PAINEL:
Foi em bom português que Daniela Ruah deu as boas vindas ao completamente cheio auditório que esperava em pulgas para a receber na Comic Con Portugal. A “nossa” – como foi, e bem, vincado pelos apresentadores – artista não quis deixar o momento escapar e entrou de câmara na mão a retratar momentos para mais tarde recordar.
O painel foi moderado pelo bem-disposto apresentador Luís Filipe Borges, que deu o pontapé de saída na conversa rapidamente, passando a palavra a Daniela que a partir daí tomou conta do palco.
Foi essencialmente através das perguntas e respostas, incluindo alguns abraços pelo meio, que Daniela foi revelando algumas coisas sobre a série de enorme sucesso, NCIS: Los Angeles, que protagoniza há mais de nove anos. Daniela começou por dizer que são todos uma grande família. Inclusive faz par romântico com aquele que é o seu cunhado na vida real e que isso não é um problema. Daniela deixou muitas palavras bonitas para o seu colega Eric Christian Olsen, que interpreta Deeks, dizendo que este é um parceiro em todos os sentidos da palavra.
Daniela falou ainda de como foi gravar as cenas mais intensas na série e como se prepara para as mesmas. O momento mais emocional do painel chegou quando um fã perguntou a Daniela sobre Miguel Ferrer, ator e colega da atriz, que faleceu no início do ano. A atriz emocionou-se ao recordar o colega por quem tinha um carinho e amizade profunda. Recordou também um técnico que faleceu praticamente na mesma altura, mas que não chegou aos ouvidos dos fãs, revelando que, para toda a equipa, foram momentos difíceis.
A bela e talentosa atriz não deixou de agradecer o apoio dos fãs, dizendo que ela e os colegas de trabalho sabem que sem eles isto não seria possível. Foi um auditório completamente cheio que se juntou para ver uma Daniela simples, simpática e divertida. Como ela disse a dada altura, “Sou apenas uma mãe que vai para o trabalho todos os dias”.
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CONFERÊNCIA DE IMPRENSA:
Chegando à sala com um sorriso na cara e um “Olá” nos lábios, Daniela Ruah mostrou um grande à vontade perante toda a audiência de imprensa presente no último dia da Comic Con Portugal. Foram várias as perguntas que lhe fizeram relacionadas com a evolução e transição da sua carreira de Portugal para os Estados Unidos da América e relacionadas com a sua personagem, Kensi Blye, na série NCIS: Los Angeles.
A primeira pergunta que lhe colocámos foi sobre o desafio que é fazer parte de uma série que é um spin-off, honrando a série original, mas tornando-a única em si própria. Daniela relembra que quando NCIS: Los Angeles começou houve muitas comparações e que as pessoas tentaram fazer os seus paralelos – Ziva e Kensi como as duas mulheres de ação, Dinozzo e Deeks como os sarcástico-cómicos – e que houve, sem dúvida, uma fórmula da série original que funcionava com o público e que serviu de inspiração, mas que, na sua opinião, a sua série é um pouco mais jovem, o que se reflete também no seu público também um pouco mais jovem. A série passar-se em Los Angeles e ter Linda Hunt também trazem toda uma outra onda mais cool a NCIS: Los Angeles. “Ao longo de nove anos, vamos encontrando o nosso espaço no mercado, fazendo com que a série seja nossa e não só um spin-off da outra”, colmata Daniela.
Um dos momentos mais cómicos da conferência foi quando um dos presentes começou uma pergunta com “Eu vou 3 temporadas atrasado em NCIS: LA…” e Daniela responde com um: “- Sai!”, ao qual se seguiram risos por parte da atriz e de todos os presentes.
As perguntas seguiram-se e passaram, claro está, pelos seus tempos de telenovelas em Portugal. “Tenho imensas saudades [de Jardins Proibidos]! Eu sou muito agarrada ao meu passado, no bom sentido,” responde Daniela com nostalgia no rosto. “Eu gosto sempre de andar para a frente e da ideia de mudança. Mudar de cidade, mudar de país, mudar de trabalho e da parte criativa que isso engloba. Mas tenho sempre saudades e sei sempre de onde vim e onde comecei. E tento sempre fazer com que os meus filhos se lembrem das pequenas coisas. Sabermos de onde vimos é super importante.”
