Bassam “Barry” Al-Fayeed é o segundo filho do ditador de uma nação fictícia no Médio-Oriente, Abbudin, que se auto-exilou nos Estados Unidos. Tyrant começa vinte anos depois, Bassam agora médico pediatra, casado e pai de dois filhos, prepara-se para voltar ao seu país natal sob o pretexto do casamento do seu sobrinho.
A série não começa mal os primeiros minutos, com uma cena em que Bassam no seu jogging matinal nos empurra num flashback da sua infância. Vemos Bassam e o irmão Jamal a acompanhar o pai num discurso. A função de Bassam é meramente presencial e é no primogénito que o pai, Khaled, coloca todo o seu foco, para distinto desconforto de Jamal. Mas é quando o local do discurso sofre um atentado, que somos agraciados com a possível razão que levou Bassam a abandonar o país natal. Ao aperceber-se do perigo, a decisão de Khaled é rápida e tenta salvar Jamal, entregando Bassam à sua sorte. Um início forte, que elevou Tyrant apenas o suficiente para a queda se sentir com mais força no resto do episódio.
De volta ao presente, encontramos a mulher e os filhos de Bassam a tomar o pequeno-almoço. A filha, Emma, demonstra preocupação com a situação sociopolítica de Abbudin, enquanto o filho, Sammy, está mais interessado na riqueza e no glamour de ser quase realeza. A mãe desconsidera as preocupações da filha, estranhamente. Se incendiassem, em protesto, a pastelaria onde faziam o bolo para o casamento a que pretendia comparecer, eu pensava duas vezes antes de levar os meus filhos para lá.
De partida, a família atrasa-se para apanhar o avião. Mas, para surpresa e insatisfação de Bassam, quando chegam, o avião ainda está à sua espera porque foi totalmente reservado por Khaled só para eles. Bassam e a mulher, Molly, são servidos de vinho, cortesia de Jamal, e os dois brindam a ele.
E eis que somos introduzidos ao Jamal adulto de forma asquerosa. Ele a violar uma mulher, enquanto a família dela ouve desconsolada na divisão ao lado. Esta cena e as que se seguiram da mesma natureza quebraram muita da minha boa vontade com Tyrant. O recurso à violação para carimbar uma personagem como malvada é dos mecanismos mais preguiçosas e um de que já começo a ficar particularmente cansado. Durante o episódio não ficamos sequer a saber o nome desta mulher. Não lhe é dada qualquer dimensão além de ferramenta para demonstrar que Jamal é alguém violento. E como se esta cena não bastasse, mais à frente no episódio volta a abusar da mesma mulher e até da própria nora. Se logo a primeira cena de violação me deixou um mau gosto na boca, a insistência na mesma tecla foi repulsiva.
A família chega então ao palácio em Abbudin e somos introduzidos à mãe de Bassam. É britânica. E é isso. Parece existir apenas para desculpar o facto do ator protagonista não ser de etnicidade médio-oriental. Com o pai, o reencontro é tão caloroso quanto seria expectável.
Terminadas as apresentações, Bassam e a família vão para um hotel, para desilusão de Danny, que por esta altura ainda não fez nada além de ser um pirralho irritante. Isto diminuiu o interesse que usualmente me seria despertado ao, na sequência de uma conversa sobre a despedida de solteiro ser uma data de homens num banho turco a ver o noivo ser barbeado, ficarmos a saber que Danny é gay. Emma que parece ser a única com consciência de onde estão, diz-lhe para ter cuidado. Seria uma linha de narrativa capaz de criar situações envolventes mais à frente na série, fosse Danny uma personagem envolvente.
Na despedida de solteiro, Jamal está a barbear o noivo quando é chamado por um segurança. Jamal pede ao irmão para o acompanhar. Ao que parece, existe uma ameaça de ataque terrorista no casamento, então Jamal convocou o tio do possível responsável para lhe fazer um aviso. Diplomacia não é o seu ponto forte e somos presenteados com uma cena de pancadaria entre um Jamal nu e a sua vítima, culminando na quase amputação dos dedos desta última, não fosse pela intervenção Bassam. O irmão mais novo restringe Jamal e propõe-lhe uma solução mais eficiente que mutilar a família do terrorista: convidá-lo a ele e a toda a sua família para o casamento. Foi uma cena de que gostei e que teria servido para demonstrar o carácter violento e impulsivo de Jamal, sem que fosse necessário recorrer a abusos sexuais.
