O Séries da TV esteve à conversa com os showrunners de Fear The Walking Dead, Andrew Chambliss e Ian Goldberg, a propósito da segunda parte da 7.ª temporada, atualmente em emissão às segundas-feiras, às 22h10, no AMC Portugal. Andrew e Ian falaram, entre outros temas, sobre como é trabalhar no universo de enorme sucesso mundial que é The Walking Dead, o que podemos esperar do futuro da série e do regresso de Madison Clark ao pequeno ecrã. Fica com a tradução da entrevista na íntegra.
Enquanto fazia a pesquisa para esta entrevista, descobri que já tinham trabalhado juntos noutra série, em Once Upon a Time. Já se conheciam antes? E como é que isso ajudou ou contribuiu para a vossa parceria neste enorme sucesso que é Fear The Walking Dead e o universo de The Walking Dead?
Ian: É uma excelente pergunta. Sim, nós já nos conhecíamos antes de Once Upon a Time. Eu e o Andrew andámos na universidade em Nova Iorque, na NYU (New York University), e conhecemo-nos desde aí. Voltámos a reencontrar-nos em Once Upon a Time como argumentistas independentes que os showrunners juntaram. Eles pressentiram que tínhamos muitas coisas em comum, gostaram da forma como escrevíamos e fizemos “clique” no tipo de histórias que gostamos de contar. Além disso, os nossos estilos de escrita complementam-se um ao outro e nós gostávamos de trabalhar juntos. Depois tivemos sorte em voltar a trabalhar juntos, agora no Fear (The Walking Dead), que é uma série muito diferente em vários aspetos, mas acho que trouxemos algumas das lições que aprendemos juntos em Once Upon a Time, assim como outras ferramentas. E tem sido muito divertido.
Andrew: É uma ajuda já ter um método de escrita e uma relação prévia ao começar este trabalho tão difícil que é orientar uma série com o sucesso de Fear The Walking Dead. Isso ajudou-nos no início e pôs-nos no caminho de uma colaboração e de um trabalho conjunto bem-sucedido. Acho que nenhum de nós teria imaginado fazer este trabalho sozinho nesta altura.
Ian: Não mesmo.
Entraram na série na 4.ª temporada, quando já era um sucesso enorme. Sentiram a pressão de continuar a contar estas histórias e de manter o público interessado nas personagens?
Ian: Sim.
Andrew: Entrar no universo de The Walking Dead foi uma honra enorme, mas ao mesmo tempo uma responsabilidade também enorme. Tanto eu como o Ian somos fãs das duas séries e ficámos impressionados com o tipo de histórias que as séries conseguiram criar… Queríamos fazer aquilo bem, queríamos honrar as histórias que já tinham sido contadas e também queríamos encontrar novas áreas do apocalipse para explorar, novas formas de examinar as personagens e contar histórias que pareciam relacionadas com o que já tinha acontecido antes, mas que eram diferentes e novas e que não estavam apenas a “reacender” o que já tínhamos visto antes em The Walking Dead ou no Fear.
Agora que falas nisso, creio que foi desde a temporada anterior, a 6.ª temporada, que começaram a ter uma abordagem diferente dos episódios. Têm uma personagem principal por episódio. Foi esta a razão que vos fez tomar esta decisão? Queriam fazer algo diferente, explorar algo diferente?
Ian: Sim. Acho que estás a falar do estilo de antologia que começámos a implementar na 6.ª temporada. Isso era algo já se tinha começado a infiltrar há algum tempo. Esta é uma série com um elenco muito grande e incrível e sentimos que muitos dos episódios que tiveram mais sucesso e que gostámos mais de escrever foram episódios como “Laura”, na 4.ª temporada, “Close Your Eyes”… Ou, na 5.ª temporada, o episódio entre a Grace e o Morgan no centro comercial ou o “Humbug’s Gulch”, com o Dwight e a Sherry… Desculpa, com o Dwight, o John Dorie e a June. Estes também eram episódios de antologia. Nós gostámos de fazer estes minifilmes, que eram independentes e permitiram que as personagens tomassem um lugar de destaque. Assim podemos criar narrativas com princípio e fim, mas que continuam a contribuir para a história mais abrangente da série. Nós gostamos de trabalhar com este método, o elenco também e vamos continuar a contar histórias desta maneira.
