The Gilded Age: à conversa com Julian Fellowes e elenco
| 21 Jan, 2022

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O Séries da TV esteve presente na conferência de imprensa do elenco e equipa por detrás de The Gilded Age, a nova série que estreia em breve na HBO Portugal. A série relata a história de uma jovem, Marian Brook (Louisa Jacobson), que perde o pai e se vê obrigada a ir morar com as tias em Nova Iorque. Esta é uma história de família, guerras sociais e dinheiro, durante a Era Dourada dos Estados Unidos da América, na segunda metade do século XIX. Esta foi uma época de profundas mudanças económicas, de grandes conflitos entre métodos antigos e novos sistemas e de criação e perda de enormes fortunas. 

Julian Fellowes, o criador da série, conhecido pelo seu excecional trabalho com o argumento do famoso drama britânico Downton Abbey, esteve presente para responder a algumas questões, assim como o produtor Gareth Neame e as atrizes Christine Baranski, Cynthia Nixon, Louisa Jacobson e Denée Benton.

A conferência teve início com Julian e Gareth a falarem de todo o processo de pesquisa que The Gilded Age requereu. Segundo o criador da série, a ideia para escrever e trazer para os nossos ecrãs algo que remetesse ao final do século XIX nos Estados Unidos já era algo que queria fazer há bastante tempo. Todo o processo de pesquisa e aprendizagem teve início há mais de dez anos, com a leitura de diversos livros e documentos que permitiram ao escritor ter uma ideia mais concreta do que gostaria de fazer.

Inicialmente ponderou escrever algo sobre a famosa família Vanderbilt, que ganhou bastante notoriedade económica e política nessa mesma época. Contudo, optou por criar as suas próprias personagens, podendo idealizá-las como bem entendesse. Quanto ao processo de pesquisa, decidiu que necessitaria de contratar uma equipa que o ajudasse a concretizar a sua ideia. Relativamente a esta equipa de investigadores, só tem a dizer maravilhas. Sem eles, nada seria possível.

Para esta nova aventura, Julian Fellowes teve de adaptar o seu estilo de escrita de um britânico nato para um americano conhecedor de costumes e, para tal, contou com a ajuda da mulher, que diz ser o seu maior apoio no que toca a aventurar-se por terras americanas. Segundo o escritor, a mulher está sempre ao seu lado a opinar relativamente ao vocabulário e maneirismos: “os americanos fariam isto de outra forma ou os americanos não pensam assim”. No entanto, algo do qual o escritor rapidamente se apercebeu foi da quantidade de edifícios e monumentos da época que ainda reinam na cidade de Nova Iorque e todo o Upper East Side, como se a Era Dourada nunca tivesse passado. 

“A parte interessante é a quantidade de coisas da Era Dourada que ainda lá estão. Encontram-se bocados intactos dessa época em Nova Iorque.” – Julian Fellowes

A construção de réplicas da cidade foi um dos maiores desafios de toda a produção. Apesar de a HBO ter oferecido todos os recursos, há certas coisas que continuam a ser inviáveis e a principal foi a impossibilidade de fechar uma rua inteira no Upper East Side de Nova Iorque para gravar a série (mesmo uma com a escala de The Gilded Age). Para tornar tudo mais realista, contaram com um set designer que se esmerou nas suas criações e ofereceu a este drama histórico duas maravilhosas mansões e cenários à altura daquela época.

Adicionalmente, a atenção ao detalhe e à precisão histórica dos acontecimentos é algo que Julian Fellowes teve em conta, de modo a que quem ouvisse aqui falar pela primeira vez da Era Dourada, pudesse aprender de forma precisa e factual sobre tudo o que se passou naquela época. Para o criador e produtor, este período de ascensão dos Estados Unidos foi uma espécie de Renascimento Americano. Gareth Neame admite também que acredita que esta série vai trazer à audiência algo único e raramente observado, visto que a grande maioria das histórias sobre aristocracia são contadas de um ponto de vista europeu. 

