Foi no passado dia 13 de dezembro que Kindred, uma adaptação do livro homónimo de Octavia E. Butler, teve a sua estreia através da Hulu. Produzida pelo FX, a minissérie de ficção científica conta com um total de oito episódios que se encontram já disponíveis para consumo.
Protagonizada por Mallori Johnson, Kindred conta-nos a história de Dana James, uma jovem negra que aspira a escritora e se muda para Los Angeles com o intuito de perseguir o seu sonho e estabelecer uma vida próxima da tia Denise, a sua última parente viva. Contudo, antes de se conseguir sequer instalar por completo na nova casa, Dana começa a sofrer pesadelos vívidos que rapidamente provam ser muito mais do que aparentam. Na verdade, a jovem é levada numa jornada temporal para o século XIX, onde, pouco a pouco, descobre segredos há muito esquecidos sobre o passado da sua família numa plantação, durante o período que conduziu à Guerra Civil americana.
Se não estivesse contextualizada no que diz respeito ao conteúdo desta série, facilmente confundiria o início deste episódio piloto de Kindred com o de um thriller. Desde logo, Dana lança um cenário aterrador e envolto em mistério, o qual capta com relativa facilidade a atenção de qualquer um. No entanto, este enigma não pretende ser o foco da série, mas sim um attention-grab capaz de convencer o casual espectador a manter-se em frente do ecrã durante tempo suficiente para o verdadeiro plot se começar a desenvolver.
A meu ver, a missão de Kindred é algo ambiciosa – e, tendo assistido apenas a este episódio, confesso não saber se será capaz de a concretizar. No seu âmago, trata-se de uma série que procura navegar dois géneros que, por vezes, se misturam, mas nem sempre com sucesso. De facto, a ficção científica e o drama histórico tendem a andar de mãos dadas, em particular em narrativas que, à semelhança de Kindred, abordam o tópico das viagens temporais. O que diferencia esta série das restantes é o facto de tratar um tema bastante sensível que, caso abordado de forma incorreta, poderá vir a embelezar um dos períodos mais horríficos da história recente. Um mar que, não sendo impossível de navegar, representa sem dúvida um grande desafio.
Por fim, a prestação de Mallori Johnson neste episódio piloto não deverá ser ignorada. A atriz tem a sua estreia televisiva neste papel principal e desempenha-o com exímio profissionalismo, sendo a verdadeira força motriz deste primeiro capítulo.
Aconselho a que dês uma espreitadela a Kindred. Sim, a sua premissa pode ser algo questionável, mas, ainda assim, trata-se de uma série com uma boa realização, um argumento interessante e interpretações que valem realmente a pena.