Gosto muito desta abordagem, porque assim têm mais tempo e espaço para explorar cada personagem e cada história.
Ian: Obrigado.
Foi também na 4.ª temporada – voltando novamente atrás – que vemos a Madison pela última vez, mas nunca soubemos realmente se estava viva ou morta. Foi uma decisão ponderada, para poderem voltar a trazê-la de volta no futuro, como estão a fazer agora?
Andrew: Foi, sem dúvida, uma decisão deliberada não vermos a morte no ecrã, não vermos o corpo. Numa altura em que estamos a contar uma história sobre esperança e perda de esperança, sobre como as pessoas que sobreviveram reagiram ao desaparecimento da Madison e como acabaram por conseguir voltar a encontrar essa crença… O facto de não vermos a morte no ecrã foi algo que esteve sempre presente na nossa mente. À medida que íamos contando a história, cerca de uma temporada e meia depois, começámos a ter conversas e a pensar que ela podia ter sobrevivido. E, se tivesse sobrevivido, como é que seria, quem seria quando voltasse, que significaria isso para a série e as restantes personagens? Tínhamos essa pergunta em mente e sabíamos que a queríamos explorar, mas queríamos esperar até termos a história certa para o fazer. E depois, com o desenrolar da 6.ª temporada e ao começarmos a planear a sétima, percebemos que essa oportunidade poderia estar a chegar. Foi quando começámos a trabalhar a sério na narrativa, a pensar em como lá chegar e a contactar a Kim (Dickens) e a falar com ela sobre a possibilidade de um regresso.
No trailer, ela parece não ser a mesma Madison que já conhecemos, mas as tatuagens dos nomes da Alicia e do Nick parecem mostrar que eles continuam a ser a sua motivação principal. Que nos podem dizer desta nova Madison e como é que ela irá afetar a Alicia? Há a possibilidade de se começar a comportar de forma diferente ao saber que a mãe está viva. Também não sabemos se a Madison sabe se o Nick morreu ou não, nem como isso a afetou ou como a irá afetar no futuro.
Ian: São muitas perguntas excelentes. Não podemos dizer demasiado, mas as tuas observações daquela cena no trailer são interessantes, porque mencionaste que ela está muito diferente e que tem as tatuagens dos filhos nos pulsos. E acho que é seguro supor que eles continuam uma grande motivação para ela, mas não queremos revelar qual será a história da Madison, a não ser que se passou muita coisa com ela desde a última vez que a vimos e que ela vai ser uma versão muito diferente da que vimos da última vez. Vamos ficar a saber o que tem andado a fazer e como é que isso afetou a pessoa em que se tornou. E também estamos entusiasmados por a fazer chocar com outras personagens do Fear com quem nunca interagiu. Será uma reinvenção da Madison e da série, quando ela voltar.
Alycia Debnam-Carey teve a sua estreia na realização no 11.º episódio, “Ofelia”. Como é que foi trabalhar com ela como realizadora por oposição a como atriz?
Andrew: Foi uma experiência emocionante e gratificante. Já tivemos várias situações bem-sucedidas de membros do elenco a realizarem episódios. O Colman Domingo realizou alguns episódios, o Lennie James também. A Alycia, ao ter visto esta nova abordagem deles, esta nova faceta de fazer televisão, ficou entusiasmada, veio ter connosco no início da 7.ª temporada e mostrou-se interessada em realizar. Nós encorajámo-la a fazê-lo. Estávamos bastante confiantes de que ela faria um excelente trabalho, porque ela trabalha sempre de forma séria, sempre muito empenhada e tem muito talento como atriz. Quando trabalhamos com alguém no papel de realizador, temos uma relação profissional mais estreita, porque trabalhamos com eles durante todo o processo de pré-produção, de produção do episódio… Foi muito divertido trabalhar com ela além do seu desempenho como Alicia (a personagem), além da história da Alicia. Deu para ver toda a experiência que ela ganhou ao longo das sete temporadas que tem estado na série. Tornou-se adulta na série e aprendeu tanta coisa só pelo facto de estar no plateau. Ficámos muito impressionados com a forma como conseguiu manusear todas as competências que ganhou, como trabalhou com a equipa e como fez um trabalho fantástico com o episódio.