Fala-nos depois um pouco das maiores diferenças que sentiu entre os tempos em que trabalhava em televisão em Portugal e como é trabalhar em televisão nos Estados Unidos. Daniela refere os horários como das principais e mais importantes diferenças, lembrando que no seu tempo, pelo menos, os dias começavam sempre às 8 ou 9 da manhã e independentemente das horas a que terminasse, no dia seguinte começava à mesma hora. Enquanto que nos Estados Unidos, devido à ação dos sindicatos do setor, é obrigatório haver 12 horas de intervalo entre o final de um dia de trabalho e o início de outro.
Outra grande diferença prende-se no que é considerado trabalho de um dia. “Nas telenovelas portuguesas nós fazemos 35 a 40 cenas por dia, enquanto nas séries americanas eles contabilizam por páginas e não por cenas e fazemos cerca de 9 páginas. 35 cenas por dia são mais ou menos 50 páginas,” explica a atriz. “É uma fábrica de produção nas telenovelas. Fazem um ou dois takes e têm que avançar porque senão não acabam um dia de trabalho. E connosco as coisas andam [a um ritmo diferente].”
Menciona ainda a importância que respeitar os horários tem também na equipa técnica e como isso influencia os produtos finais.
Sendo Kensi uma personagem feminina tão forte, os assuntos feministas não podiam deixar de surgir! Como é interpretar tal personagem? “É uma responsabilidade bastante grande. Nós queremos representá-la o melhor possível para as gerações mais novas. Mas ser uma mulher forte não significa não ter vulnerabilidade, não significa não ter os nossos momentos de fraqueza, mas sim como é que nós ultrapassamos os problemas.” Muito bem dito, Daniela!
Sobre a questão do assédio sexual na indústria cinematográfica e televisiva, Daniela responde que felizmente nunca foi vítima disso nem trabalhou com ninguém a quem saiba que tenha acontecido, mas deixa uma opinião muito importante acerca do movimento que se tem gerado para expor estes casos, tanto recentes como muito antigos. “Acho super importante estarmos a falar. Porque mesmo que estas situações tenham acontecido há 20 anos atrás, há 15 anos atrás, temos que falar no assunto. Porque isto tem-se tornado parte da vivência das mulheres. ‘Eu tenho que passar por isto para manter a minha carreira.’ E é uma treta! Apesar de nunca me ter acontecido fico sempre emocional a falar do assunto. É muito importante as mulheres juntarem-se agora e ganharem força umas nas outras. Até podem perguntar ‘Ah, porque é que decidiste dizer só agora?’… Nós não sabemos o que é que se passa, emocionalmente, dentro de uma pessoa depois de passar por uma situação dessas. Nós não podemos julgar as pessoas, não podemos. E portanto eu acho muito bem que encontrem força nas massas e que continuem. (…) Se os homens também ganharem força nas massas e de terem coragem de sair e falar [sobre o que fizeram], acho que faz muito parte da cura para os dois lados.”
Disse-nos ainda que soube que tinha sido selecionada para o papel de Kensi Blye poucos minutos depois de ter feito o casting, já quando estava à espera do táxi para voltar ao aeroporto, quando a diretora de castings veio a correr para ela, sussurrando-lhe ao ouvido que tinha sido ela a escolhida.
E quando questionada sobre uma possível ambição de passar para o cinema, Daniela responde que há muita criatividade e valor de produção nas séries neste momento e que, embora gostasse de ter a experiência de fazer cinema, sente-se perfeitamente preenchida ao fazer séries.
Já quase no final, foi questionada sobre o efeito do regresso de Han Asakeem a NCIS: Los Angeles na sua personagem. Asakeem foi responsável por um acidente que quase acabou com a vida e carreira de Kensi como agente do NCIS, pelo que “obviamente ela sente frustração. Este terrorista tem um significado muito grande na vida dela por isso. Quase fez com que ela se perdesse, que perdesse a sua alma” e por isso o regresso dele é difícil e emocional para a personagem.
Durante a conferência, Daniela Ruah também deixa no ar que já tem vários projetos planeados para o próximo ano, que não pôde revelar já, mas que está muito ansiosa para partilhar com os fãs no ano novo.
Carlos Real e Mélanie Costa