[Contém spoilers]
Regressamos esta semana em dose dupla com os mais recentes episódios da 4.ª temporada de Legacies: You Will Remember Me e a sua mid-season finale, I Can’t Be the One to Stop You.
Este primeiro capítulo de Legacies (You Will Remember Me) vê Hope Mikaelson numa perigosa missão, enquanto Josie navega fundo por respostas. Entretanto, Lizzie pede a Cleo por um momento de inspiração e é surpreendida por onde o encontra. Por fim, Landon e os seus companheiros continuam o seu caminho em busca de paz. Já no segundo episódio (I Can’t Be the One to Stop You), Hope vê-se envolvida num jogo de gato e rato quando Lizzie decide corrigir as coisas. Enquanto isso, Josie tem uma conversa com Finch, ao mesmo tempo que Alaric, Landon e Ted concluem a sua aventura. De regresso à Salvatore School, MG, Jed e Cleo tentam lidar com os problemas que vão surgindo.
Tendo em conta todo o trauma que carrego aos ombros no que diz respeito a Grey’s Anatomy, confesso que a última coisa pela qual esperava era gostar deste episódio temático de Legacies, mas aqui estamos. De facto, acredito que You Will Remember Me surge como um ponto forte para esta temporada da nossa série, mostrando-se habilitado a avançar os vários ângulos narrativos que têm vindo a ser trabalhados ao mesmo tempo que proporciona uma sólida hora de entretenimento à sua audiência.
Se bem te recordas, o episódio anterior culminou com a colocação de Josie na therapy box – a qual, ao longo desta temporada, tem sido utilizada pelos nossos personagens como um meio de obter respostas ou esclarecimentos no que diz respeito ao modo como melhor lidar com Hope. É neste contexto que You Will Remember Me tem o seu início, sendo que o cenário a que somos apresentados vê Josie como uma médica interna no Mikaelson Memorial Hospital, onde os restantes personagens surgem como médicos ou EMT.
De forma bastante resumida, a therapy box serviu como um veículo que levou Josie não só a perceber o que teria de fazer para trazer Hope de volta, mas também a entender que a Salvatore School foi – literalmente – criada para proteger jovens sobrenaturais como ela, pelo que não se deveria sentir pressionada a corresponder a quaisquer tipo de expectativas de modo a provar o seu valor. De certo modo, Legacies acaba por colocar Hope e Josie num mesmo nível de entendimento, demonstrando que a nossa protagonista também vive sob esse tipo de obrigação moral, o qual acaba por ser uma das razões que levaram à sua partida.
Entretanto, a aventura em que Hope inadvertidamente embarcou ao tornar-se numa tríbrida leva-a até às portas dos vários membros que compreendem a Triad. Seria de esperar que os atuais representantes das várias facções responsáveis pela criação de Malivore e, subsequentemente, pelo aparente (e delicado) “equilíbrio” do mundo sobrenatural apresentariam um desafio à altura de Hope mas, na verdade, a nossa poderosa protagonista derrota os seus inimigos sem grande dificuldade… Isto é, até se deparar com uma face familiar aos fãs do universo de The Vampire Diaries. Acontece que a misteriosa personagem com quem a jovem Mikaelson falou no final de I Thought You’d Be Happier to See Me é, de facto, Aurora de Martel (Rebecca Breeds), a vampira da sire line de Rebekah que atormentou a sua família durante a 3.ª temporada de The Originals.
Apesar de Aurora não ser das minhas antagonistas favoritas deste universo, estaria a mentir se escondesse o meu agrado perante esta sua aparição. Na verdade, sempre acreditei que faria sentido Legacies trazer de volta aos nossos ecrãs vilões do passado dos personagens que deram origem aos nossos legados, pelo que alguém como Aurora aparenta ser a escolha perfeita para dar continuação à necessária mudança de tom a que temos vindo a assistir, ao longo desta nova temporada. Assim, este blast from the past acaba por ser quem consegue pôr um travão a Hope, aproveitando-se da falta de conhecimento da nossa protagonista no que diz respeito à história da sua própria família para efetuar uma troca de corpo com a tríbrida, vencendo-a numa verdadeira demonstração de inteligência vs. força.
Enquanto tudo isto tem lugar, de volta à Salvatore School, Lizzie acaba por descobrir o segredo para matar Hope, conseguindo adquirir um pedaço de white oak apesar das tentativas por parte de Cleo e MG em destruir por completo a árvore. No processo, a personagem acaba por mentir a Cleo e por usar Ethan para sua vantagem, o que certamente irá danificar algumas pontes entre os vários personagens. Assim, Elizabeth termina este episódio na posse do único item conhecido por ser capaz de extinguir a nossa tríbrida, sendo que as suas intenções para com Hope são tudo menos benevolentes.
You Will Remember Me inclui ainda algumas cenas entre Alaric, Ted e Landon no limbo em que os personagens se encontram mas, uma vez que este ponto narrativo não tem qualquer interesse no grande esquema das coisas, não me vou debruçar muito sobre ele. Tudo o que precisas de saber é que os três percebem que terão de fazer as pazes com aqueles que erraram no passado, sendo que Alaric conclui que deve um pedido de desculpas a Landon e este, por sua vez, tem o desejo de regressar e salvar Hope.
