“Black Eyes Blue” é um episódio com um nível de qualidade que Dominion e quem a vê já mereciam.
A família Whele tem-se mostrado aquela fonte de entretenimento que não seca, por isso comecemos por eles.
Depois de adivinhar a quem pertencia a venda do culto, o David confrontou o filho, mas em concordância com o seu carácter, fê-lo de forma passiva-agressiva. Primeiro mostrou-lhe a venda em tom grave, para em seguida rasgar um sorriso e dar a entender que acreditava que aquela venda provinha dos resultados da investigação do William. No entanto, o seu discurso foi tornando-se progressivamente mais exagerado até que finalmente disse que achava que os Acólitos Sombrios se haviam infiltrado nas castas V mais altas.
A mensagem foi clara para William, que contactou um dos seus acólitos a quem ordenou que reunisse os restantes para em seu nome anunciar o desbande temporário. Mas o David foi rápido e, durante a reunião do culto, os seus soldados descobriram-nos e começaram a disparar sobre eles. Os acólitos conseguiram eliminar os soldados, porém avisaram o William que o pai dele vai enviar mais quando aqueles não voltarem. Ele decidiu então enfrentar o pai e revelar-lhe ser o líder os Acólitos Sombrios. O David pareceu ficar surpreendido com esta revelação, afinal de contas sempre desconsiderou o filho como um incapaz e o mais certo era acreditar que William era apenas mais um tolo adulador de Gabriel. O azedume sempre presente em qualquer discurso do David com William nunca esteve tão a descoberto como depois disto. O seu ódio havia tornado-se justificado, deixando de haver razão para o esconder. O William respondeu-lhe com uma arma na sua direção e, mais uma vez, o David fingiu orgulho no filho, mas com as suas palavras sempre envoltas em condescendência. O William acabou por não matar o pai, mas colocou-o inconsciente e levou-o para o templo do culto.
Restringido e rodeado pelos Acólitos Sombrios, o discurso do cônsul Whele mudou bastante, apelando em vão à misericórdia do filho. Implacável, William fez o pai atravessar o ritual de iniciação do culto e partiu-lhe as costelas.
No entanto, no intervalo de tempo entre o primeiro confronto com o William e o ritual, o cônsul não andou desocupado. O David continuou a mexer os seus cordelinhos para convencer o Senado a votar “Não-Confiança” na liderança do General Riesen devido à sua doença. Mas o General é também ele astuto e marcou encontro com a Arika para discutir o acordo que ela estabeleceu com Whele. Segundo o acordo a cidadela de Helena forneceria o apoio da sua força aérea à cidadela de Vega em troca da tecnologia necessária à produção de armas nucleares.
Por toda a sua esperteza em fazer o acordo por detrás das costas do General Riesen para ficar com os créditos, o cônsul Whele não possuía a informação toda. A força aérea de Helena foi herdada de um Coronel amigo do Edward Riesen e o General sabia que numa batalha contra Gabriel, apesar de a vencer, o Coronel perdeu quase toda a sua frota à exceção de um bombardeiro e de um par de helicópteros. O General Riesen desenhou então um novo acordo com Arika, segundo o qual Vega produzirá uma bomba nuclear e Helena largá-la-á sobre o refúgio de Gabriel e o seu exército, e informou o Senado acerca do estado real da força aérea de Helena e do novo acordo desenhado. Como é óbvio, as dúvidas incitadas no Senado pelo David Whele deixaram de ter fundamento e a ideia do voto Não-Confiança caiu por terra.
No episódio passado, o grande cliffhanger foi a revelação de que a 8-ball amante do General Riesen estava a possuir o corpo da sua esposa e mãe de Claire. O Alex descobriu, o que o levou a mentir sobre ter morto a 8-ball, a capturá-la e a revelar a verdade a Claire. O Alex foi desta firma retirado da esfera do Escolhido destinado a eliminar 8-ball indiscriminadamente. Não matar a Clementine de imediato, escutá-la e acreditar foram decisões que ele tomou por si próprio. As tatuagens continuaram a desempenhar um papel importante neste episódio, mas como mera ferramenta e não como impulsionadoras de decisão, ao contrário do que aconteceu em “The Flood”.
