Crónica dos Bons Malandros: À Conversa com o Elenco
| 04 Jan, 2021

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A Crónica dos Bons Malandros é a mais recente aposta de ficção televisiva da RTP. Adaptada da obra literária homónima de Mário Zambujal de 1980, esta série conta a história de um grupo de assaltantes que tem como objetivo roubar a Gulbenkian. Ao longo dos oito episódios há uma promessa de os espectadores serem levados numa viagem que passará por todos os géneros televisivos, desde a comédia ao drama.

O Séries da TV esteve à conversa com parte do elenco de Crónica dos Bons Malandros em setembro, nomeadamente com Joana Pais de Brito, Manuel Marques, Adriano Carvalho e José Raposo, na apresentação da programação da RTP para 2020/2021, que deixou uma antevisão desta nova produção portuguesa. Mais recentemente, após a antestreia do primeiro episódio, que decorreu na Gulbenkian em novembro, Marco Delgado e Rui Unas também deixaram a sua perspetiva sobre a experiência e o que o espectador pode esperar.

Joana Pais de Brito, que dá vida a Adelaide, a Magrinha, um dos membros do infame assalto, começa por revelar que a gravação da série decorreu por inteiro durante a pandemia do novo coronavírus, com todo o elenco e equipa de produção a utilizarem máscaras. Marco Delgado, que interpreta Renato, o Pacífico, o líder do grupo, refere que filmar deste modo foi “estranho, único e real”. Toda a equipa foi submetida a testes da COVID-19 e estiveram “sempre rodeados por medidas segurança e higiene muito grandes”. Se para Rui Unas – Silvino, o Bitoque – não houve “grandes dramas” em relação às circunstâncias em que as filmagens decorreram, Manuel Marques diz que esses fatores dificultaram o processo, especialmente durante a leitura de guião e passagem de texto, mas garante que as horas de almoço eram a melhor parte do dia de trabalho. “Tirávamos todos a máscara e estávamos frente a frente”, refere o ator, que interpreta Arnaldo, o Figurante, ressalvando que era o momento do dia em que conviviam e se podiam conhecer melhor.

Para estes almoços muito contribuiu José Raposo, Pedro, o Justiceiro do bando, que era uma espécie de “aplicação de restauração”. As recomendações sobre o que comer e onde estavam a cargo dele. “Então Zé, hoje é onde?” era a pergunta que o restante elenco fazia. E José Raposo que, segundo Joana Pais de Brito, “tem no seu telefone uma lista com todos os restaurantes de Lisboa”, chegava a deslocar-se ao local e a trazer uma ementa para os colegas escolherem a refeição. “Em qualquer trabalho o mais importante são os restaurantes mais próximos e a ementa”, assegura o ator.

Comida à parte, a Crónica dos Bons Malandros terá um total de oito episódios. Cada um é dedicado a desvendar mais sobre cada uma das personagens individualmente. Contudo, o fio condutor da história principal – roubar as joias Lalique – está sempre presente, com o último episódio a desvendar se os malandros cumpriram o objetivo ou não. Também a obra de Mário Zambujal está dividida desta forma e o elenco afirma que as personagens da série são muito fiéis ao livro. “É um privilégio poder trabalhar com um autor vivo, que vem ao décor, que nos vê em personagem e nos diz que vê a sua personagem viva”, afirma Joana Pais de Brito. Apesar de já existir uma longa-metragem adaptada do livro, realizada por Fernando Lopes, em 1984, Adriano Carvalho, Flávio, o Doutor na série, garante que esta não é um remake. “Isso seria se fizéssemos outro filme.” Marco Delgado revela que apesar das muitas parecenças entre esta adaptação televisiva e o livro onde se baseia, os guionistas e o realizador sentiram “necessidade de alargar e aumentar o mundo de cada uma destas personagens”, o que “trouxe ainda mais riqueza” a cada umas das personagens e ” imprimiu dinâmica e ritmo à série”.

Esta nova adaptação, apesar de também decorrer na década de 1980, tem um ambiente distinto, garantem os atores. “O género e a estética são completamente diferentes. Podem esperar tudo: drama, comédia, dança, pop”, desvenda a Magrinha da Crónica dos Bons Malandros. Ainda que o género cómico seja o mais presente na série, Adriano Carvalho assegura que não há caricaturas das personagens, não há um exagero daquilo que são. “Às vezes podemos ver estereótipos de personagens, mas eles existem.” “São pessoas que existem”, reforça Joana Pais de Brito. “Esqueçam a ideia de uma série de comédia. O tom é cómico, mas as personagens passam por tudo.”

A par de uma mistura dos vários géneros de ficção e de “um mix de linguagem” que, para Adriano Carvalho, “é capaz de surpreender, com imensas influências”, as filmagens decorreram em diversos décors e bairros lisboetas, o que confere ao ambiente da série variedade e muita cor. Além disso, a produção teve autorização da Gulbenkian para filmar na propriedade, sorte essa que não bateu à porta de Fernando Lopes em 1984. Quem vir estes episódios não só reconhecerá muitos dos lugares como muitas das referências contemporâneas que são feitas de forma subtil entre os diálogos. O Pacífico – Marco Delgado – diz que esta “foi uma premissa que foi tida em conta desde o início”, a de existirem “várias ‘pontes’ com a contemporaneidade, tornando rápida e eficaz a comunicação com o espectador”. Apanharam aquela de só se poder roubar o banco Espírito Santo por dentro no piloto?

Entre personagens incomuns que tentam executar o roubo do século em Portugal, o que é isto afinal de ser um bom malandro? Para Rui Unas “um bom malandro, por aquilo que [entende] ser, não tem grandes ambições e, no fundo, é apenas um ‘chico esperto’. Totalmente diferente do mau malandro, que não olha a meios para as suas ambições.” Já para Marco Delgado, “a ideia de ‘bom malandro’ parece um conceito um pouco contraditório e, talvez mesmo, inexistente”. Ainda assim, “a malandragem destes malandros é inocente e mesmo ingénua por vezes. O grau de malvadez é pequeno. São personagens incapazes de magoar ou matar quem quer que seja. São malandros do bairro popular e pelos quais o público sente empatia”.

Os novos episódios da Crónica dos Bons Malandros chegam todas as quartas-feiras, às 21h, na RTP, estando igualmente disponíveis na RTP Play.

Beatriz Caetano

[Artigo atualizado a 4/1/2021 com as respostas de Marco Delgado.]

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