No passado dia 30 de junho, durante a apresentação da 2.ª temporada de Pôr do Sol, o Séries da TV esteve à conversa com o realizador Manuel Pureza e o argumentista Henrique Dias sobre o processo criativo por detrás da série de sucesso e alguns pormenores sobre a aguardada nova temporada, que estreia na próxima segunda, dia 8 de agosto, na RTP1 e RTP Play. Fica com a entrevista na íntegra.
O processo de criar a série, criar os personagens e depois encontrar os atores certos para encaixar nas personagens foi fácil?
Manuel Pureza (MP): Facílimo. Acho que é unânime que as nossas reuniões por Zoom são muito feitas de “E se fosse…?”. Não houve nenhuma dificuldade. Claro que foi uma coisa discutida, mas não foi nenhum drama. Temos imensas pessoas e super talentosas, estou super orgulhoso deste elenco.
Com toda a pressão que houve para uma renovação, vocês já estavam à espera da 2.ª temporada?
Henrique Dias (HD): Sim, nós soubemos logo que ia haver, mesmo antes de ter sido anunciada a nova grelha da RTP. A questão é que, antes de começar a escrever, estive ali a procrastinar. Na minha cabeça eu dizia que andava à procura de ideias, mas estava era cheio de medo de fazer a 2.ª temporada. Até que um dia disse: “Tenho que começar a escrever esta porcaria!” – e começámos a ter as reuniões. Porque o medo era muito. Era o medo do segundo álbum. O primeiro correu tão bem que tens medo, mas quando entras no processo e passado um mês de estares dentro daquilo já te esqueceste disso. Já estás a trabalhar e a correr bem. Mas foi em tempo recorde à mesma, quer a escrita, quer as gravações.
E quando acabaram a 1.ª temporada, já tinham ideias para uma continuação?
HD: Não, nada. Quando acabámos a primeira, estava tão exausto de puxar pela cabeça que não estava minimamente a projetar nada. Foi uma alegria de estar acabado e um pânico para ver se resultava. Só muito mais tarde é que nos sentámos outra vez.
O que podemos esperar da 2.ª temporada, dentro do que nos podem revelar?
HD: Posso revelar que o Simão vai fazer um caminho moral ao longo de toda a temporada, que vai morrer um personagem que as pessoas gostam muito e que a herdade vai estar à beira do desastre várias vezes…
Como é gravar cenas com a mesma atriz a interpretar duas gémeas? Na televisão portuguesa não é assim tão normal ver isto a acontecer.
MP: É mais fácil do que quando são três. (risos) É um processo que, infelizmente, por causa do tempo e do dinheiro é muito arcaico. Mas parte do meu trabalho como realizador é escolher como é que vou contar esta história que de repente tem duas pessoas iguais, que são a mesma. Eu acho que tem tudo a ver com câmara, ideias de argumento e depois ter um talento como o da Gabriela Barros, que é, eu diria, uma das melhores atrizes que este país já viu nascer e acho que o país é pequenino para ela. Ela é inacreditável em tudo o que faz.
Sendo uma série cómica, é difícil não conter o riso. Com os atores, e durante as gravações, aconteceu muito terem que regravar as cenas porque alguém se começava a rir?
MP: Aconteceu várias vezes. Há uma característica boa, eu acho que é: nunca disse um “corta” irritado. E eu tenho uma gargalhada muito sonora, sou um bocado javardo a rir e aquilo que mais se ouve no making of é de facto eu a rir e a dizer: “corta, está ótimo!”. Aconteceu várias vezes contaminarmo-nos uns aos outros com o humor da série, com os risos. O Rui Melo quando se ri é impossível aguentar, a Gabriela quando se ri é impossível aguentar, a Noémia Costa, o Manuel Cavaco… Acho que não há ninguém neste elenco que quando se começa a rir uma pessoa diga: “vá lá, vá lá…”.
Qual foi a cena mais difícil de gravar?
MP: Na 1.ª temporada, a mais difícil de fazer foi uma cena em que a Madalena (Sofia Sá da Bandeira) está cega e começa a dizer: “Quem vem lá? São os Jeovás?”. Estivemos à vontade mais de meia hora só para nos pararmos de rir porque a Noémia Costa morreu com essa frase. O Rui Melo estava de costas nessa cena e só se via os ombros a mexer por se estar a rir.
Por falar em comédia, muitas vezes pode ser mal interpretada. Existem esses receios enquanto estão a escrever o guião? São usadas muitas piadas relativamente à saúde mental, por exemplo.
HD: Não, eu acho que nós, hoje em dia, temos que ter mais cuidado do que normalmente teríamos, mas, mesmo que não fosse hoje em dia, nós temos que pensar sempre: quando fazemos esta piada estamos a gozar com a pessoa que diz a piada e é ignorante ou estamos a gozar com a pessoa que está do outro lado? Se estivermos a gozar com a pessoa que está a dizer, para mim não há problema absolutamente nenhum. Quando está a gozar com a outra, tiramos. Fazemos este policiamento. Eu acho que não há temas tabu, agora a questão é, quando se está a fazer está-se a fazer para ofender, está-se a brincar com a pessoa que tem o problema ou com a pessoa que está a dizer?
Como é que se sentiram quando souberam que Pôr do Sol ia ficar disponível na Netflix?
HD: Foi ótimo que uma plataforma como eles, de todos os produtos que foram feitos em Portugal, escolhessem um produto como o nosso, que ainda por cima já tinha sido um produto que já tinha estado na RTP e foi o mais visto da RTP Play. Portanto, nós podemos pensar que para eles apostarem numa coisa que já teve tantas visualizações no streaming é porque acreditaram mesmo no projeto e gostaram mesmo dele. Nós estivemos, já não me lembro quantas semanas, no top 10 das séries mais vistas da Netflix, ou seja, depois de ter feito aquele percurso todo, ainda estar tanto tempo, é fantástico.
Agora, só para puxar um bocadinho o véu, já há ideias para uma 3.ª temporada?
HD: Nós não queremos fazer mais. Acho que esta coisa de continuar eternamente e esgotar não faz sentido. Acho que mais vale pensar: “OK, fizemos isto, foi bem feito, agora temos outras ideias, vamos fazer outras coisas.”
Mas vai acabar bem?
HD: Isso não posso dizer! Nós não queremos fazer mais. É terminar em alta, vamos esperar que isto corra tão bem como a outra. Nós achamos que sim.
Bárbara Cerqueira e Rita Rodrigues