O Séries da TV marcou presença na primeira edição europeia do Tribeca Festival, que decorreu nos dias 18 e 19 de outubro no Beato Innovation District, em Lisboa.
O festival foi fundado por Robert De Niro, Jane Rosenthal e Craig Hatkoff em 2001 de forma a estimular a revitalização económica e cultural da baixa de Manhattan após os ataques ao World Trade Center. De Niro e Rosenthal marcaram presença em Lisboa, onde confirmaram a segunda edição do festival na capital portuguesa, que acontecerá para o ano em datas a confirmar.
Entre as exibições de filmes e séries nacionais e internacionais, o festival contou também com painéis, conversas mais informais, podcasts ao vivo e atuações musicais. Ao longo dos dois dias de festival foram transmitidas várias produções nacionais, tendo o SdTV marcado presença nos screenings de Azul, George e Praxx – Fim de Semana.
Logo no primeiro dia de festival, assistimos ao primeiro episódio de Azul, uma série passada num futuro próximo onde as baleias se acreditavam extintas. Porém, “uma centelha de esperança é reacendida pela descoberta chocante de uma baleia sem vida na costa” de uma das ilhas do arquipélago dos Açores.
No Q&A que se seguiu ao visionamento do episódio, o realizador Pedro Varela revelou que a ideia para o projeto surgiu quando em conjunto com Marco Paiva, ator que dá vida a Américo, decidiram contar uma história sobre inclusão. Com esse pano de fundo, rapidamente surgiu Olívia, a personagem construída a pensar em Leonor Belo, com quem o realizador se tinha cruzado há já quatro anos. Segundo Pedro Varela, Azul é um projeto de capacitação, que procura incluir artistas com deficiência.
Já na manhã do segundo dia de festival, vimos o primeiro episódio de George, uma série documental da jornalista Sofia Pinto Coelho sobre George Wright, um dos homens mais procurados pelo FBI. Em 2011, George foi finalmente encontrado em Portugal, depois de ter andado fugido por França, Argélia e Guiné-Bissau durante 40 anos.
No Q&A que se seguiu ao visionamento do episódio, Sofia Pinto Coelho e Hemi Fortes, a produtora da série, falaram sobre o processo de dar vida a este documentário, mas não sem antes chamarem ao palco alguns membros da equipa de George para que o público pudesse aplaudi-los. Quando questionada sobre o porquê de a história de George Wright não ser mais conhecida em Portugal, Sofia respondeu que “as notícias dão-se no próprio dia e no dia a seguir, mas depois vem outra coisa”. Hollywood, no entanto, “tinha-o fisgado”, disse Sofia referindo-se ao facto de a indústria cinematográfica americana estar a estudar a possibilidade de fazer um filme sobre George, com ajuda do próprio. Porém, a jornalista quis deixar claro que este documentário não é só a história de George porque “o que é interessante também são os tempos que ele viveu, que são extraordinários”: a América da segregação racial e da luta pelos direitos dos negros; a Argélia da pós-independência; a França do pós-maio de 1968, o Portugal do pós-Revolução dos Cravos e uma Guiné-Bissau a construir o socialismo. Interessante para Sofia era também explorar, através desta série documental, a forma como a vida nos molda. “Esta é a história do George Wright, mas podia ser a minha, podia ser a tua, podia ser a de qualquer um.”
No mesmo dia, ainda passámos pelo Q&A de Praxx – Fim de Semana, onde falaram João Jesus e Patrícia Sequeira sobre a forma como eles encaram a praxe e, no caso de Patrícia, como se sentiu obrigada em fazer parte dela enquanto estudava na universidade. Já João, nunca chegou a participar, mas durante as gravações da série chegou a ver uma praxe em atividade e começou a observar. Patrícia afirma que nem toda a praxe é abusiva, mas tanto a série quanto o filme têm a intenção de mostrar o pior lado. O filme foi exibido no festival e foi aí que João Jesus, intérprete do Duxx Gonçalo, assistiu também pela primeira vez. A longa-metragem segue a história contada na série e ainda não possui data de estreia definida.
Infelizmente, os Q&A foram apenas reservados às perguntas dos moderadores, pelo que não tivemos a oportunidade de colocar nenhuma questão. Contudo, teria sido interessante abrir espaço às perguntas do público, como, aliás, promete um Q&A.
O SdTV também marcou presença nas diferentes conversas que tiveram lugar no palco principal do festival, das quais destacamos as conversas com Whoopi Goldberg. Tanto a sua conversa com Ricardo Araújo Pereira, como com Dino D´Santiago, foram momentos de uma partilha com muito humor e, sobretudo, muito enriquecedora, tendo a atriz partilhado algumas das suas aprendizagens ao longo da carreira.
Na sua conversa sobre o Empoderamento das Comunidades através do Storytelling, Dino D´Santiago partilhou com o público uma carta que tinha escrito para a atriz sobre o sentimento de “quando as luzes se apagam”, sobre como é crescer com uma cor da pele que não se escolhe. Foi um momento de pura poesia que não mereceu menos que uma salva de palmas de uma plateia que rapidamente se levantou para aplaudir o cantor. Foi, talvez, o momento em que a arte falou mais alto durante os dois dias de festival. A carta pode ser lida na página de Instagram do cantor.
Foi logo no início da última talk que foi anunciada a segunda edição do Tribeca Festival Lisboa. Apesar do começo promissor, Excelência Duradoura em Hollywood foi um painel particularmente desastroso. O jornalista Bernardo Ferrão, que estava a moderar a conversa, parecia estar mais interessado em falar das eleições presidenciais dos Estados Unidos, particularmente do candidato republicano Donald Trump, do que sobre cinema. No geral, os moderadores das conversas deixaram muito a desejar, com perguntas superficiais, mecânicas e, muitas vezes, longe da temática do cinema.
Também as infraestruturas do espaço onde o festival decorreu não pareceram ser as mais indicadas. O isolamento do som era bastante reduzido e a proximidade do recinto com a estrada não ajudou. Vários foram os momentos em que um orador era facilmente interrompido pelo som de motas ou de carros.
Para um festival de cinema, a oferta de filmes também ficou muito aquém daquilo que seria esperado e as condições para a sua visualização foram igualmente precárias. Os lugares não só não eram suficientes para a totalidade de espectadores, ao ponto de vários terem de assistir à projeção de pé, como a disposição dos assentos no espaço dificultava a visualização da tela, que já era bastante pequena.
O Tribeca Festival Lisboa parece ter feito do cinema um personagem secundário, para deixar que a política e a autopromoção da OPTO e da SIC fossem os protagonistas.