[Contém SPOILERS]
O segundo episódio de Dominion desacelerou o passo e preocupou-se em dar dimensão às personagens principais.
Começamos com as consequências dos acontecimentos do episódio passado. O governo de Vega reúne-se, avalia os danos do ataque dos anjos e reprime David Whele pela desgraça que resultou da demonstração com o 8-ball. Quase que é levado a julgamento, mas é salvo por uma das consulesas e pelo General Riesen.
Temos, no seguimento da assembleia, uma conversa entre o General Riesen e o cônsul Whele que, em conjunto com a conversa mais à frente entre o General Riesen e a Claire, nos deixa ler nas entrelinhas a origem e o estado em que se encontra a política de Vega.
Quando Vega se erigiu, o afluxo de refugiados foi avassalador. Por isso criaram o sistema-V, para que todos contribuíssem para a cidadela. Quanto mais importante a sua função, maior o número da classe-V de alguém. Era suposto ser um sistema temporário, com passagem para uma república assim que se atingisse alguma estabilidade. Contudo, aqueles que ganham poder, dificilmente o abandonam e alguns infiltram tantos dos seus tentáculos, tão profundamente, que removê-los resultaria no desabar da estrutura em que se impregnaram. É o caso de David Whele, que tem a mão em tanta coisa em Vega, que se tornou indispensável e, portanto, o General Riesen não podia permitir um julgamento que prejudicasse a casa Whele. Foi também por isso que acordou o casamento entre Claire e William. Sozinha, Claire seria uma presa fácil para os esquemas de David, mas casada com William, poderá refugiar-se nos sentimentos que este nutre por ela e até manipulá-lo se necessário. A importância deste casamento é acentuada quando descobrimos que o General Riesen sofre de insuficiência cardíaca e a sua esperança de vida é incerta. Para um personagem apresentado como frontal no primeiro episódio, o General mostra que também sabe mover-se em jogos de poder.
Arika e a restante delegação de Helena foram presas no episódio anterior sob acusação de conspirarem com Gabriel, visto que levaram para Vega o Power que matou Jeep. O cônsul Whele não acredita na acusação que faz, mas quer usar Arika para coagir Evelyn a disponibilizar a sua força aérea na guerra contra Gabriel. Todavia, as voltas são-lhe trocadas, pois Arika pode ser a companheira da Evelyn, mas garante que mais depressa a Evelyn aceitaria o luto e bombardearia Vega em retaliação, do que cederia a uma manipulação para entrar em guerra com Gabriel. E a volta é ainda maior quando a Arika convence as suas servas a cometer suicídio, deixando pouca escapatória ao cônsul Whele exceto soltá-la. O passado como televangelista do David Whele pode ter-lhe dado uma boa compreensão da psicologia e comportamento humanos, mas desta ele não estava a espera.
A forma como a atriz Shivani Ghai entregou o discurso de Aika, fez-me lembrar a rainha Cersei em Game of Thrones – entre outras coisas que me fazem lembrar Game of Thrones nesta série.
Alex angustia com a morte de Jeep e com a descoberta de que é ele o Salvador. Acaba embriagado a discutir com a Claire, zanga que mais a frente serve de desculpa para make-up sex. Tem também uma troca acirrada de palavras com o Michael, em que lhe confessa que conseguiu ler parte da tatuagem e que era um aviso para não confiar nos que lhe são mais próximos, como vimos no primeiro episódio. Esta discussão não teve direito a make-up sex mais tarde.
Havia mais um Power infiltrado em Vega, que depois de apanhar um vislumbre das tatuagens do Alex, nos proporcionou uma bela cena de pancadaria. O humano rivalizou com o Power. Parece que a ameaça que o Alex fez ao Michael, de que para ser o Salvador tinha que ser bastante poderoso, se pode confirmar. Depois do ataque Alex percebe que a sua presença em Vega constitui perigo para os ama e decide partir. É uma ótima decisão no sentido em que nos próximos episódios provavelmente teremos acesso ao mundo exterior a Vega e, quem sabe, a outras cidadelas.
No twist final é desvendado que o General Risen tem um affair com uma 8-ball. É uma linha de narrativa com tantas possibilidades. Oferecer dimensão aos 8-ball é um caminho a explorar que pode ser gratificante para Dominion, se houver inteligência e esforço a fazê-lo.
Considerações:
– O flashback ao início foi desnecessário em termos de narrativa. Só foi giro para ver mais do Langley Kirkwood (Jeep) e uma luta com 8-ball fora de Vega.
– Os anjos gostam mesmo de ter corpos porque…orgias! E nesta e noutras cenas, o Syfy continua a mostrar tanta nudez quanto pode.
– Lidar com as testemunhas da passagem das tatuagens para o Alex, significa para o David Whele matá-las e alimentar os cadáveres aos leões. Que bíblico da parte dele.
– Ver mais uns minutos de Gabriel foi agradável e estabeleceu-o como o vilão definitivo. Desconhecia Carl Beukes e estou impressionado. Grande par para Tom Wisdom (Michael), que também me está a impressionar.
– Personagens largamente marginalizadas: Bixby, Noma Walker e Ethan.
– William Whele para o Alex: “[…] I’ve always been here, waiting to be of service to you.” Mais ou menos traduzido para “Eu sempre estive aqui há espera de te servir.” – Syfy a apostar em ambiguidade homoerótica.
– Para os que, como eu, não percebiam qual é a cena com o título do William Whele. “Principate” é o título do líder da religião que adora o bebé escolhido, a Igreja do Salvador (“Church of the Savior”).
– QUEM É ESTA EVELYN QUE FAZ A PESSOAS SUICIDAREM-SE POR ELA??? Nem se sabe ainda a atriz que a interpretará….
No geral, este episódio foi uma boa continuação do piloto.
Nota: 7.7/10
André Dias