Motherland: Fort Salem – Review da 2.ª Temporada
| 09 Set, 2021

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[Contém spoilers]

Temporada: 2

Número de episódios: 10

Motherland: Fort Salem chegou, no passado dia 24 de agosto, ao final da sua 2.ª – e, sabemos agora, penúltima – temporada.

Se não estão familiarizados com este drama sobrenatural da autoria de Eliot Laurence, deixo-vos com um breve resumo. Motherland: Fort Salem teve a sua estreia na primavera de 2020, através do canal americano Freeform. A série tem lugar num universo distópico, no qual a perseguição às bruxas culmina num acordo que leva a que todas as jovens com poderes sobrenaturais sejam recrutadas para um serviço militar obrigatório ao atingirem a maioridade. É neste contexto que conhecemos as nossas protagonistas: Raelle Collar (Taylor Hickson), Abigail Bellweather (Ashley Nicole Williams) e Tally Craven (Jessica Sutton), três bruxas provenientes de backgrounds completamente distintos que se veem forçadas a adaptar-se a esta nova realidade nas forças armadas.

Ao longo da 1.ª instalação desta série, acompanhamos o jovem trio na sua luta contra os Spree, uma organização terrorista composta por bruxas dissidentes que ameaça a segurança mundial, colocando em perigo tanto militares, como civis. Com o objetivo de terminar com a conscrição obrigatória e subjugação das bruxas ao serviço das forças armadas, onde são utilizadas como autênticas máquinas de guerra pelos governos que servem, os Spree infiltram os vários ramos da instituição militar, sabotando missões e contribuindo para o crescente sentimento anti-bruxa com os seus ataques. No entanto, o final da temporada traz consigo uma reviravolta: afinal, os Spree não são o único grupo que deve preocupar as nossas personagens. Existe, também, um inimigo de longa data que regressa agora do seu esconderijo, ameaçando todo o mundo sobrenatural – Spree ou militar.

Assim, a Camarilla (uma associação criada e mantida por caçadores de bruxas) aparece como a grande antagonista desta nova temporada, elevando a fasquia relativamente à anterior instalação ao apresentar um inimigo em comum às restantes facções, capaz de colocar à prova os conhecimentos e poderes das nossas personagens e, também, de dar aso a alianças pouco prováveis entre Spree e militares.

Confesso que Motherland: Fort Salem é uma série a que assisto de forma relativamente casual, não chegando a fazer parte do meu (admitidamente vasto) leque de obsessões. Isto deve-se a vários fatores, alguns dos quais funcionam a favor da série e outros que, infelizmente, fazem com que esta acabe por não ser tudo aquilo por que esperava. Ainda assim, um dos aspetos que distingue de modo positivo Motherland de outras séries dentro deste mesmo género sobrenatural é a sua premissa, em muito diferente dos lugares comuns a que estamos já acostumados. Acredito que a ideia de um mundo onde a perseguição às bruxas de Salem resultou na celebração de um acordo militar é absolutamente fascinante, sendo capaz de abrir a porta a todo um mundo repleto de complicadas dinâmicas a nível sociopolítico, em muito inspirado no atual clima global.

Por outro lado, esta imensidão de possibilidades em explorar as bruxas num contexto um pouco fora do usual acaba, também, por levar à grande maioria das minhas desilusões com Motherland. São várias as vezes em que gostaria que a série desse mais à sua audiência; mais contexto, mais história e, acima de tudo, mais profundidade. A meu ver, Motherland assemelha-se em muito a uma pequena mina de ouro, repleta de potencial mas explorada apenas a um nível de superfície. Assim, consegue tornar-se previsível, por vezes até enfadonha, incapaz de me deixar com um nó na garganta ou o coração nas mãos e, ao invés, apenas sedenta por mais do que aquilo que me é apresentado ao longo dos cerca de 40 minutos de cada episódio.

De igual modo, também as várias personagens acabam por seguir este mesmo destino, excetuando um ou outro caso pontual. Raelle começa a sua jornada como sendo a típica rapariga anti-establishment, demonstrando o seu descontentamento com o serviço obrigatório em qualquer oportunidade que se apresente. Apesar de nunca se render por completo às forças armadas, sendo leal apenas ao seu coven, os acontecimentos do final da temporada anterior levam a que Collar se veja muito mais envolvida em atividades militares ao longo desta nova instalação, para meu desagrado. Não tenho nada contra uma mudança de perspetiva por parte de Raelle; apenas gostava que a série desse mais ênfase a este seu lado rebelde, em especial tendo em conta as muitas instâncias em que o exército agiu de forma menos correta. Sinto que Collar tem sido uma personagem demasiado passiva quando, na realidade, as suas experiências deveriam ter surtido um efeito oposto, tornando-a ainda mais crítica do meio de que agora faz parte.

Entretanto, Abigail – o nosso legado de serviço, proveniente de uma linhagem respeitada dentro do ramo militar – continua a ser endurecida pelas suas experiências de vida, distanciando-se assim cada vez mais das expectativas delineadas pela sua família. Por uma e outra vez, a jovem Bellweather mostra-se capaz de criar o seu próprio caminho por entre condições adversas, ainda que nem sempre lhe seja conferido o devido destaque, quer pela sua família, como pelos argumentistas. Sou da opinião que Motherland tem vindo a falhar a esta personagem que tem muito mais potencial do que aquele que é verdadeiramente explorado. Acredito que a série teve perto de o fazer ao abordar a importância de Abigail para a sobrevivência da sua linhagem, sendo a última Bellweather que resta após uma autêntica caça às bruxas levada a cabo pela Camarilla, mas a resolução deste arco não foi suficientemente satisfatória quando tendo em conta tudo o que está em jogo.

