[Contém spoilers]
“Alguém que me segure o pacote de pipocas enquanto bato palmas ao Daryl, por favor.” Foi este o pensamento enquanto assistia à sequência brilhante e ao momento alto do segundo episódio da última temporada de The Walking Dead, Acheron: Part II, e a continuação daquele que inaugurou o início do fim.
Mais duas semanas passaram desde que TWD começou a palmilhar o caminho da despedida e eis que surgem dois episódios sólidos e bem concretizados, ainda que tenham seguido vertentes diferentes e se tenham focado em desenvolvimentos (ou na falta deles) distintos. Enquanto Acheron: Part II foi ritmado, cheio de suspense, ação e ainda algum comic relief, Hunted desacelerou em grande parte e colocou uma pausa no avanço da história, conseguindo, ainda assim, bons diálogos e momentos de tensão.
Sem dúvida que o grande destaque de ambos os episódios vai para a dinâmica entre Maggie e Negan, da qual, confesso, esperava algo diferente. O início do segundo episódio apanhou-me totalmente desprevenida, quando o ex-vilão vira costas a Maggie e não a salva dos zombies. Tinha toda a certeza que os primeiros segundos de Acheron: Part II seriam com o braço de Negan a puxá-la para cima, mas creio que o que acabou por se desenrolar foi melhor e menos previsível. Ainda que os diálogos entre ambos sejam bons, esperava mais tensão e fricção. Talvez Maggie acabe por matar Negan a sangue frio e de forma inesperada, mas também me parece que as hipóteses de haver uma guerra fria até ao final da série são bastante elevadas. Talvez Maggie até salve a vida do assassino do seu marido num momento onde se espera que o outrora líder dos Saviors se sacrifique pelo bem de todos. Até que qualquer um destes ou outros momentos por prever cheguem, resta esperar.
Mas continuando no tópico Maggie, a personagem mudou radicalmente desde a última vez que a tínhamos visto há algumas temporadas e vários anos na timeline de The Walking Dead. Tal seria de esperar. Ainda assim, parece que não regressou com a mesma essência e falta agora ali algum do encanto que tinha. Fria, apática, calculista, são algumas das palavras que me vêm à cabeça para a descrever, coisa que não acontecia antes. É certo que muita coisa se passou em oito anos, até pelas histórias que conta, mas… Pode ser só um feeling pessoal e espero que não signifique o downfall de uma das personagens mais queridas da série.
Se há personagem que não desilude é Daryl e, por arrasto, Dog, que rapidamente se tornou numa das melhores personagens da série! É bom que a showrunner Angela Kang não se tenha lembrado de matar o cão, porque senão vai haver um motim liderado pelos fãs. O plano- sequência de Daryl no comboio, de arma em punho, a derrubar zombies sem pestanejar foi soberba e fez em tudo lembrar um videojogo. Ainda que um pouco incoerente em termos do nível de dificuldade para, afinal de contas, escaparem do túnel, os momentos passados dentro das carruagens foram muito bem conseguidos, sempre com a tensão e o suspense em alta.
E face ao episódio de estreia, The Walking Dead conseguiu manter o nível em Acheron: Part II. O mesmo não se pode dizer de Hunted, o terceiro capítulo da última temporada. Já se sabe que dificilmente todos os episódios serão recheados de ação – não estamos perante a 5.ª temporada de La Casa de Papel – e é totalmente legítimo que um ou outro sejam mais parados. Ainda assim, não esquecer que esta é a última temporada! Mesmo que não haja ação, o mínimo que se pede é um continuado desenvolvimento da narrativa. Temos um exemplo muito bom com o tal novo quarteto que não sabíamos que precisávamos (Princess, Yumiko, Eugene e Ezekiel), onde mesmo só com conversa há avanços relativamente à Commonwealth. A cena dos cavalos teve a sua quota parte de interesse e deu para perceber o ponto de situação relativamente a Carol, assim como a iminência do aguardado reaparecimento de Connie, mas, de modo geral, pouco acrescentou a este episódio.
No que toca aos inimigos mistério apelidados de Reapers, continuo com as minhas suspeitas sobre a sua pertinência para a história. Até ao oitavo episódio, que marca o fim do primeiro pack da 11.ª temporada, será que estarão derrotados? Se sim, em que medida é que isso beneficiará o arco? Até agora não serviram para muito mais do que algumas boas cenas de scare jumps e algum gore. Também aqui nos resta esperar para ver.
The Walking Dead tem tudo para oferecer aos fãs uma última viagem a este universo digna de louvor se continuar no bom caminho. Os episódios até ao derradeiro adeus ainda são alguns e muita coisa pode acontecer, mas vamos torcer pelo melhor.
Beatriz Caetano