O Alex decidiu então tentar expulsar o anjo do corpo da Clementine e pediu ajuda ao Michael. Ele explicou-lhe que muitos tentaram fazê-lo ao longo da história, mas todos falharam. Perante a insistência do Alex, o arcanjo pedia ajuda à Uriel, a guardiã do livro com as instruções do exorcismo. A cena em que o Michael interrompeu a dança da Uriel e depois a tentou subornar com uma pintura que há muito ela procurava foi moldagem de personagem subtil, mas competente. A cena, bem executada, ofereceu também peso à decisão da Uriel de conhecer o Alex e de ver as tatuagens em troca do livro, ao invés de aceitar o quadro. E que bom que os personagens se encontraram! A dinâmica entre os três foi cativante! Nunca me agradou tanto ouvir algo a sair da boca do Alex como a frase “Your sister is making me uncomfortable.” O que me relembra que os diálogos neste episódio foram ligeira, mas significativamente melhores, em especial da parte do Alex.
Confrontada com a mãe possuída por um anjo, sem ter envelhecido um único dia desde a última vez que a tinha visto, a Claire reagiu de forma bastante incisiva. Aquela não era a sua mãe, era uma 8-ball, uma ameaça à cidadela e, como tal, tinha que ser eliminada. Todavia, o Alex acreditava que esta 8-ball era diferente, que algures no seu interior a mãe de Claire ainda existia. E foi a crença dele de que a podia salvar, em adição à informação que Clementine revelou e que apenas a mãe de Claire podia saber, que a convenceu também a investir na tentativa de exorcismo.
O exorcismo acabou por falhar, permitindo apenas uma mão cheia de palavras trocadas entre a Claire e a mãe e tornando a experiência de a perder (outra vez) tão mais dolorosa. Junto com o anjo, o espírito da Clementine foi também exorcizado. Os olhos negros opacos passaram a azuis cristalinos para depois se apagarem em branco inerte.
Depois disto a Claire defrontou o pai dizendo-lhe que sabia do caso dele com a 8-ball. Ela afirmou que compreendia, mas que a população de Vega não assumiria a mesma atitude. É claro que o General respondeu que a população não precisava de saber. A Claire concordou, ainda que num tom consciente do quão depravado isso seria, e fez um ultimato ao pai: depois do casamento dela com o William, o General retirar-se-á da sua posição.
Parece que as circunstâncias acabaram por resultar para o cônsul Whele e o General vai mesmo ser removido. Contudo, enquanto as peças se moveram na direção que pretendia, o tabuleiro do jogo mudou. O David não só está agora ocupado com o filho e os Acólitos Negros, como a Claire está a demonstrar não ser tão incapaz e manipulável quanto se julgava.
E se dúvidas havia quanto a Claire (e ao trabalho de Roxanne McKee neste papel), o episódio acaba de forma intensa, com a Claire a sufocar a mãe, ou o que restou dela, enquanto murmurava a mesma música que a mãe lhe cantava na infância.
Considerações:
– A qualidade do episódio também se deveu a não terem aparecido as personagens marginais da série, o Ethan e a Noma. Mas já que as introduziu (por razões incompreensíveis até à data), balançar entre o ignorá-las e o aceitar do descer da qualidade sempre que aparecem não me parece a melhor opção. Fizeram um excelente trabalho com a Uriel neste episódio, tentem repetir para essas duas.
– “Evelyn” Este nome repete-se demasiadas vezes tendo em conta que se trata de uma personagem que nunca apareceu. Existem limites para o teasing.
– O William está mesmo convencido que o pai vai converter-se? Seria um bocado parvo se acontecesse.
– Um bom aproveitamento do cliffhanger do episódio anterior, um subtil mas eficaz desenvolvimento da personagem Uriel e o emergir de iniciativa própria do protagonista resultaram num episódio fantástico.
Nota: 9/10
André F. Dias