[Contém spoilers]
Legacies regressou no passado dia 24 de fevereiro do seu mais recente hiato com The Story of My Life, o 10.º episódio desta sua 4.ª temporada, e o primeiro desde a saída de Kaylee Bryant do elenco principal da série.
Neste novo capítulo, Cleo, MG e Jed trabalham em equipa numa nova e peculiar missão, enquanto Alaric, Landon e Ted procuram descobrir qual o seu próximo passo. Entretanto, após a fuga de Aurora, Hope continua a sua missão contra a tríade, sendo apanhada de surpresa por uma fonte pouco provável. Por fim, o futuro de Lizzie permanece em jogo, após os acontecimentos de I Can’t Be the One to Stop You.
Sendo completamente honesta, não tive quaisquer saudades deste nosso spin-off de The Vampire Diaries durante esta sua pausa (o que, admito, não abona de todo a seu favor). Terminei a 1.ª metade desta nova temporada em maus termos com a série, pelo que o meu entusiasmo em relação ao seu regresso era – e, na verdade, continua a ser – inexistente. Após a valente desilusão que seguiu o seu 9.º episódio, sinto que Legacies tinha a obrigação de regressar em grande se queria sequer tentar ultrapassar o erro que foi abrir mão de Josie Saltzman, mas tal não aconteceu e The Story of My Life acaba por ser, em todas as frentes, um episódio dececionante.
Começando pelo elefante na sala: a questão do purgatório continua a ser um dos plots mais desinteressantes desta temporada. Praticamente um terço deste episódio é passado com Alaric, Landon e Ted nas suas aventuras e desavenças pelo submundo sobrenatural, o que retira alguma da atenção prestada à narrativa principal – infinitamente mais interessante, em comparação. Há muito se tornou claro que estes são personagens que já abusaram do seu tempo na série, sendo que o retorno de qualquer um deles ao mundo real representaria um regresso à normalidade de Legacies (que, sabemos também, não estava a fazer quaisquer favores ao bom funcionamento da série).
Um outro aspeto que me deixa um travo amargo na boca é a introdução de deuses a este universo sobrenatural, conforme mencionei na anterior review. Ainda que a sua existência nos tenha sido aludida por Aurora num passado capítulo da série, é em The Story of My Life que temos uma confirmação concreta, com a apresentação de Ben (Zane Phillips), um semideus fortemente baseado em Prometeu (da mitologia grega), à história. De forma sucinta, o personagem foi amaldiçoado após tentar usar magia roubada aos deuses para salvar o seu amado, tornando-se um farol para monstros e permitindo, assim, a Legacies perpetuar o seu saturado formato de monstro da semana.
Na verdade, o meu problema não se prende de todo com Ben. Apesar de não estar fortemente investida na sua história ou potencial romance com Jed, servindo o personagem de modo flagrante para preencher a quota de representação da série após a partida de Josie, não acredito que seja uma má adição à série. No que diz respeito a esta narrativa, a minha queixa resume-se a algo muito mais básico: ao facto de Legacies não entender que não necessita de criar um ser superior a Hope de modo a proporcionar um desafio à nossa protagonista. Ainda que perceba que a existência de um herói aparentemente infalível não represente, de um modo geral, a mais interessante das histórias, a realidade é que Hope está longe de ser perfeita. Ao longo de várias temporadas, tem-se vindo a tornar claro que a jovem Mikaelson é a sua maior inimiga (em grande parte devido ao trauma que experienciou no decorrer da sua curta vida) e, pessoalmente, acredito que essa sua batalha interna é infinitamente mais atraente do que qualquer fator ou adversário externo.
Falando ainda sobre Hope, apesar de a mudança de tom (e, principalmente, de foco) na sua storyline ser do meu agrado – como, aliás, tenho vindo a mencionar –, devo dizer que estou ligeiramente desiludida com esta fase sem humanidade da nossa tríbrida. Se é verdade que Hope tem um objetivo claro em mente com a destruição da tríade, o seu principal problema desde a sua transformação, também o é que, por vezes, a jovem Mikaelson conseguiu ser mais intimidante com a sua humanidade do que sem ela. Ainda que aprecie muito a atitude que Danielle confere à sua personagem, a escrita simplesmente não tem vindo a acompanhar estes seus esforços. Consigo com alguma facilidade recordar momentos em que Hope, na 1.ª temporada, pareceu mais cruel e implacável do que agora, pelo que começo a questionar-me se Legacies não se estará a preparar para deitar a perder aquela que poderia ter sido uma narrativa incrível.
Também a história de Lizzie me desiludiu um pouco – pelo menos em The Story of My Life. Em geral, estou insatisfeita com o facto de Lizzie ser agora uma herege, mas neste episódio em específico fiquei incomodada com a naturalidade com que a personagem aceitou este seu destino, especialmente dada a reação da mesma quando confrontada com esta possibilidade em Kai Parker Screwed Us. Não acredito que a série tenha desenvolvido esta vertente da personagem o suficiente para a sua audiência simplesmente assumir que Lizzie está agora em paz com todas as experiências que lhe foram roubadas ao tornar-se numa híbrida de bruxa e vampira, pelo que o entusiasmo da gémea Saltzman para com os seus novos poderes não foi, de todo, dos meus aspectos favoritos deste episódio – para não falar dos efeitos especiais no mínimo questionáveis que são também aqui usados e que se tornam cada vez mais difíceis de tolerar.