Bassam visita Fauzi, um jornalista e provável amigo de infância. Fauzi de alguma forma culpa Bassam pela sua falta de envolvimento no país, quando poderia ser alguém que temperasse as medidas mais irascíveis do pai. Conta-lhe também a história de quando foi preso e torturado durante três dias por algo que escreveu e mostra-lhe as cicatrizes. A cena em si não foi má, mas ficou um tanto desviada do resto do episódio.
Realiza-se finalmente o casamento. Danny aproveita a ocasião para se aproximar do rapaz com quem trocou olhares durante o banho turco, o neto do responsável pela segurança.
Somos transportados por mais um flashback, agora para a captura dos responsáveis pelo ataque terrorista que ocorreu no primeiro. Khaled incentiva Jamal a disparar sob um dos capturados, enquanto Bassam observa.
Ainda durante a festa do casamento temos o segundo abuso sexual por Jamal, agora à própria nora, como já tinha mencionado.
Entretanto, Khaled sofre um AVC e somos transportados para o hospital. Após ser assistido, Khaled pede para falar com Bassam e diz algumas coisas interessantes. “Sem ti eles vão matar-nos a todos. Eu estava errado. Devias ter sido tu.” Será então possível que o ditador tenha reconsiderado as suas atitudes violentas? Será que a sua nova perspetiva vê Bassam como um líder mais indicado do que o monstro que criou em Jamal? As questões ficam no ar já que a conversa não avança mais. Bassam diz ao irmão e à mãe que o pai quer falar com eles, mas pouco depois Jamal sai do quarto. O pai morreu.
Temos uma troca de estalos entre Jamal e a esposa, Leila, quando esta o tenta consolar e acalmar. “Eu amo-te e tu odeias-me. Eu sei isso. Eu amo-te e tu odeias-me.” diz Jamal a Leila. Não só a própria deixa, mas também a forma como é entregue deixa-me a interrogar se isto foi uma tentativa de começarmos a simpatizar com Jamal. É que depois de tanto, eu não consigo…
Com a notícia da morte do pai, Bassam parece não conseguir sair do país depressa que chegue, sem pensar duas vezes no funeral ou sem sequer se despedir da família. É um comportamento estranho, como a mulher e os filhos apontam. Danny atinge mesmo um auge de perrice, em parte compreensível, e que é respondida com dois estalos do pai. Foi uma reação surpreendente por parte de uma personagem extremamente contida até aquele momento.
Jamal, perturbado e bêbado, conduz a alta velocidade acompanhado da sua primeira vítima de abuso e dá-se o terceiro momento de violação quando ele a força a sexo oral. Ela tenta injetar-lhe algo com uma seringa, sem sucesso, por isso morde-lhe o pénis e o carro despista-se. Duvido que o acidente tenha resultado na morte de Jamal, mas já se adivinha que será o suficiente para prolongar a estadia de Bassam em Abbudin.
No avião, Molly tenta perceber o que se passa com Bassam para querer ir-se embora tão depressa quando o pai acabou de morrer, mas ele não quer falar sobre o assunto. Molly diz que nunca sabe o que ele está a pensar e que não sabe o que fará se ele não se explicar. Isto é TÃO estranho. Molly não mostrou ser alguém que tenha problemas de dizer o que pensa, porém, só aqui, depois de 19 anos de casamento, é que lhe está a perturbar a falta de comunicação por parte de um marido que NUNCA quis falar na família. E já que abordamos este assunto, o papel de Molly foi reduzido a insistir com o marido que ele converse com o pai e que se conecte à família novamente, apesar de “O meu pai é um ditador violento” me parecer razão bem suficiente para ele não o querer fazer.
Somos empurrados novamente para o flashback que começou no casamento. Estava à espera de ver o momento que torna Jamal um monstro, o momento em que prime o gatilho e mata alguém. Todavia não é isso que acontece. O jovem Jamal não tem coragem de o fazer e foge para a carrinha. Enquanto o pai o tenta arrancar de lá, Bassam sai da carrinha, agarra o revólver e é ele a cumprir a execução. Foi um momento surpreendente em que percebemos que Bassam, mais que fugir à família, fugiu do seu próprio lado negro.
Para encerrar o episódio, o avião é parado e o capitão entrega um telemóvel a Bassam. Parece que afinal vão permanecer em Abbudin.
Em suma, o piloto de Tyrant foi, na sua maioria, desastroso e não vejo grandes oportunidades de redenção. Partilham da minha opinião ou acreditam que a série possa melhorar?
Nota: 5.5/10.
André Dias