No passado dia 17 de fevereiro, o Séries da TV esteve presente nas filmagens de uma das novas apostas da RTP, Projeto Global, que decorreram na Rua do Século, em Lisboa. Durante as filmagens, além de termos assistido à gravação de uma cena, ainda conseguimos conversar um pouco com a atriz Jani Zhao (imagem acima) e com o realizador da série, Ivo Ferreira (Sul).
Inspirada na juventude ativista dos anos 80, em Portugal, Projeto Global conta ainda com Gonçalo Waddington, José Pimentão, Ivo Canelas e Rodrigo Tomás no elenco. Trata-se de um filme que também vai ter uma versão em série, dividida em seis episódios.
Zhao irá interpretar Rosa, uma jovem atriz e mãe solteira que, tal como muitas pessoas na altura, se politizou e sentiu a necessidade de ter um papel ativo na sociedade. Zhao apresentou Rosa como sendo uma jovem mulher caótica na sua rotina e que tem dificuldade em separar o pessoal do público, tal como as suas convicções pessoais e as convicções de quem a rodeia, mas que, apesar de tudo, Rosa não é uma pessoa influenciável.
O filme/série irá retratar Portugal na pós-revolução e iremos ver uma época em que as pessoas viviam num ambiente de medo, desespero, aflição e, ao mesmo tempo, descontentamento. Apesar de não ter vivido essa época, Zhao confessou que falou com diversas pessoas que viveram este tipo de regime, incluindo os pais, que viveram sob o regime de Mao Tsé Tung, que se caracterizou como uma ditadura muito severa, o que lhe permite compreender os sentimentos das pessoas nessa época. Apesar de a trama ter um contexto específico e retratar em alguns momentos o surgimento de uma organização armada clandestina conhecida como FP-25, o objetivo não é ser algo didático nem uma aula de História, mas retratar as personagem de modo a tentar humanizá-las, ao invés de as apresentar como meros produtos da sua época, focando-se em retratar o seu lado mais humano. Por isso mesmo, iremos ser apresentados às convicções, medos e esperanças de cada personagem.
Zhao falou da sua personagem com algum entusiasmo pelo facto de, a seu ver, não ser, de certa forma, estereotipada, mas a representação de uma mulher portuguesa dos anos 80 com toda a complexidade que envolve ser mulher, algo que considera que tem faltado na ficção, uma vez que as personagens femininas, na sua maioria, ou são muito frágeis ou muito fortes e rijas, faltando o meio termo que aqui iremos ver.
Quanto à receção da sua personagem pelo público, a atriz não tem ideia de como será, mas espera que os espectadores se identifiquem de alguma forma com a Rosa e que a série sirva de inspiração para as pessoas serem mais ousadas, mais rebeldes e mais corajosas. Para além disso, espera que a série promova uma reflexão pessoal, pois não podemos nem devemos dar nada por garantido, lembrando que se agora somos livres é porque houve quem lutasse por tal e que tal direito nos pode ser retirado a qualquer momento.
De forma a finalizar, a atriz revela-nos que esta personagem, comparada com todas as que já interpretou, é a que vai mais a fundo no sentido de construção de personagem, tendo sido criada ao longo de quatro anos. É por isso muito elaborada em todos os aspetos da sua personalidade e afetou Zhao a nível pessoal, tendo-a feito questionar o seu posicionamento social e o seu papel enquanto cidadã.
Enquanto Jani Zhao nos falou mais sobre a sua personagem, o realizador Ivo Ferreira elucidou-nos mais sobre o conteúdo como um todo, começando por nos explicar o contexto de Projeto Global.
“O contexto é uma série de malta que tinha 15 a 16 anos quando se dá o 25 de Abril e que é politizada nessa altura e que vive toda essa festa e que depois, de alguma forma […] quer continuar […] um processo revolucionário que estava a acontecer durante o PREC… E, de repente […] eles sentiram que o papel deles era continuar a fazer esta revolução que tinha acabado para outros”.
Apesar de o filme/série não ter como foco as FP-25, não será possível fugir totalmente ao assunto ou não se tratasse de um produto de ficção que tem como base acontecimentos reais. Nesse sentido, o realizador refere, inclusive, uma cena da soltura de um porco numa praça pública que efetivamente aconteceu. No entanto, não pretende que os eventos sejam fielmente retratados, principalmente porque a história desenrola-se ao longo de dois anos e os acontecimentos que lhe servem de inspiração aconteceram ao longo de muitos mais anos. Assim, Ivo Ferreira faz questão de relembrar que o principal objetivo é retratar uma geração que se sente ludibriada pelo 25 de Abril e que por isso tem a necessidade de continuar a luta com um espírito que ele afirma ser próprio da juventude.
O realizador de Projeto Global expressou que o facto de ser uma história sobre a juventude irá causar alguma reação nos jovens de hoje pelo facto de apresentar uma energia muito própria de uma certa idade e que se manifesta num desejo de querer mais e de modificar a vida, não importa a época retratada. Em relação à série em si, Ivo Ferreira não adiantou muito, principalmente por falta de tempo, pois enquanto tentava esclarecer dúvidas, tinha ainda de continuar as gravações das cenas. No entanto, a existência da série deve-se ao facto de o realizador ter encontrado muitas “pérolas” durante o seu trabalho de investigação para a criação da história e não foi capaz de escolher quais deveria deixar de fora. Assim sendo, há diversas cenas que não estarão no filme, mas que poderemos ver na série.