[Não contém spoilers]
O Atentado é a mais recente aposta da RTP na ficção televisiva. A história decorre em 1937, quando Salazar já se encontrava no poder e o país começava a sentir as consequência da sua mão de ferro. Um grupo de pessoas, dispostas a pôr um ponto final na ditadura, orquestrou um atentado à bomba que falhou. Seguiram-se meses de uma forte perseguição por parte da polícia do estado, a PVDE, cuja dignidade saiu ferida do incidente. Baseada nestes factos reais, a série de dez episódios, da autoria de José Moita Flores, transporta-nos até ao final dos anos de 1930 em Portugal de forma, uma vez mais, exemplar e realista.
Como já parece ser hábito nas séries portuguesas, o ritmo deste primeiro episódio é bastante lento. Ficamos a conhecer as personagens que vão marcar a história, de que lado do regime se encontram e qual será o seu possível papel no atentado que tem em vista matar Salazar. Ainda que os 40 minutos se estendam e a narrativa não avance, os cenários e as caracterizações prendem o olhar – características estas sempre presentes nas produções nacionais e que até agora ainda não desiludiram.
A par de tudo isto está o elenco. São raras – ou mesmo nenhumas – as caras que não são conhecidas do nosso olhar e é bom vê-las todas juntas, tanto as old school como as novas gerações. Temos Laura Dutra (de 1986) na pele de Isabel, que vai sem dúvida representar o amor em tempos de sofrimento e opressão; Luís Filipe Eusébio, que depois de A Espia volta a envergar a farda da polícia do estado no papel de Samuel Maneta; João Paulo Sousa volta à representação e também ele vai vestir o uniforme da PVDE, embora seja visível que não o deixa confortável; João Craveiro é a principal cara da oposição e Pedro Lamares um dos mais acérrimos defensores do regime. A lista de nomes é longa, mas todos eles demonstram uma grande encarnação das suas personagens e fazem um excelente trabalho a situar o espectador na época e quem defendem.
O que ficou mais aquém no piloto foram os efeitos especiais do fogo do vislumbre do que será o atentado. Calculo que o orçamento não tenha chegado para tudo e talvez tenha sido mais fácil optar por uma solução pirotécnica digital. Contudo, vê-se perfeitamente que assim o é e não é de todo das mais bem conseguidas. Ainda assim, este é apenas um pormenor numa série que promete entregar mais um grande pedaço da nossa História, desconhecida para muitos. Aquando da estreia de A Espia, uma das coisas que salientei na review foi o lado educativo destas produções, para o qual O Atentado contribui em larga escala. Quantos de nós sabiam que tinha havido uma tentativa de assassinato do ditador do Estado Novo quatro anos depois de subir ao poder? Eu confesso que não sabia e essa é uma das coisas que mais me deixa entusiasmada pelos próximos episódios.
O Atentado, tal como outras séries portuguesas de época que a precederam, promete ser uma boa aposta da televisão nacional. O estigma que ainda existe nos espectadores relativamente a este formato televisivo feito em Portugal vai lentamente começando a desvanecer-se e a permitir que o público abrace o que de bom se faz por cá. Vejam e ponham de lado comparações desnecessárias com as produções internacionais com budgets de múltiplos dígitos. Vão gostar!
Beatriz Caetano