Têm algum método específico para trabalhar com os atores? Deixam-nos improvisar ou têm uma ideia e seguem-na estritamente?
Andrew: A abordagem não é assim tão diferente. Nós certificamo-nos de que sentem todo o apoio necessário… Principalmente quando é a primeira vez na realização. Rodeamo-los de uma equipa magnífica e está lá toda a gente para os apoiar, para os ajudar a concretizar a visão que têm, para dar vida ao guião.
Parece que toda a gente está a perder a fé em toda a gente e que “as pessoas são sempre pessoas”, citando Wes. O Wes, por exemplo, aliou-se ao Strand e a Luciana teve de mentir ao Daniel. Isto é um sinal de que será cada vez mais cada um por si ou será que a Alicia, por exemplo, irá conseguir reunir um exército e derrubar o Strand?
Ian: Outra excelente pergunta. Acho que isso tem sido uma das coisas que temos tido mais interesse em explorar: esta grande guerra em torno da torre e como está a afetar as pessoas. Não é algo simples do género de um lado contra o outro. Quando estamos a lutar pela sobrevivência, quer estejamos aliados a ou contra pessoas de quem gostamos, isso traz ao de cima alguns aspetos inesperados das personagens que penso que nem elas, nem as pessoas de quem gostam estão à espera. À medida que nos formos embrenhando cada vez mais neste conflito em torno da torre, vamos ver cada vez mais destas reações inesperadas provocadas pela guerra. Vamos também ver até onde é que irão aqueles que estão na torre e os que estão cá fora e como é que este conflito os está a afetar em termos emocionais.
Sim, porque há esta sensação entre a Luciana e o Daniel de que já são família, mas agora não sabemos como é que isso se vai desenrolar, nem como é que o Daniel irá reagir quando descobrir a verdade. O uso do espanhol nas conversas entre os dois é uma forma de mostrar como são próximos ou foi escolhido apenas por ambas as personagens falarem espanhol?
Andrew: É, sem dúvida, um sinal de como são próximos um do outro. Uma das razões por que decidimos usar o espanhol surgiu durante a pesquisa sobre a perda de memória que advém de traumas. Encontrámos uns estudos que mostram que quem sofre de perda de memória e fala na língua nativa tem mais facilidade em relembrar acontecimentos do passado. Isso pareceu fazer sentido e é uma forma de a Luciana ajudar o Daniel a lembrar-se de onde está, em que momento está, com quem está. Era algo emocionante de ver, porque tanto o Rubén (Blades) como a Danay (Garcia) pegaram no guião e na tradução espanhola que tínhamos feito e tornaram-na deles. Ajudaram-nos com a tradução, para garantirem que refletia de forma precisa o modo como o Daniel e a Luciana falariam. De muitas formas, também permitiu ao Rubén e à Danay trabalharem juntos no episódio de uma forma diferente da que teria sido se fosse em inglês e isso acabou por contribuir para o seu desempenho.
Ainda faltam alguns episódios, mas que nos podem dizer sobre o final da temporada e o que podemos esperar da 8.ª temporada?
Ian: Em relação aos episódios que faltam da 7.ª temporada, vamos continuar a explorar este conflito em torno da torre. É algo que temos estado a cozinhar há algum tempo e vai intensificar-se. Vamos ver o clímax dessa história. Além disso, vamos ter o regresso da Madison. Não vamos dizer quando vai ser, nem que história será, mas, como já dissemos, vai ser super entusiasmante. O seu regresso também vai começar a anunciar o caminho que vamos seguir na 8.ª temporada.