Já Tally tem, de longe, o percurso mais gratificante de entre as três protagonistas de Motherland. Após o seu alistamento voluntário na 1.ª temporada, a knower aprende da pior maneira que o sistema que tanto admirava é corrupto, sendo que essa sua aprendizagem se intensifica em género e grau nesta nova instalação da série. Longe de ser a jovem impressionável de olhos arregalados que deu entrada em Fort Salem, Tally é muitas vezes colocada no centro da nossa história, desempenhando um importante papel no desenvolvimento e, principalmente, na conclusão do arco narrativo desta temporada. Os seus poderes de vidência ajudam ainda a colocá-la frente a frente a alguns dos elementos mais poderosos deste seu universo, conferindo-lhe a capacidade de discernir a verdade da mentira. Apesar de achar que Craven é, verdadeiramente, uma das personagens mais cativantes de Motherland (se não mesmo a mais cativante), acredito que parte da sua relevância para esta 2.ª temporada se deve ao facto de uma grande porção da audiência ter simpatizado desde logo com a personagem, algo que, de certo, não passou despercebido.

Para além do nosso trio, existe ainda um duo dinâmico que funciona bastante bem, nesta 2.ª instalação. Refiro-me a Scylla (Amalia Holm) e Anacostia (Demetria McKinney), um elemento dos Spree que infiltrou o exército, na temporada anterior, e a militar que lhe conferiu uma segunda chance, tendo-a libertado depois de ter sido inevitavelmente exposta. A relação entre ambas as personagens é algo que apreciava desde o início da série e que beneficiou em muito da principal narrativa desta temporada. Na verdade, são estas as personagens que lidam de forma mais direta com a Camarilla, trabalhando em conjunto para infiltrar a organização enquanto civis. Não estando vinculadas por qualquer tipo de código militar, Anacostia e Scylla usam todos os meios ao seu alcance para levar a cabo a sua missão, levando a alguns dos momentos mais satisfatórios – e moralmente questionáveis – desta mais recente instalação.

Mas, é claro, não podemos falar sobre personagens com um grau de moralidade algo cinzento sem mencionar a General Alder (Lyne Renée). Desde cedo, a comandante das forças armadas e líder de Fort Salem demonstra ter o seu quinhão de inimigos, provenientes dos seus vários séculos de existência. Se, de início, não sabemos muito sobre Sarah Alder, chegando ao final da 1.ª temporada sem muita informação sobre a personagem, acho justo afirmar que esta nova instalação vem a desvendar muito mais sobre a enigmática bruxa por detrás dos acórdãos de Salem. Por um lado, vem a conferir a Alder uma vulnerabilidade algo inesperada, colocando em evidência o lado mais humano da nossa General. Por outro, no entanto, evidencia a sua faceta mais fria e calculada, fazendo da personagem um dos elementos mais controversos e intrigantes de Motherland.

De um modo geral, acredito que esta 2.ª temporada foi uma nota positiva para Motherland: Fort Salem, apesar de a série continuar a não aceder ao seu pleno potencial. Ainda que a narrativa (e, por vezes, a própria interpretação por parte de alguns dos atores) deixe bastante a desejar, sinto que Motherland tenta fazer o melhor que consegue com o seu reduzido tempo de duração, sendo que talvez viesse a beneficiar de temporadas ligeiramente mais longas, capazes de lhe proporcionar a possibilidade de explorar de forma mais aprofundada as suas personagens e o mundo em que se inserem sem sacrificar o plot principal. Ainda assim, sou da opinião que a série é bastante agradável e de fácil visualização e, após o final desta nova temporada, estou ansiosa em ver o que guarda a sua última instalação e qual a conclusão que será dada às nossas várias personagens.

Melhor episódio:

Episódio 5 – Brianna’s Favorite Pencil Apesar de Motherland ser o tipo de série em que mais facilmente escolho momentos de destaque do que episódios, estaria a mentir se dissesse que Brianna’s Favorite Pencil não ocupa um lugar privilegiado entre as minhas memórias desta temporada. Neste capítulo, os Sekhmet, nome dado à célula a que as nossas protagonistas pertencem, competem por uma oportunidade de interagir com os mortos durante Samhain, o festival que dá início aos meses de Inverno e que corresponde a All Hallows’ Eve. Em simultâneo, Scylla e Anacostia continuam a sua busca pelos altos oficiais da Camarilla numa gala de Halloween, na qual fazem uma descoberta chocante. Este episódio acaba por se destacar dos restantes, pelo menos a meu ver, não só pela própria ação verdadeiramente emocionante, como também pelo peso histórico que acarreta, adicionando ao lore da série. Acredito que foi um dos capítulos com melhor estrutura desta temporada, mantendo-se interessante do início ao fim e mostrando-se capaz de proporcionar às nossas personagens algumas respostas às questões por elas levantadas ao longo da temporada.

Personagem de destaque:

Tally Craven – Se estão minimamente familiarizados com esta série, acredito que esta decisão não surge como surpresa. De facto, Tally continua a ser uma das personagens mais cativantes de Motherland, não só pela sua personalidade e background, mas também devido aos seus poderes e às possibilidades por eles criadas. Na minha opinião, Jessica Sutton faz um excelente trabalho ao trazer vida a esta personagem, balançando perfeitamente a sua faceta mais inquisitiva e compreensiva com um outro lado um pouco mais impulsivo, incapaz de perdoar as injustiças a que assiste. Acredito que esta temporada foi uma oportunidade de desenvolvimento para a personagem, sem dúvida aproveitada pelos argumentistas da série, que se mostraram capazes de criar um ponto alto memorável para Tally no final da temporada. Estou infinitamente curiosa em ver o que o futuro reserva para esta personagem, e espero um dia ver Craven numa posição que sirva o seu coração de ouro.

Inês Salvado

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