[Contém spoilers.]
É com Someone Saved My Life Tonight que Grey’s Anatomy chega ao final da sua 17.ª temporada, a qual não foi sem os seus altos e baixos – evidentes, ainda, neste último episódio. Este novo e emocionante capítulo da série marca o dia do casamento de Maggie e Winston, assim como o regresso de Meredith ao ativo. Por fim, acompanha também Jo à medida que esta toma uma decisão que irá para sempre mudar a sua vida.
No episódio anterior, levantei uma breve crítica ao facto de Grey’s procurar condensar várias semanas num único capítulo, numa clara (e, talvez, inútil) tentativa de preparar a sua season finale. Agora, admito que estava um pouco equivocada – não na minha crítica inicial, a qual mantenho e defendo, mas sim em acreditar que este novo episódio seria melhor que o anterior. Na realidade, Someone Saved My Life Tonight intensifica vários dos problemas que atribuí ao seu predecessor, compreendendo cerca de oito meses no seu breve tempo de duração e colocando em evidência a dificuldade que esta temporada teve em encontrar o seu rumo e ritmo.
Ainda que este problema se mostre aparente ao longo de todo o episódio, uma das áreas onde ganha maior destaque diz respeito ao casamento de Maggie e Winston. Os acontecimentos de I’m Still Standing trouxeram alguns solavancos a esta relação, cujos planos se viram afetados pela pandemia em que vivemos. Mas, apesar de alguns desentendimentos ao longo do caminho, ambos os personagens conseguiram ultrapassar os seus problemas, decidindo antecipar a sua união num breve momento de espontaneidade. Ora, este novo capítulo acaba por anular toda esta storyline quando Maggie e Winston se veem forçados a adiar o evento, devido à objeção dos seus familiares. Colocando de parte os meus sentimentos em relação à série tornar parte do episódio anterior obsoleta, tenho que concordar com os personagens. A verdade é que o casal merece muito melhor; não só melhor do que um pequeno casamento de quintal, mas, em última análise, melhor do que a celebração a que eventualmente tiveram direito.
Apesar de Winston e Maggie gozarem de um casamento idílico à beira-mar, devo dizer que lamento o facto de este capítulo não ser centrado no acontecimento, indo contra o tradicional episódio de casamento de Grey’s. Ao invés, os momentos passados na celebração são breves, raramente vendo o casal como seu foco. Se, na sua primeira tentativa em atar o nó, a atenção acaba por ser desviada para Teddy e Owen, que pede a personagem em casamento com um belo gesto romântico, durante a sua união, a série escolhe ter Link e Amelia como seu foco, vendo o médico pedir a mão da Dr.ª Shepherd em casamento após meses de antecipação. Pessoalmente, acredito que o episódio e, de igual modo, esta narrativa, teriam beneficiado de uma estrutura diferente, que não ocupasse uma parte significante da sua duração com storylines de menor interesse.
Este é certamente o caso do regresso de Meredith ao ativo, após meses a lidar com a COVID-19 e suas sequelas. Após cerca de meia temporada com a nossa Dr.ª Grey fora de comissão, admito que sinto alguma dificuldade em ver qual a atual utilidade da personagem para a série. À semelhança do episódio anterior, mantenho que a nova posição de Meredith enquanto chefe do programa de residência proporciona à série uma oportunidade para abordar a personagem de modo diferente, mas, ainda assim, não consigo evitar sentir uma certa indiferença para com a nossa personagem titular. Neste episódio em particular, aprecio o facto de Meredith lutar pela sua paciente e procurar incumbir esta mesma atitude sobre os seus educandos. No entanto, num capítulo que vê a sua irmã a caminho do altar, preferia ter observado um lado mais familiar da personagem, no lugar do seu mais recente caso cirúrgico.
