Foi no serão da passada quinta-feira, 16 de setembro, que a RTP anunciou a sua grelha para o próximo ano de 2022 e entre as novidades sobre informação, entretenimento e desporto, é na ficção que o canal revela uma grande aposta para os meses que se seguem.
José Fragoso, diretor de programação do canal público português, reforçou uma vez mais que os projetos ficcionais da RTP têm “como grande objetivo chegar não só ao público nacional, como internacional”. A ideia é que as equipas – sejam elas criativas, técnicas, de produção ou atores – tenham “contacto com o mundo”, de forma a aumentar o leque de possibilidades e o número de pessoas que consomem o conteúdo feito em Portugal.
Coproduções com escala internacional
Por ano, o canal pretende levar ao pequeno ecrã entre 12 a 14 séries, onde “diversidade e qualidade” são os lemas para que tal aconteça. Além disso, a “escala internacional” dos projetos é um fator de peso na hora de decidir quais as histórias que avançam e prova disso são as quatro coproduções que estão neste momento em andamento na RTP. Uma delas é Chegar a Casa, que estreou a 8 de setembro no horário nobre do número um da televisão portuguesa. Esta é uma série luso-espanhola, produzida pelas produtoras portuguesa SPi e galega CTV, que está no ar tanto em Portugal como na Galiza, através da Televisión de Galicia.
Da mesma forma, também os restantes títulos – Auga Seca, Operação Maré Negra e Crimes Submersos – são produções luso-espanholas, demonstrando uma ligação cada vez mais forte entre os dois países, assim como entre a RTP e alguns dos principais canais espanhóis. A par da estreita comunicação entre as estações televisivas, está o aumento de títulos presentes nos catálogos de plataformas de streaming. A 1.ª temporada de Auga Seca está disponível na HBO Portugal e Espanha e o mesmo acontecerá com os oito novos episódios, cuja data de estreia ainda não está definida. Operação Maré Negra, produzida pela Ukbar Filmes e Ficción Producciones, é uma coprodução para a Amazon Prime Video, sendo que os quatro episódios desta série serão emitidos no canal público e ficarão disponíveis em simultâneo no streamer. Já Crimes Submersos, que junta atores portugueses e espanhóis num thriller de oito episódios, não está inserida numa plataforma internacional, mas será exibida pela RTVE, em Espanha. De salientar ainda que tanto a RTP como a SPi estão envolvidas na produção da primeira série original portuguesa da Netflix, Glória.
Ficção nacional – História, adaptações e o lado pessoal das Doce
A par destas coproduções está a ficção nacional, que conta com uma variedade de histórias a chegarem em breve ao pequeno ecrã. Por um lado estão séries históricas, como A Rainha e a Bastarda, uma adaptação do livro de Patrícia Müller que viaja ao século XIV e que irá acompanhar a época tumultuosa de sucessão de D. Dinis ao trono, assim como o percurso da Rainha Santa Isabel. O Crime do Padre Amaro, obra literária de Eça de Queirós, chegará novamente em formato audiovisual, desta vez repartida em seis episódios “extremamente fiéis à história” contada pelo escritor, garante Bárbara Branco, que na série dá vida à jovem Amélia, em conversa com o Séries da TV.
Gravada em seis semanas, em Leiria, local onde decorre o romance de Eça, O Crime do Padre Amaro “retrata uma parte de Portugal em 1870”. “Acho que este projeto tem a receita para o sucesso”, diz a atriz protagonista, elogiando o realizador, Leonel Vieira, e o restante elenco. Por sua vez, José Condessa, que encarna o Padre Amaro, refere que esta “continua a ser uma obra universal, porque o Homem não mudou assim tanto – é uma história de proibições de amor”. Com uma narrativa que incide sobre a temática da religião católica, esta adaptação “vai trazer novamente para a discussão a questão do amor e se o celibato faz ou não faz sentido. Acima de tudo vai trazer o lado humano, da hipocrisia, onde desde que haja poder está tudo bem”, revela o ator.
Ainda no género das adaptações – mas contemporâneas – está Causa Própria, uma série baseada nas crónicas Levante-se o Réu, um conjunto de textos do escritor, jornalista e argumentista Rui Cardoso Martins, que relata histórias dos tribunais portugueses, com pessoas reais e crimes verdadeiros. Realizada por João Nuno Pinto e protagonizada por Margarida Vila-Nova, esta série trará os bastidores da sala de audiências para o ecrã da televisão.
Por fim, uma das grandes novidades anunciada no evento: a minissérie Doce, derivada do filme Bem Bom sobre a girls band portuguesa da década de 1980, estreia já no próximo dia 2 de outubro, às 21h. Gravados em simultâneo com a longa-metragem, estes sete episódios prometem aprofundar o lado pessoal das Doce e acompanhar o seu declínio após a vitória no Festival da Canção, em 1982. “A história das Doce enquanto banda não foi só o brilho, não foi só o estar em palco, arrasar Portugal, foi também o outro lado. Temos oportunidade de ver isso no filme, mas a série vai mais ao pessoal de cada uma e ao lado mais negro das Doce”, explica Bárbara Branco, que interpreta Fátima Padinha.
Ana Marta Ferreira, a Laura Diogo da banda, acrescenta ainda que o percurso das Doce “não era só luzes, brilho, lantejoulas e roupas fantásticas”. “Há muito mais para além disso e é importante perceber que essas mulheres que foram tão banalizadas durante 40 anos passaram tão mal para serem quem foram.” No fundo, as quatro protagonistas – Bárbara Branco, Ana Marta Ferreira, Lia Carvalho (Teresa Miguel) e Carolina Carvalho (Lena Coelho) – esperam, com esta minissérie, eternizar as Doce “de forma honrosa”, fazendo uma homenagem “digna de quem elas são”.
A ficção nacional continua, assim, a ser uma grande aposta da RTP, tanto na televisão em prime time como na plataforma de streaming RTP Play, onde todos os conteúdos produzidos pelo canal estão disponíveis. Além disso, em breve chegará ao RTP Lab, o laboratório criativo e experimental dedicado ao digital, a série Barman, protagonizada pelo humorista Carlos Pereira, e os espectadores podem ainda contar com a 2.ª temporada de 3 Mulheres no pequeno ecrã.