Ao terceiro dia da 7.ª edição da Comic Con Portugal, Manu Bennett, reconhecido principalmente pelas suas participações nas séries Spartacus e Arrow, presenteou fãs, participantes e jornalistas com uma boa disposição que costuma caracterizar os convidados considerados menos “mainstream“.
Conferências de imprensa – dos temas recorrentes a reflexões profundas
Manu Bennett chegou a Portugal alguns dias antes da data marcada para a sua participação no evento de cultura pop português. É, revelou, algo que gosta de fazer – conhecer os locais para onde viaja. Ao longo desses dias, foi partilhando com os seus seguidores do Instagram diversas fotos e vídeos nas stories, onde incluiu músicas. Duas delas foram Primeiro Beijo, de Rui Veloso, e o cântico de claque do clube Sporting Clube de Portugal, Só eu Sei. Para não ferir suscetibilidades, o ator explicou que o “culpado” por estas escolhas foi o seu road manager (o profissional que acompanha os atores neste tipo de eventos).
Uma questão óbvia que seria abordada era o elevado número de cenas de ação e luta que as suas personagens, especialmente Crixus, de Spartacus, e Slade Wilson, de Arrow, requereram. Para ele, o mais importante nestes momentos da série é que pareçam realistas, levando o seu trabalho tão a sério que se lesionou várias vezes – desde mazelas nas mãos a três costelas partidas, situação que só descobriu a caminho de uma edição da Comic Con San Diego, quando sentiu dor a respirar durante a viagem de avião.
Ainda sobre a temática das cenas de ação, Manu Bennett explicou que estas exigem treinos muito intensos que começavam seis semanas antes das gravações. Em Spartacus, quase todas todas as coreografias de luta eram desempenhadas pelo próprio. Contudo, em Arrow, a situação era diferente. Gravada no Canadá, a série adaptada da banda-desenhada da DC tinha regras mais rígidas no que toca à segurança dos atores e, como tal, a utilização de duplos era mais recorrente. Entre risos, o ator referiu que, provavelmente, tinham receio que Stephen Amell, o Oliver Queen/Green Arrow, se magoasse, caso fizessem as coisas com a mesma intensidade física que na série sobre gladiadores.
Num tom mais sério, e no contexto da conversa sobre a escolha musical das suas publicações nas redes sociais, Manu Bennett revelou que quando viaja, seja por lazer ou em trabalho, gosta de absorver o máximo que consegue daquilo que o rodeia. As diferentes perspetivas, culturas e formas de viver são algo que o enriquecem pessoalmente.
Neste seguimento, a conversa aprofundou-se ainda mais quando o Séries da TV perguntou como é que essas culturas e perspetivas influenciam quem ele é como ator. A resposta chegou de uma forma complexa, completa e íntima. Primeiro, com uma analogia com um pianista: a peça musical pode ser a mesma, mas a forma como o artista traz essa peça à vida e a interpretação que lhe dá é crucial. Como ator é um pouco isso que faz: usa tudo por que passou. Revelou que, aos 15 anos, perdeu a mãe e o irmão em acidentes de viação, utilizando essa carga emocional, por exemplo, nas cenas mais dramáticas da sua personagem Crixus, em Spartacus.
Depois, mencionou o seu trisavô, chefe de uma tribo Māori (povo indígena da Nova Zelândia, de onde o ator é natural), que teve aos seus ombros o peso de decisões para evitar guerras. Essa herança cultural está igualmente presente no seu trabalho artístico e tudo faz parte da sua jornada. Para terminar a metáfora, voltou ainda ao tema do piano, relembrando a interpretação de um pianista alemão de Chopin e como esse momento teve um impacto enorme nele. Porém, ainda não sabe o que é que faz uma performance ter esse impacto, mas anda a tentar descobrir.
Já no segundo dia de conferência de imprensa da Comic Con, Manu Bennett, sempre com a mesma boa disposição, foi presentado com perguntas mais levianas e, naquilo que foram uns minutos de conversa descontraída, partilhou com todos os presentes a história de como conseguiu o papel de Slade Wilson.
O ator tinha estado no Kuwait com militares que lhe ensinaram como fazer um estrangulamento – por demonstração, claro – e foi essa a técnica que Manu aplicou no casting para representar Deathstroke. No local do casting, e em dez segundos, “simula” um estrangulamento num miúdo que estava como stand-in e sussurra a frase: “Tens dez segundos para me dizer algo em que eu acredite antes de te cortar o pio”. Aparentemente, o estrangulamento não foi só simulação, porque dez segundos depois, o miúdo estava no chão inconsciente. Manu não sabe se foi isso que lhe garantiu o papel, mas o certo é que dois dias depois recebeu a chamada do diretor de casting a confirmar que tinha conseguido e prometeu-lhe não revelar a filmagem do momento para não criar precedentes.
Um painel intimista, como Manu Bennett consegue ser
Embora o painel estivesse longe de estar lotado, o público presente demonstrou um grande apoio a Manu Bennett, da saudação inicial à final. Moderado por Vítor Rodrigues, o painel intitulado “De gladiador a vilão” começou com uma troca de palavras entre ambos, até o público ganhar coragem de se aproximar dos microfones e fazer algumas perguntas. Após a conversa habitual sobre o que estava a achar de Portugal, Manu Bennett contou que visitou o Castelo de Palmela e que, inclusive, se encontrou lá com a atriz Lana Parrilla.
Quando questionado sobre o quão arriscado era o enredo de Spartacus, das cenas de violência às cenas de sexo explícito, Bennett disse que nunca se preocupou, porque desde o início percebeu que a história era algo muito maior do que apenas esses momentos – era um arco muito bom, com um elenco e produção recheados de pessoas que adorou conhecer. Para dar vida a Crixus, não se quis inspirar num gladiador heroico ao estilo de Clint Eastwood, queria alguém que estivesse meio “broken inside”.
Para terminar o painel, onde pouco se abordou o seu papel em Arrow, a conversa foi levada para a sua participação em The Shannara Chronicles, que, para ele, foi a oportunidade de ser o protagonista Allanon, uma personagem que, ainda por cima, o marcou pelo seu sentido de moral e ética. Quanto à falta de sucesso desta produção da MTV, cancelada na 2.ª temporada, o ator referiu que considera que a principal causa para isso foi a falta de apoio do canal, uma vez que foram deixados “cair” pela MTV mesmo antes de o primeiro episódio estrear, e que se tivesse sido produzida por uma HBO de certeza que teriam tido muito mais sucesso e temporadas.
Adicionalmente, o Séries da TV esteve à conversa com Manu Bennett numa entrevista marcada pelo mesmo tom profundo demonstrado na conferência de imprensa.
Beatriz Caetano, Joana Henriques Pereira e Raul Araújo