[Contém spoilers]
“I know how this feels. That unbearable pain and numb emptiness all at once. Like you’re watching it all from a million miles away. But it’s happening right in front of you. I know. You’re the reason I know.”
Uma nova semana trouxe consigo Kane, Kate, o mais recente e emocionante episódio de Batwoman, que continua a preparar o seu final de temporada. Este novo capítulo da série demonstra que a nossa protagonista continua a encontrar obstáculos na sua luta contra Black Mask, que eleva novamente a fasquia com Circe a seu lado. Entretanto, os caminhos de Alice e Safiyah voltam a cruzar-se.
A apenas um episódio da season finale desta 2.ª temporada (que passou a correr, diga-se de passagem), Kane, Kate foca-se, sem surpresas, no regresso de Kate e no seu reencontro com a Bat Team, após os eventos de Rebirth. Os amigos da nossa ex-Batwoman estão agora concentrados em reavivar as suas memórias e, por isso, Luke decide entregar-lhe os seus antigos diários e a sua mota, um ícone da personagem na 1.ª temporada, numa tentativa de evocar algumas destas lembranças. Quando Kate conduz a sua mota até um antigo estúdio de televisão para se encontrar com Sionis e Safiyah, todos percebemos de imediato que algo de muito errado se passa. É verdade: Kate é ainda Circe e está a jogar um jogo duplo para descobrir mais acerca do que se encontra na batcave, de forma a informar o seu pai nas linhas inimigas. Esta revelação não surge propriamente como uma surpresa, mas tornou imensamente mais triste o que se seguiu no episódio, quando tivemos de assistir ao entusiasmo dos seus amigos para com o retorno da personagem. É um pouco como assistir a um acidente de carro em slow-motion: sabemos o que vai acontecer e, mesmo assim, não conseguimos desviar o olhar.
Entretanto, graças ao retorno de Kate, Ryan vê-se sob a obrigação de tomar decisões em relação ao seu papel como Batwoman e, de igual modo, ao seu lugar na Bat Team. Era inevitável que a personagem se sentisse fora do seu elemento, pois, de certa forma, estava apenas a cumprir uma função que pertencia previamente a outra pessoa que, no seu entendimento, tinha morrido. Por outras palavras, esta mudança de perspetiva desencadeada pelo regresso de Kate leva a que Wilder acredite agora que estava apenas a preencher o vazio deixado pela personagem até ao seu regresso e, assim, a nossa atual heroína sentir-se-ia culpada se não devolvesse o fato ao seu verdadeiro proprietário e deixasse de lado a vida de vigilante. Mas a verdade é que este papel veio a mudar radicalmente a sua vida, pelo que não será fácil abrir mão deste encargo. Assim, enquanto Kate não recupera na totalidade as suas memórias, Ryan mostra-se disponível para continuar a cumprir o seu papel, mas recusa-se a continuar a viver no loft, voltando para a sua pequena caravana.
Enquanto executa as suas funções de vigilante de Gotham, Ryan segue uma pista que lhe é fornecida por Sophie, que revela à nossa protagonista que Black Mask se encontra no processo de recrutar ex-agentes dos Crows para trabalhar sob o seu mandato enquanto membros da False Face Society. Para provar esta situação, Ryan infiltra-se no Gotham Gazette, numa tentativa de roubar o computador que contém informações acerca das operações ilícitas do vilão. No entanto, Sionis tem outros planos. Como sabemos, o personagem exerce controlo sobre o GCPD, estando vários dos seus membros na sua longa lista de subornos. Apanhando Ryan de surpresa na sua pequena caravana, a polícia de Gotham detém-na por tráfico de snakebite – substância que foi plantada pelas autoridades corruptas de modo a justificar a sua apreensão. Segue-se uma interação interessante entre o nosso vilão e Batwoman, onde Sionis tenta convencê-la de que os dois são parecidos, visto que ambos usam máscaras para vingar o mal que lhes foi feito. Sionis revela assim que conhece a real identidade da vigilante, mas Ryan não lhe fica atrás, revelando também que sabe que a verdadeira Circe foi agredida e que tudo foi depois encoberto pelos Crows.