“O século XX pertence aos Estados Unidos da América. Isto foi o início, foi o Renascimento Americano.” – Julian Fellowes

Por outro lado, uma das grandes particularidades de The Gilded Age é a sua heterogeneidade no que toca ao elenco. De atores de renome, a atores que estão no início das suas carreiras; de americanos a britânicos; e de atores de cinema a atores de teatro musical. Julian Fellowes e Gareth Neame trabalharam em conjunto para tornar isto possível.

Gravada numa época atípica, no meio de uma pandemia, The Gilded Age conta maioritariamente com atores da Broadway que, por causa das restrições resultantes do vírus SARS-COV-2 e da consequente COVID-19, se encontravam parados, sem a possibilidade de trabalhar. Esta série deu-lhes a oportunidade de integrarem o elenco de uma série única e que promete deixar todos a chorar por mais. Paralelamente, a convivência entre atores conceituados e atores que só agora estão a começar, traz aos produtores e criadores da série um gosto enorme: os mais novos aprendem com os mais velhos e os mais velhos deliciam-se com os mais novos.

É neste sentido que as atrizes nos falaram da maravilhosa relação entre elas e daquilo que esta história trouxe às suas vidas. Christine Baranski, apaixonada pela Era Dourada e conhecedora de muita da literatura proveniente daquela época, diz ter conhecido a sua colega, Cynthia Nixon, quando estava grávida e que, desde então, têm sido inseparáveis. Baranski acredita que esta longa e duradoura amizade permitiu que levassem para o ecrã algo mais genuíno. Segundo a atriz, a personagem que interpreta, Agnes Van Rhijn, e a personagem de Nixon, Ada Brook, interagem constantemente como um casal junto há várias décadas e todo o humor à volta da relação é muito divertido e desafiante.

Em sintonia com Baranski, Cynthia Nixon admite ter ficado ainda mais entusiasmada por fazer parte do elenco quando soube que a sua amiga de longa data iria estar ao seu lado para o fazer. Para Nixon, a parte que mais lhe despertou interesse em The Gilded Age foi a possibilidade de se transformar numa personagem que iria ter um impacto significativo na vida de outra personagem, mais nova, que iria guiar e moldar, ajudando-a a encontrar-se. Essa personagem é Marian Brook.

Louisa Jacobson, a atriz que dá vida à jovem Marian, admite que o processo de investigação e de pesquisa para mergulhar na sua personagem demorou algum tempo e requereu bastante esforço. Desde noites passadas em bibliotecas, ao visionamento de diversos documentários. Jacobson admite que o que foi mais complicado foi tentar entender Marian de uma forma humana e empática. Para isso, fez uma lista de livros que leu para se sentir mais próxima de jovens raparigas e dos seus estilos de vida no final do século XIX. Desta lista podemos destacar The Portrait of a Lady, de Henry James, e The House of Mirth, de Edith Wharton. A atriz acredita que algo que ajudou bastante a que isto fosse possível foi todo o ambiente criado pelos cenários, pelas relíquias da época e pelo guarda-roupa, algo a que todos fizeram alusão nesta conferência de imprensa, dando os parabéns à equipa responsável por todas as vestimentas. 

“…vestir o espartilho de Marion e usar vestidos que me chegavam até ao pescoço, sentir tudo contraído, fez-me sentir exatamente como uma mulher naquela época. Filmar em Newport, num salão verdadeiro construído em 1892, foi de loucos, parecia que tinha entrado noutra realidade.” Louisa Jacobson

Por fim, ainda ouvimos algumas palavras por parte de Denée Benton, a atriz que interpreta Peggy Scott, amiga e confidente de Marian, que admitiu sentir uma espécie de ligação espiritual e ancestral com a sua personagem. Peggy Scott é uma mulher negra com estudos e escritora de profissão. Contudo, em The Gilded Age veremos esta escrita a progredir para algo mais sério, na área da política e do ativismo, o que permite à personagem encontrar a sua própria voz e traçar o seu caminho. 

The Gilded Age promete cenários inesquecíveis, uma tonalidade aristocrática e política que todos entenderão de modo a que seja possível conhecer melhor a Idade Dourada americana, e um guarda-roupa repleto de cor e sentimento. Será apenas mais uma história de família e guerras sociais ou será que ficaremos agarrados a estas personagens de forma inesperada?

Inês Ribeiro

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