Assim, acredito que este episódio de regresso da série falhou redondamente a meta a alcançar. A sua saving grace, a meu ver, passa pelos esforços de Cleo em encontrar uma solução para o problema de Ben e pela desconfiança de MG perante o novo membro da Salvatore School, assim como pela tentativa de Jed em conhecer melhor este forasteiro antes de tomar uma decisão sobre o seu futuro. De facto, Legacies ganha alguns pontos quando se resume às suas raízes, mas nem isso é o suficiente para manter este barco à tona.
Já em Follow the Sound of My Voice, Hope e Lizzie encontram-se numa feira com um conjunto pouco usual de personagens. De volta à Salvatore School, os alunos estão a dizer tudo o que lhes vem à cabeça sem saber bem porquê, o que faz com que Jed revele um segredo enquanto Cleo tenta proteger um dos seus. Entretanto, Kaleb e MG embarcam numa missão que não corre como esperado.
Muitos dos meus pontos de discórdia para com este último capítulo são provenientes do seu antecessor – razão para esta review conjunta. Felizmente, a situação do purgatório não é um destes pontos, sendo inexistente neste episódio e, de forma quase automática, tornando-o melhor por isso. Piadas à parte, Follow the Sound of My Voice é, a meu ver, um episódio relativamente mais interessante, em especial no que diz respeito ao sire bond entre Lizzie e Hope.
Na sua jornada contra a tríade, Hope e Lizzie fazem uma breve paragem numa feira itinerante e Hope aproveita o momento para testar a utilidade de Lizzie, a sua relutante companheira de crime, no seu grande plano. Assim, a tríbrida coloca as recém-adquiridas capacidades da jovem Saltzman à prova, usando para este efeito várias das atrações desta feira. O duo acaba por receber a atenção indesejada de um grupo de vampiros “da velha guarda”, que usa a feira como cover-up para levar a cabo as suas matanças. É neste contexto que Lizzie dá de caras com uma rapariga que perdeu a irmã para estes vampiros – algo que leva a personagem a recordar a sua irmã e a ligação com ela perdida no momento em que Elizabeth morreu e iniciou a sua transição. Assim, apesar de Hope sugerir libertar Lizzie da sua servitude, a personagem recusa a oferta, escolhendo manter o elo com a tríbrida como alternativa a sentir-se completamente só pela primeira vez na vida. Existe imenso que pode (deve e irá) ser dito relativamente a esta escolha narrativa, mas irei guardar os meus comentários para outra altura. Por agora, estou minimamente satisfeita com esta justificação.
Também interessante – e, na minha opinião, mal aproveitada – foi a chegada de Aurora de Martel à Salvatore School. A vampira infiltra-se na escola sob o nome de Eve Bloom, a nova headmistress, com o objetivo de encontrar o que resta da árvore capaz de matar Hope. Para este efeito, Aurora contamina o sistema de águas da escola com uma planta que faz com que os alunos sejam incapazes de mentir, procedendo, de seguida, a interrogações individuais. No entanto, quando o seu plano não surte o efeito desejado, Aurora vira as suas atenções para Cleo, infiltrando-se na sua mente e apoderando-se dos seus poderes de inspiração. Estes levam-na até Ben, que confessa que os deuses são muito mais do que apenas mitos e, se existe alguém capaz de colocar um final à vida de Hope, então é entre eles que Aurora encontrará a sua resposta. Mais uma vez, não sou a maior fã desta abordagem, mas nada posso fazer a não ser aceitar o inevitável.
Este episódio marca ainda o regresso de Kaleb à Salvatore School, após o problema causado pela aparição de Ben ser neutralizado. Em conjunto com MG, Kaleb parte para a casa de Ethan, onde a família do personagem se havia queixado de ocorrências sobrenaturais. Claro, estas foram causadas pelo próprio Ethan, que regressou a casa sem partilhar as novidades com a sua mãe ou irmã. Com o apoio de MG e Kaleb, Ethan acaba por confessar a Maya (personagem que, diga-se de passagem, fiquei entusiasmada por ver, mesmo que por breves momentos) todos os segredos sobrenaturais que tem guardado, regressando à escola de consciência tranquila no final do episódio.
Resta-me apenas dizer que sinto que Legacies está no seu melhor quando se fica pelo básico, não só da própria série, com as várias relações entre personagens e o modo como estas se apoiam, mas também do universo em que se insere. Gostaria que respeitassem um pouco mais o lore de The Vampire Diaries e The Originals, mas esta parece ser uma batalha há muito perdida!
Podes acompanhar Legacies na íntegra através da plataforma de streaming HBO Max.
Inês Salvado