No passado dia 11 de fevereiro finalmente chegou à Hulu (e está disponível na HBO Portugal) a 2.ª temporada de Dollface, a série de comédia que acompanha Jules (Kat Dennings) num recomeço após o seu ex-namorado ter terminado a relação que tinha com ela há cinco anos. Na 1.ª temporada assistimos a um regresso e conexão da protagonista com as antigas amizades, o que culminou num momento de tensão. No casamento de Ramona, Jules revela publicamente à sua patroa Celeste (Malin Åkerman) que o marido a andava a trair com Madison (Brenda Song), a melhor amiga da protagonista, sem que nenhuma das duas soubesse e abandona o local com as amigas.
Ora, depois destes acontecimentos, a nossa protagonista vê-se numa situação de incerteza e é exatamente neste ponto que a 2.ª temporada pega, logo depois de uma quarentena passada com Madison. Jules teme fortemente ser despedida, mas será isto que realmente vai acontecer? Nesta temporada, a nossa protagonista e as suas três amigas vivem dúvidas e questionamentos ao nível profissional, talvez até mais do que ao nível pessoal, que fica um pouco para segundo plano. Estando eu também num momento de indefinição a este nível, agradou-me ver esta área da vida a ser explorada e acredito que tenha sido um fator de empatia para mais espectadores. A série acaba por transmitir a mensagem de que, tal como nós, também aquilo que queremos está em constante evolução e atualização e que a resposta para os nossos problemas nem sempre é a que pensamos ser a mais acertada.
Como não podia deixar de ser, também são abordadas temáticas ao nível pessoal. Como em todas as amizades, assistimos a alguns conflitos, muitas vezes provenientes da dificuldade em separar a vida profissional e pessoal ou até de terceiros acabarem por as fazer testar os limites das relações entre amigas. Será a ligação delas forte o suficiente para ultrapassar os obstáculos? Deparamo-nos também com problemas ao nível amoroso, como a forma como a insegurança e a autoestima podem impactar fortemente uma relação amorosa, levando-nos a ter certas atitudes por medo ou até mesmo a aceitar menos do que aquilo que realmente merecemos e queremos. Em consequência disto observamos também a ultrapassagem dos medos, o empoderamento feminino e a chegada à felicidade através de nós mesmos. Ainda que de forma ténue, são também abordados temas relacionados com a sexualidade e a saúde mental, passando pelo conhecimento do nosso corpo e até traumas de infância.
A senhora com cabeça de gata, que muitas vezes é a representação metafórica dos maiores medos e voz da consciência de Jules, regressa nesta temporada. No entanto, os pensamentos da protagonista também assumem outras formas cómicas de vez em quando. Estas cenas inserem-se no surrealismo, o que transmite o nível da sua imaginação fértil que, sendo de uma artista, não desilude. Podemos até dizer que estes pequenos momentos de introspeção, reveladores do estado de espírito de Jules, são um dos aspetos que mais diferencia esta série e obra de arte. Ironicamente, este surrealismo é usado para mostrar as reações da protagonista a situações bem reais e que poderiam acontecer a qualquer um de nós.
No que diz respeito à banda sonora, predomina o pop atual, que não sendo de todo aquilo que pessoalmente aprecio, encaixou bem na série, havendo até situações em que a letra da música se relaciona com as cenas. No entanto, poderia ter sido bem mais trabalhada e variada.
Cada episódio tem aproximadamente 25 minutos de frescura e alegria, com uma boa dose de realismo, mas sem deixar de nos fazer sorrir. É uma série que me traz conforto, apesar de abordar alguns temas mais sérios.
Dollface é uma verdadeira viagem de regresso, de conexão com as amizades e connosco mesmos. É toda uma jornada de redescoberta da identidade, de desenvolvimento pessoal e apoio incondicional em que assistimos à solidificação de fortes amizades, entre desavenças e reconciliações, discussões e perdões! Adorei esta temporada tal como a primeira e, na minha perspetiva, conseguiram manter a qualidade da série, bem como o interesse do espectador. Recomendo, sem qualquer dúvida, a todos aqueles que queiram uma série levezinha, mas que nos põe a pensar em certos aspetos da vida. De que estás à espera para atacar esta 2.ª temporada? Ainda não viste a primeira? Aproveita para “maratonar” as duas!
Melhor episódio:
Episodio 6 – Não foi fácil escolher apenas um episódio como o melhor, já que adorei a temporada no seu todo. No entanto, acabei por escolher Space Cadet, principalmente pelo facto de a protagonista, depois de lidar com comentários depreciativos, acabar por fazer uma descoberta: Jules compreende finalmente o que realmente quer fazer profissionalmente! Assistimos também àquilo que é capaz de fazer por amizade, neste caso concreto por Madison. Outras razões para a minha escolha foram: ver Izzy (Esther Povitsky) encher-se de força e tomar uma decisão ajuizada, priorizando a autoestima, bem como ver Stella (Shannon Mitchell) assumir um compromisso amoroso.
Personagem de destaque:
Jules (Kat Dennings) – Escolhi a nossa introvertida e solitária protagonista, que, nesta temporada, continua insegura e, por vezes, com medo de dizer a verdade às amigas, mas considero que foi a personagem que mais evoluiu ao longo da temporada. Começou como alguém que procura amor e estabilidade, mas com alguma introspeção e compreensão daquilo que realmente quer e merece, acaba por se soltar e arriscar mais. Aprende a perder o medo e a não se agarrar àquilo que é “seguro” por receio de não conseguir mais e melhor, atitude muito madura da sua parte e um grande crescimento se compararmos com a Jules que conhecemos na 1.ª temporada. “Dollface”, a alcunha que o ex-namorado usava para se referir a ela, num jeito irónico, deu o nome a toda a série. Interpreto isto como uma simbologia da luta de Jules para ultrapassar o término e trabalhar em si mesma. Só se poderá livrar desta alcunha quando efetivamente vencer a batalha e a sua voz da consciência não perde uma oportunidade para a relembrar.
Inês Rodrigues