De forma geral, foi um capítulo sólido para a série. Apesar de achar que a primeira metade desta temporada de Legacies se apoiou bastante (demasiado, até) na utilização da therapy box, gostei imenso do episódio como um todo, sentindo-me apenas enfadada durante as cenas que tiveram lugar no limbo – sentimento o qual se repete durante a mid-season finale. Acredito que este tenha sido um episódio de destaque para Josie, sem nunca desviar muito a atenção sobre Hope, cuja storyline continua a ganhar o meu interesse. Por fim, a soundtrack deste episódio surge como um ponto a seu favor, aparecendo em diversos momentos como forma de apoio sonoro às cenas em ecrã.
Isto leva-nos a I Can’t Be the One to Stop You, o último capítulo da série a estrear neste 2021. Confesso: este episódio deixou-me bastante dividida. Por um lado, aprecio a montanha-russa por que me levou, tendo estado confusa e incrédula durante grande parte da sua duração, e agradavelmente surpreendida e entretida durante o resto. Por outro, não me consigo abstrair ou distanciar da saída de Kaylee Bryant – um terço dos nossos legados – de Legacies, nem das circunstâncias que rodeiam esta sua partida. Por esta peça se tratar de uma review, não me irei debruçar sobre os acontecimentos por detrás das cenas que terão levado à despedida de uma personagem como Josie Saltzman, mas não posso, de boa consciência, não expressar o quão desiludida fiquei com o facto de a produção de Legacies não ter lutado por manter uma personagem tão fundamental à sua história.
De qualquer modo, sou incapaz de não proporcionar crédito onde este é merecido, pelo que tenho a dizer que o episódio em si foi bastante razoável. Apesar de não perceber a change of heart de Lizzie, tendo esta temporada vindo a indicar que a personagem seria implacável para com Hope, consigo apreciar o facto de Lizzie acreditar que conseguiria recuperar a humanidade da nossa protagonista com relativa facilidade, assim como a falta de qualquer tipo de hesitação da tribrída em matar a jovem Saltzman. Felizmente, Lizzie tinha um plano de reserva, terminando este episódio no processo de transição para se tornar numa herege. Não acredito que tenha sido uma boa escolha a nível argumentativo, tendo a personagem expressado o seu desdém pela ideia na 2.ª temporada da série, mas não tenho outra escolha senão aceitar esta decisão.
Um aspeto que não tenho quaisquer reservas em elogiar, no entanto, é a prestação de Danielle enquanto Hope e, em especial, Aurora, ao longo destes dois episódios. Não é segredo nenhum que acredito que esta temporada tem proporcionado à atriz a chance de expandir o seu repertório dentro da série, sendo que estes capítulos foram dos meus favoritos, nesse sentido. Adorei o switch entre as diferentes personalidades a interpretar, assim como o aparente regresso da humanidade da personagem. Por momentos, senti o coração no estômago quando Danielle me levou a acreditar que Legacies havia cometido o erro de devolver a humanidade a Hope de forma tão pouco cerimoniosa, mas depressa me apercebi que não teria de me preocupar com isso, tendo suspirado de alívio quando a protagonista desacreditou essa chance. De facto, este não é o fim das aventuras de Hope sem a sua humanidade, o que me deixa um pouco expectante em relação aos episódios futuros.
No entanto, da mesma forma que Legacies consegue criar em mim algum tipo de expectativa, é capaz, também, de a esborrachar no momento seguinte. Para meu desagrado, I Can’t Be the One to Stop You parece aludir à existência de deuses neste universo – probabilidade a qual vai ao encontro da existência de um cupido, na 2.ª temporada da série. Percebo que seja necessário criar um novo inimigo que represente uma verdadeira ameaça a Hope, dada a inutilidade do white oak e da Triad, mas não estava à espera de algo tão far-fetched quanto isto (o que, na realidade, assumo como um erro da minha parte), dado o tom mais sério adotando ao longo desta temporada. Fiquei bastante desiludida, pelo que veremos o que o futuro reserva à série e suas personagens.
Infelizmente, a partida de Josie Saltzman acaba por ser o verdadeiro “murro no estômago” desta mid-season e, muito provavelmente, a razão que me levará a desistir de uma vez por todas de Legacies. Apesar de Hope ter sido a razão pela qual comecei a assistir à série, tendo acompanhado de perto o seu desenvolvimento em The Originals numa altura em que havia já deixado de ver The Vampire Diaries, Josie foi uma das poucas razões que me levaram a suportar Legacies durante os seus piores momentos. Trata-se de uma personagem com a qual me relaciono e em quem me revejo, alguém que sabe jogar em equipa e que está sempre pronto a proteger o próximo, por vezes para seu próprio detrimento.
Ainda que a sua história tenha vindo a indicar um certo desejo de emancipação, nada na narrativa recente da jovem Josette me levou a crer que uma saída estaria iminente – muito pelo contrário. Já há várias temporadas que não via Josie tão envolvida com o principal foco narrativo, sendo relegada aos seus interesses amorosos, pelo que estas notícias me apanharam completa e totalmente por surpresa. Mais uma vez, entristece-me que a série tenha chegado a este ponto, pelo que, ainda que irei acompanhar Legacies até ao final desta temporada, dificilmente irei continuar a fazer parte da sua audiência para além desse ponto.
Legacies conclui assim a primeira metade desta sua 4.ª temporada numa nota baixa, sendo que a série será retomada no final do mês de janeiro. Entretanto, podes rever todos os seus episódios através da plataforma de streaming HBO Portugal, responsável pela sua distribuição a nível nacional.
Inês Salvado