De volta à batcave, Luke, Mary e Sophie descobrem que Ryan foi vítima de uma cilada e procuram a ajuda de Kate para resolver a situação. Contudo, no decorrer de um momento particularmente comovente entre Kane e a Bat Team – e após um breve encontro romântico com Sophie –, Circe revela a sua verdadeira identidade e dispara dardos tranquilizadores sobre aqueles que acredita serem seus inimigos. Como referimos, esta traição à nossa Bat Team é ainda mais difícil de assistir porque a vilã teve o cuidado de atrair emocionalmente todos, de forma a conseguir infiltrar-se nesta equipa, desarmando qualquer tipo de reservas que os personagens pudessem ter em relação ao seu regresso – com exceção da própria Ryan, isto é. Assim, a nossa Bat Team estava tão emocionada por ter Kate de volta que não se precaveu, o que resulta na captura dos três personagens, que acabam trancados a sete chaves no elevador da batcave, proporcionando assim a Circe a luz verde de que necessitava para explorar os ficheiros e objetos perigosos armazenados no covil.
É aqui que fazemos uma pequena pausa para reconhecer que, de facto, somos umas maiores nerds do que aquilo que gostamos de admitir (ainda que o sejamos com bastante orgulho), capazes de reconhecer uma quantidade razoável de referências. Enquanto Circe passeia pela batcave como se esta se tratasse de uma loja de souvenirs de um museu, a personagem dá de caras com uma sala de reuniões abandonada – uma subtil alusão à infame Liga da Justiça, talvez? – e, em seguida, uma outra divisão repleta de toda uma parafernália de pequenos troféus, colecionados por Bruce como mementos das suas batalhas contra os mais conhecidos vilões de Gotham. Entre os icónicos itens, podemos observar o chapéu de Mad Hatter, uma videira de Poison Ivy, a lama da qual Clayface é constituído, um dente de Killer Croc, o chapéu de chuva de Penguin, o joy buzzer de Joker e, mais importante ainda, o veneno de Bane. Todos estes personagens pertencem à galeria de rogues do universo de Batman, representando vilões que há muito desejamos ver na série. Realçamos o veneno de Bane porque, como sabemos, Luke irá adotar a identidade de Batwing dentro em breve, sendo que, nos livros de banda desenhada, o personagem tem como seu inimigo nenhum outro que não Tavaroff, que se torna no vilão de nome Menace graças a esta substância.
Ao mesmo tempo que tudo isto se desenrola, Alice diz o seu último adeus a Ocean. Desolada pelo trágico fim do seu interesse amoroso, a personagem lança as suas cinzas ao mar, gozando de um breve momento de vulnerabilidade antes de ser abordada por Safiyah, que faz questão em estar presente durante o acontecimento. Realmente, há personagens sem qualquer tipo de vergonha na cara! Como se não bastasse, a vilã ameaça matar Alice se esta ousar dar continuidade à sua contenda ao invés de aceitar a morte de Ocean como o derradeiro ajuste de contas. O aviso não parece ser o melhor prefácio para a conversa que se segue, na qual Safiyah praticamente implora a Alice que regresse consigo a Coryana. A vilã tenciona reconstruir o seu império com o auxílio da videira recuperada por Circe, que pode ser usada para apressar o crescimento da sua preciosa desert rose. Safiyah tenta manipular Alice com o conhecimento de que Circe ganhou a luta contra Kate, afirmando ser a única família que resta à nossa anti-heroína. Sem grande surpresa, Alice não morde o isco e, em vez de se juntar à rainha da ilha, esfaqueia a personagem com o seu punhal de desert rose, colocando-a numa espécie de coma até ser capaz de reaver a sua família. Apesar dos horrores a que foi sujeita e da manipulação que Safiyah exerceu sobre si, Alice é, claramente, uma personagem muito mais forte do que outrora, que não se deixa levar por promessas vazias de uma falsa família. Vemos agora uma personagem que comanda o seu próprio futuro e que fará de tudo para garantir que Kate faz parte dele. Ainda que esta mudança em Alice tenha sido gradual, sentimos um orgulho imenso cada vez que a série nos recorda o quanto esta mudou desde a 1.ª temporada e mal podemos esperar por ver o que a próxima instalação de Batwoman reserva à personagem.
