De Pôr do Sol…
Sábado. 15h30. Sala de Imprensa da Comic Con Portugal. Os jornalistas aguardavam o elenco e realizador da série Pôr do Sol, enquanto se preparavam para os surpreender. Eram 15h45 quando entraram na sala da Conferência de Imprensa, moderada por Vítor Rodrigues, e, em uníssono, todos os presentes receberam os convidados Manuel Pureza, Cristóvão Campos, Madalena Almeida, André Pardal e Rui Melo ao som do genérico de Pôr do Sol.
O gelo estava automaticamente quebrado e assim tiveram início as questões dirigidas aos presentes, que vieram em representação de uma das grandes produções de 2021 da RTP. Assim, naturalmente, a primeira abordagem aos convidados foi relativamente ao sucesso e ao impacto da série. Cristóvão Campos foi o primeiro a intervir, admitindo que não estava de todo à espera, mas que a intenção de todos era clara quando trabalharam a série: brincar com o formato mais reconhecido no país, as novelas. O boom foi extraordinário, mas existiu imenso trabalho por trás de investigação sobre todos os clichés típicos das novelas: os comas inexplicáveis, os copos partidos, as gémeas separadas à nascença.
A conversa foi avançando e surgiu o programa Desliga a Televisão, de 2019, que Rui Melo considera ter sido uma primeira abordagem ao que acabou por ser Pôr do Sol, quase como a testar as águas, mas também admitiu ter ficado com menor qualidade do que a presente série. De facto, foi terem arriscado no programa Desliga a Televisão que lhes permitiu evoluir o critério de escrita e exigência, assim como aquilo que consideram ter ou não ter qualidade.
Já era esperado que algum dos intervenientes questionasse a cena mais desafiante de gravar e Rui Melo foi claro: partir copos. Ao que parece, cada copo, feito de açúcar, custava a módica quantia de 35€, o que exigia que ele não se risse e não estragasse a cena em questão. Cristóvão interveio dizendo que, para ele, o mais desafiante foi encontrar a linha ténue entre o ser engraçado, mas não exagerar ou caricaturar – que não era de todo o tom que queriam empregar. André Pardal é rápido a concordar, sublinhando que, no caso da banda Jesus Quisto, foi definitivamente o mais difícil.
Embora Manuel Pureza já tivesse, em conversa com o Séries da TV, revelado que era extremamente importante que os atores e equipa não se divertissem demasiado e não levassem todo o guião e trabalho para tons jocosos ou de demasiada brincadeira que acabassem por arruinar o trabalho final, no terceiro dia do evento revelou que chamavam a esse mote a “Maldição Manuel Cavaco” – quando se divertem a trabalhar, o projeto não tem sucesso. Felizmente, Pôr do Sol foi a série que contrariou a maldição.
Rui Melo foi pronto a elogiar a escrita de Henrique Dias, que não conseguiu estar presente, e brincou dizendo que tem a certeza que “ele tinha tomado muita coisa antes” e que “gostava de saber quem é o dealer dele”. Todos concordaram que a escrita de Henrique Dias é de génio e que, apesar de Melo e Pureza terem ajudado na parte de investigação, o guião foi praticamente escrito por Henrique.
Acima de tudo, os presentes são muito claros: “tudo o que foi escrito acontece em novelas, exceto o Testículo andar para trás.” É esta premissa que leva Cristóvão a partilhar que, em novelas, já teve que falar com um golfinho chamado Kiki, e Diogo Amaral – que entretanto entrou na sala da Conferência de Imprensa e foi recebido pelos jornalistas presentes de igual forma – tem a sua primeira grande intervenção recordando que já tinha, em novela, falado com uma árvore e que a voz da árvore (que era representativa da mãe da namorada da sua personagem) era a de Teresa Guilherme.
O elenco é unânime: Pôr do Sol não é um gozo aberto e barato às novelas, é uma sátira. É Pureza que diz que a série é uma brincadeira amigável com os papéis que todos os atores já fizeram no passado. Não pretende ser hostil, mas sim elevar o género da novela a outro patamar, glorificando-o, de certa forma.
Entre receios sobre como o público iria receber as piadas ou os trejeitos das personagens e as cenas passadas na Madragoa que serviram como cola da série inteira, foi com carinho que recordaram o processo de descoberta até ao produto final. O realizador, Manuel Pureza, recordou com carinho um momento que o próprio considera ter sido o seu trabalho mais divertido. O realizador está a fazer de toxicodependente como figurante, simula que cai contra a parede e, enquanto ouve Madalena Almeida a lançar a sua fala, só pensava “Estou a ser pago para fazer isto. Altamente!”.
Segue-se uma questão de um representante do Séries da TV, Raul Araújo, sobre o caminho para a 2.ª temporada e Pureza é honesto: o caminho ainda não começou. Confessou que tiveram apenas umas reuniões por Zoom para lançar ideias de um trabalho que começará na próxima segunda-feira e que estão um pouco assustados com a pressão que colocam sobre eles próprios de manter o nível da 1.ª temporada. Acabaram por contar à imprensa presente que o único feedback negativo de colegas de profissão que tiveram foi não os terem convidado para fazer parte do projeto, com Pureza a confessar que recebeu ameaças de quem não teve hipótese de integrar o elenco.
Num tom que acompanhou sempre a conferência de imprensa, outro membro representante do Séries da TV, Beatriz Caetano, interveio para perguntar aos elementos do elenco que formam a banda Jesus Quisto quando iam finalmente entrar em digressão. Se se gerou rumor ou não, o certo é que os Jesus Quisto estão prontos para atuar no Festival Andanças em 2034. Na realidade, Rui Melo, que foi responsável em grande parte pelo processo criativo das músicas, revelou que a produção tem, de facto, recebido convites para atuações da banda, deixando-os sem saber bem o que fazer, uma vez que na banda nem todos são de facto músicos.
Naquela que foi considerada uma das mais caóticas conferências de imprensa do evento de cultura pop, mas também uma das melhores, o elenco de Pôr do Sol terminou dizendo que estar na Comic Con é um sentimento espetacular e agradeceram aos jornalistas presentes toda a boa disposição.
… A Sol Posto
Após a conferência de imprensa, seguiu-se um painel da série portuguesa Glória onde, no final, o moderador Pedro Oliveira anunciou, com toda a convicção, que o elenco e a equipa de produção de “Sol Posto” estariam presentes no Golden Theatre de seguida.
Se o sol se pôs não sabemos, mas o que sabemos é que a apresentação da série começou muito bem com um mini-concerto da banda Jesus Quisto, que presenteou o público com dois dos seus grandes hits. Após o concerto, ao elenco que esteve presente na conferência de imprensa juntou-se José Fragoso, diretor de programas da RTP, e a moderadora Inês Lopes Gonçalves. Grande parte do painel moderado pela apresentadora do programa 5 Para a Meia-Noite referenciou os momentos que aconteceram na conferência de imprensa e algumas questões do público presente levaram a mais momentos de risada entre todos os presentes no painel.
No final, o público pôde ver um pequeno teaser da 2.ª temporada da série Pôr do Sol, que está prevista estrear em agosto de 2022 na RTP.
Joana Henriques Pereira e Raul Araújo