Já a storyline de Amelia e Link suscita algum interesse, apesar de não ser suficientemente desenvolvida e possuir uma resolução algo agridoce. De entre os vários acontecimentos de Someone Saved My Life Tonight, trata-se, sem dúvida, de um dos poucos capazes de prender a minha atenção, deixando-me algo ansiosa em relação ao futuro desta parelha. Relembro que o episódio da passada semana criou alguma tensão nesta relação, revelando que, enquanto Link gostaria de possuir uma família numerosa, Amelia não se sente mentalmente capaz de tal – e poderá nunca estar pronta para isso. A sua ansiedade sobre a situação aumenta de forma exponencial quando Link aceita tornar-se num guardião de acolhimento para Luna, ganhando tempo para que Jo consiga encontrar um modo legal de ficar com a criança. Ao invés de falar com Link sobre o assunto, exprimindo as suas preocupações, Amelia retrai-se e deixa que as coisas aconteçam até que, simplesmente, tudo se torna demasiado.
Surgindo como voz da razão, Richard ajuda a que a personagem aceite que nem sempre as coisas correm conforme queremos, e que Amelia não precisa de ter uma grande razão para se sentir da maneira que sente. Enquanto isso, Link, desconhecendo os sentimentos de Amelia, começa a pensar um futuro com a personagem, planeando pedir a personagem em casamento, mesmo após o sucedido em Sorry Doesn’t Always Make It Right (afinal de contas, segundo a timeline da série, já se passou algum tempo desde esta sua conversa). É claro que, chegada a altura do pedido, Link apercebe-se que cometeu um enorme erro quando Amelia não produz qualquer tipo de resposta, levando o personagem a concluir que a sua relação chegou a um fim. Este não é, de todo, o desfecho que esperava para aquele que se tem vindo a tornar num dos meus casais favoritos da série, em tempos modernos. Estou profundamente desiludida pela abordagem escolhida, em especial tendo em conta o facto de o casal manter fortes linhas de comunicação abertas no passado, mas reservo ainda alguma esperança para uma reconciliação no futuro.
De longe, a minha porção favorita do episódio prende-se com Jo e Luna, um facto que não deve ser tido com muita surpresa por quem tem vindo a acompanhar estas reviews ao longo do tempo. Ainda que os vários saltos temporais deste episódio cortem um pouco a emoção criada durante as suas cenas, sendo reservado um tempo limitado a esta narrativa no meio de um episódio algo caótico, estou moderadamente satisfeita com o seu desenlace. Após várias provações e tribulações, abordadas de forma mais vigorosa nestes episódios recentes, Jo consegue a custódia da pequena Luna. Não esperava, de todo, que Grey’s resolvesse o assunto tão rapidamente, apesar de mencionar na review anterior que aguardava qualquer tipo de twist para esta season finale. Essa reviravolta surge com a mudança de Jo e Luna para o antigo apartamento de Jackson, uma prenda por parte do personagem à sua ex-amiga com benefícios. Também é valioso mencionar que Jo vendeu a sua porção do hospital a Koracick, de modo a poder cobrir os custos legais da adoção de Luna, o que não assenta bem a Bailey. Acredito que a série tomou demasiados atalhos no que diz respeito à luta de Jo por esta criança, em especial tendo em consideração o facto de esta sua narrativa se prolongar já desde a temporada anterior, mas espero que este novo passo na vida da personagem apareça como pretexto para abordar, novamente, os seus traumas e a forma como estes exercem influência sobre a sua vida e relações.
Por fim, resta-me apenas referir a minha gratidão em saber que Someone Saved My Life Tonight não será o episódio final de Grey’s, conforme havia sido inicialmente pensado. Apesar de existir uma clara tentativa no que diz respeito a proporcionar aos fãs da série um episódio emocional, com alguns finais felizes e outros que nem tanto, não acredito que este seja, de todo, um capítulo apropriado para terminar uma série que se arrasta há tanto tempo quanto esta. Na verdade, não sei se Grey’s Anatomy será alguma vez capaz de levar a cabo esta árdua tarefa de forma satisfatória, mas, por agora, contento-me em saber que existe uma hipótese de redenção numa temporada futura.
Grey’s Anatomy entra agora num novo hiato, com regresso marcado para este outono. Até lá, podes rever a série na FOX Life Portugal, ou através da plataforma de streaming Disney+.
Inês Salvado