No lado oposto da cidade, Ryan encontra-se sob custódia do GCPD e, para piorar a sua situação, a sua agente de liberdade condicional não acredita que a personagem tenha sido vítima de uma emboscada. É uma atitude compreensível, já que a agente deve encontrar vários casos onde o culpado declara a pés juntos que pode explicar as suas ações. Assim, como forma de provar a seriedade da sua situação, Ryan é obrigada a revelar a sua identidade secreta, conseguindo escapar graças à cooperação da agente. Fomos as únicas que pensámos que a conversa poderia estar a ser ouvida por polícias do outro lado? Uma sala de interrogatório não é propriamente o sítio mais discreto, mas é verdade que esta era a única solução para a nossa Batwoman conseguir fugir.
Assim, Ryan descobre a verdade acerca de Kate/Circe quando regressa à batcave e é de imediato recebida pela vilã, que tem agora posse das armas dos inimigos de Bruce que se encontravam armazenadas no edifício, em adição aos vários gadgets que a nossa Batwoman tinha à sua disposição. Apesar de se tratar de uma luta algo equilibrada, Ryan não tarda a sentir o desgaste causado pelo encontro, começando a perder a sua vantagem em relação a Circe. No entanto, este combate volta a pender a favor dos nossos heróis quando Sophie consegue alcançar a crossbow utilizada pela vilã, depois de se ver livre do elevador. Segue-se um momento de grande tensão entre as personagens, mas Sophie hesita em premir o gatilho sobre Circe. É um momento comovente para o duo, mas que acaba por garantir a liberdade da filha de Sionis, que escapa com os itens coletados por Bruce e, mais importante ainda, com o fato de Ryan. Temos assim as estacas montadas para uma season finale emocionante: Batwoman sem o seu batsuit e sem quaisquer armas para se defender e Circe com acesso a tudo aquilo que pode comprometer os nossos heróis.
Não pensavas que iríamos terminar esta review sem antes mencionar a cena entre Alice e Mary, certo? A jovem Hamilton sabe que, de modo a trazer de volta todas as memórias da sua irmã, precisa da colaboração de Alice. Assim, Mary parte em busca da sua irmã malvada, dando de caras com Alice debruçada sobre o corpo de Ocean. A personagem recusa aceitar a morte do seu amado, exigindo (no fundo, implorando) à futura médica que o traga de volta. Infelizmente, não há nada a ser feito a não ser aceitar o sucedido e aprender a lidar com a dor. Afinal de contas, é aquilo que Mary se viu forçada a fazer após Alice matar a sua mãe, em A Mad Tea-Party. À semelhança do que aconteceu nesse episódio, adoramos os momentos que estas duas personagens partilham nos nossos ecrãs. Nicole e Rachel sempre se mostraram capazes de nos mover com as suas performances e este episódio não aparece como exceção à regra de ouro de Batwoman.
Finalmente, resta-nos exprimir o nosso desejo em ver uma nova galeria de rogues ganhar vida nesta série. Conforme mencionámos, o final deste episódio é evocativo do futuro de Tavaroff enquanto Menace, estando os restantes itens da coleção de Bruce sob a posse de Sionis e os seus capangas. Existe uma pequena possibilidade de Batwoman utilizar esta oportunidade para espalhar estes perigosos objetos por Gotham, dando azo a que novos vilões se venham a formar. Se não podemos ter os originais reis e rainhas do crime, ficamos felizes em conhecer novas versões destes personagens. Ainda que esta possibilidade esteja longe de ser confirmada, aproveitamos este momento para plantar a semente cujos frutos esperamos colher na 3.ª temporada da série.
Batwoman regressa assim esta semana com a sua season finale, intitulada Power. Até lá, podes rever todos os episódios desta série através da plataforma de streaming HBO Portugal.
Ana Oliveira e Inês Salvado