Nem a Gente Janta é a nova série do RTP Lab que estreou no dia 28 de março na RTP Play. A série passa-se em Lisboa e acompanha a vida de Inês, de 25 anos, que divide casa com Luís quando recebe um aviso de despejo por parte da senhoria. Nem a Gente Janta é inspirada em detalhes reais e parte da vontade de Inês Sá Frias, a autora e protagonista, de homenagear o pai e o avô.
Durante cinco episódios, que no seu total não acabam por durar muito mais de 80 minutos, seguimos Inês na tão atual e conhecida aventura pelos senhorios de Lisboa. Conhecemo-la a um nível profundo e íntimo e ao seu colega de casa, Luís, a um nível um pouco mais superficial e cómico. Assim, a série consegue estabelecer um balanço entre o drama e a comédia, mantendo o espectador agarrado. Devo confessar que fiquei surpreendida como em tão pouco tempo consegui ficar tão envolvida na história destas personagens.
O que mais me atraiu para ver esta série foi, sem dúvida, o aspeto familiar e a homenagem que estaria a ser prestada. Nem a Gente Janta acaba por captar de forma simples, mas eficaz, o que é perder alguém de quem gostamos, assim como a culpa que sentimos por viver um dia que seja sem pensar nessa pessoa. Por um lado, não queremos esquecê-la, por outro, não queremos ficar presos ao passado.
Obviamente que aliado a todo este aspeto mais introspetivo, está toda uma peripécia engraçada que conecta todas as linhas de enredo da série, desde o despejo de Inês e Luís, à vida amorosa de Luís e ao avô de Inês.
Não quero entrar muito pelo campo dos spoilers, pois arruinaria completamente a experiência, que recomendo totalmente. É sempre complicado fazer uma crítica a algo que até certo ponto é inspirado na vida da autora. Ainda assim, para alguém que olha a série e vê bastantes elementos fictícios também, é difícil acreditar que na vida da Inês não há uma única personagem feminina. Desde o pai ao avô, ao irmão, ao colega de casa e a um potencial interesse amoroso, não há grandes menções a figuras femininas (só mesmo a senhoria marca a diferença). Se fosse uma série puramente ficcional, estaria à vontade para apontar o dedo ao patriarcado como culpado de a protagonista se rodear só de homens na sua vida, de forma a sentir-se protagonista. Mas obviamente, com a realidade é sempre tudo mais delicado e pode, de facto, haver uma razão para esta ausência feminina na série. Ainda assim, deixa o espectador a estranhar.
O elenco esteve bem e correspondeu ao esperado, tanto na vertente dramática como na cómica. A nível técnico, cinematograficamente a série é muito bonita; já o som, por vezes, parece um pouco fora de sítio, especialmente nos momentos mais engraçados. Entende-se que o exagero e a excentricidade fazem parte do tipo de humor desejado, mas por vezes não encaixa tão bem. A nível de escrita, na maioria dos momentos achei que esta estava no ponto. Por vezes, um pouco pretensiosa, mas um bom pretensioso, no sentido de ser uma série passada na juventude, juventude essa em que todos acham saber tudo sobre tudo. Nos últimos episódios há alguns diálogos que, na minha ótica, são demasiado literais, quando no resto da série é muito o “mostra-me, não me digas”.
Tal como já mencionei, Nem a Gente Janta é uma série rápida de se ver, o que é bom e mau. Bom porque não exige muito investimento e mau porque ficamos a desejar ver mais. É necessário apoiar produções portuguesas e esta é daquelas que realmente o merece!
Ana Leandro