Uma pessoa começa a fazer elogios a mais e depois arrepende-se. Foi preciso dizer que a família Whele era aquele aspeto que não falhava, para neste episódio falhar!
A primeira cena ainda foi boa, com o William a tratar do pai na sequência das costelas que lhe partiu. Explicou que a servitude a Gabriel não se trata de um caso de adulação, mas de auto-preservação numa que guerra que considera há muito perdida.
Já todo o momento na jaula foi a desgraça! Quando um personagem tem que passar minutos a fio a explicar o título do episódio, estamos mal! E quanto ao David, o kraken político? É suposto nós acreditarmos que matar o leão de estimação o quebrou? Um bocadinho de crédito à inteligência dos espectadores, por favor!
Sem o alicerce habitual na família Whele, o episódio poderia ter sofrido mais do que realmente sofreu. A linha central do episódio girou em torno do Gabriel e do Michael e foi forte o suficiente para o suportar. Verdade seja dita, mesmo as personagens mais marginais e ainda pouco elaboradas, ofereceram vislumbres de um futuro mais interessante de suas partes.
O Alex continuou o treino como Escolhido. Ele e o Michael percorreram as redondezas em busca de 8-balls para o Alex praticar exorcismo. Acompanhamos uma das tentativas falhadas, tendo as restantes sido relatadas em conversa entre os dois. Mais uma vez Dominion apoiou-se imenso em exposição ao invés de mostrar os acontecimentos. É um recurso recorrente nesta série, não dos mais interessantes e mau, se abusado. Os escritores parecem demasiado ávidos para chegar a um qualquer ponto da narrativa.
De qualquer forma, percebemos que o Alex não foi bem-sucedido nas suas tentativas. E na última, a que vemos, acabou por matar o 8-ball – seria mesmo necessário?
Enquanto isso, o Gabriel desenvolveu a capacidade de possuir anjos superiores e tomou conta do corpo do anjo Louis, alguém que já havíamos visto há uns episódios atrás em conversa com o Michael. Desde já, tenho que dar os meus parabéns à realização que fez um jogo brilhante de ângulos de câmara, de forma a intercalar entre o Louis, que era quem todos viam, e o Gabriel, que era quem realmente falava e agia.
No corpo do Louis, o Gabriel começou a espalhar o caos pela cidade. A sua primeira ação foi tentar recrutar anjos superiores refugiados em Vega para o seu exército, mas perante a recusa destes, matou-os. E porque só isso não bastava, pendurou-os nos edifícios de Vega. Um banqueiro, um médico e um engenheiro. A cidadela ficou alerta para a realidade de que pessoas próximas e conhecidas de há muito, podiam ser anjos superiores. Estes anjos em específico, eram neutros na guerra entre o Gabriel, a humanidade e o Michael, mas depois de décadas sob a ameaça da espécie como um todo, a população de Vega não pôde deixar de regozijar com a morte dos pseudo-intrusos. Este incidente proporcionou o momento mais relevante do Ethan até à data, visto que foi ele a voz do agrado coletivo pela morte dos três anjos. O Alex fez-se voz da razão ao defender que eles eram inocentes, o médico até já tinha tratado do Ethan.
É de notar que os sentimentos do Ethan provinham de um saber empírico e não mal-intencionado. A sua experiência resguarda-o de confiar em anjos. Pode muito bem ter sido simplesmente a forma como o ator interpretou e mais à frente o Ethan se mostrar mais extremista, mas pessoalmente prefiro esta versão.
Continuando o seu jogo de marionetas o Gabriel chamou o Alex e a Noma à torre do Michael e revelou que ela, amiga e antiga (atual?) de Alex, é um anjo superior. Assim que ela entrou na torre comecei a suspeitar, mas mesmo assim ainda não deixei de me surpreender quando ela foi atirada pela janela. Foi uma revelação que eu não esperava de todo!
Demorou para o Michael perceber que o Louis estava a ser possuído pelo Gabriel!!! Mas lá percebeu! E o Alex perfez o seu primeiro exorcismo com sucesso. Julgo eu, pois não deu para perceber bem se o Louis sobreviveu ao processo ou não.
Os anjos superiores que restavam em Vega, ao tentarem fugir para não terem o mesmo destino que o Gabriel proporcionou às suas três vítimas, acabaram abatidos pelas armas de defesa da cidadela. A única sobrevivente além do Michael, é a Norma.
Contudo, a maior revelação do episódio foi o flashback em que descobrimos que o Dilúvio de Noé não foi mais que metafórico. O Michael foi o verdadeiro “Dilúvio” enviado por Deus para eliminar os humanos que tinham começado a idolatrar os arcanjos em vez d’O Senhor. E foi uma tarefa que ele executou de bom grado. Ainda mais surpreendente foi ver Gabriel a defender os humanos! E a admirar as suas criações! Já sabíamos que o Gabriel tinha um gosto particular pela gastronomia humana, mas com este flashback começaram a fazer sentido os seus sentimentos paradoxais. A relação dos arcanjos com os humanos é mais antiga e mais próxima do que suporíamos e do foi dado a entender até este momento. Resta agora saber o que causou a inversão dos papéis entre o Michael e o Gabriel.
“Ouroboros” não foi tão bom quanto “Black Blue Eyes”, MAS retiro algum conforto no facto de Dominion ter noção disso. Digo isto porque a Syfy só não mostrou mais na cena de sexo entre o Alex e a Noma porque não podia! Óbvio material para distração. Mas a revelação da Noma e a do passado do Michael, do Gabriel e da Uriel foram suficientemente boas, para o episódio ter sido largamente agradável. A nova peça no puzzle extremamente incompleto que é o Ethan, foi também um aspeto positivo.
Considerações:
– Um ponto que me esqueci de mencionar no episódio passado é que o Michael se referiu às possessões por anjos como as únicas que conhecia. Numa simples deixa, as conjeturas acerca da existência de demónios (já que existem anjos) foram deitadas por terra. E estabeleceu também que os anjos são de facto execráveis, uma vez que todas as possessões relatadas ao longo das eras foram executadas por anjos.
– Como terá tanto amor do Gabriel pela Humanidade azedado? Terá sido apenas o nosso declínio desde então? Ou algo mais? Não que não me satisfaria a primeira opção como resposta, mas estou a torcer por algo mais. Dominion tem sido relutante na sua abordagem a referências bíblicas, mas fê-lo neste com o Dilúvio. A repetir-se, dos meus conhecimentos de uma educação católica, tenho algumas ideias para o que poderá ter acontecido, inclusive uma que poderia gerar uma imensidão de polémica! Veremos!!
– Continuamos a não perceber nada do jogo da Uriel, não é? Mas diria que a sua aliança tende mais para o lado de Gabriel, afinal.
– Não sei se ficarão tão surpresos quanto eu fiquei, mas já só falta um episódio para esta época terminar. E até agora notícias de renovação ou cancelamento, nem vê-las. Apesar das suas falhas, os aspetos positivos de Dominion deixaram-me a gostar mais da série do que julgava que aconteceria. A ver vamos o que nos trará o final, mas gostava de ver uma segunda temporada.
Nota: 7.8/10
André F Dias