elenco é bom, os cenários e a banda sonora são excecionais e o enredo tem um potencial atómico! De qualquer das formas, a minha lealdade a Manhattan fica pelo piloto, a série não me despertou expetativas nem o mínimo de curiosidade. Talvez assista aos episódios após o season finale se as críticas internacionais forem positivas.
Pelo histórico da WGN America, posso avançar sem grandes riscos que se trata de uma série com renovação garantida.
Nota: 6/10
Rui André Pereira