[Contém spoilers]
Regressamos esta semana em dose dupla de Grey’s Anatomy, com Good as Hell e Look Up Child.
Neste primeiro episódio, Jo procura convencer Bailey a deixá-la trocar de especialidade numa altura em que o hospital necessita desesperadamente de cirurgiões. Entretanto, Link acusa Amelia de ultrapassar os limites enquanto tenta cuidar remotamente de um dos seus pacientes. Por fim, Winston tem uma ideia pouco convencional para ajudar Meredith.
Longe de se tratar do meu episódio favorito desta temporada (e muito menos da série), Good as Hell surge como um capítulo razoável numa altura em que Grey’s enfrenta alguma dificuldade em prender a atenção da sua audiência. Coloca um (aparente) ponto final a um dos grandes elementos menos positivos desta mais recente instalação, mas não parece proporcionar uma luz ao fundo do túnel que indique melhores dias para a série.
Após dar entrada na praia dos seus sonhos em My Happy Ending, Meredith decide que chegou a altura de partir deste seu limbo imaginário e regressar para junto da sua família e amigos. Na minha opinião, é uma decisão que surge tarde, tendo esta storyline servido como pouco mais do que um método para trazer de volta à série personagens do passado de Meredith, numa tentativa de invocar algum tipo de sentimento de nostalgia na audiência, mas não vou divagar muito sobre o assunto. A verdade é que Meredith está finalmente acordada, em grande parte graças ao esforço coletivo dos seus colegas e ao amor dos seus filhos – em particular, de Zola. A personagem desempenha um papel crucial no plano de Winston para trazer de volta a médica, oferecendo o empurrão de que Meredith precisava para tomar esta importante decisão. Não sei se acredito muito na metodologia utilizada, mas não discuto os seus resultados.
Este episódio serve ainda para avançar a narrativa de Jo, que partilha com Bailey o seu desejo de mudar de especialidade. De imediato, a médica encontra alguma resistência por parte da sua superior, a qual nega a Jo esta transferência sob o pretexto de necessitar de cirurgiões. Como é típico em Grey’s Anatomy, logo após isto acontecer, Bailey dá de caras com uma paciente que, durante a pandemia, abandonou o seu trabalho aborrecido por algo menos seguro, mas que lhe traz mais felicidade. A própria paciente começa a questionar esta sua decisão durante o episódio, sendo assegurada por Miranda que fez a escolha certa e que a vida é demasiado curta para perder tempo a fazer algo que não a faz sentir realizada. Assim, a paciente serve como lição à nossa médica, que acaba por dar a Jo a sua aprovação para seguir uma especialidade que lhe seja mais satisfatória.
De um modo geral, estas foram as duas storylines que mais se destacaram em Good as Hell. O episódio viu ainda alguma atenção dada a Amelia e Link, que colaboram num caso, e também a Teddy, que procura perceber porque é que Meredith não acordava. Também a relação de Schmitt e Nico tem direito a algum tempo de antena, sendo que nenhuma destas narrativas tem muito interesse. O episódio aborda ainda de forma breve a temática da COVID-19 e as complicações causadas pela doença mesmo após a sua cura, o que por si só não é bem-vindo (relembro, para tristezas deste género já me chega a vida real), muito menos acompanhado por peças de diálogo que parecem forçadas.
Já Look Up Child é um episódio consideravelmente melhor de Grey’s Anatomy, focado principalmente em Jackson, que presta uma visita inesperada ao seu pai (interpretado por Eric Roberts) após ter partido repentinamente em Sign O’ the Times. Esta visita ajuda a colocar o médico no caminho que considera correto, traçando assim o seu futuro na série. Como podes ter adivinhado pela imagem usada, este capítulo marca ainda o breve regresso de Sarah Drew à série, sendo April Kepner outra personagem visitada por Jackson neste novo episódio.
O médico chega à porta de April com um enorme pedido, motivado em grande parte pelos eventos dos episódios anteriores relativamente à discriminação a que são sujeitas as pessoas negras um pouco por toda a parte. A verdade é que Jackson deseja assumir um papel de liderança na Harper Avery Foundation, deixando para trás o seu trabalho enquanto cirurgião plástico de modo a poder participar de forma ativa no longo e moroso processo que é alterar todo o sistema. Entende assim que existe pouco que possa fazer a nível individual e que o seu verdadeiro poder reside na influência que pode exercer através da fundação. No entanto, existe um problema: a fundação encontra-se em Boston, não em Seattle. Para quem não está familiarizado com a geografia dos Estados Unidos (não te preocupes, não estás só!), estas cidades encontram-se em lados opostos do país, o que quer dizer que Jackson teria de abandonar a sua vida de modo a poder tentar seguir o seu chamamento enquanto ativista. Mas o Dr. Avery não é nada como o pai e recusa-se a deixar a sua filha crescer sem ele, pedindo assim a April que aceite mudar-se para Boston.
Como podes calcular, é um enorme pedido – um que, pessoalmente, não sei se aceitaria. Mas todos conhecemos esta série e é óbvio que, após toda uma apresentação de argumentos e apelos emocionais, April acede. Afinal de contas, a sua relação com Matthew deu para o torto, pelo que a personagem não tem muito a prendê-la. Seria de esperar que tivesse amigos ou algo do género que dificultasse a decisão, mas não me vou debruçar sobre o assunto porque Grey’s Anatomy parece deixar a porta aberta a uma reconciliação entre April e Jackson e, honestamente, não estou muito chateada com o assunto. Se é assim que nos despedimos de ambos, consigo pensar em piores formas de o fazer.
Assim, este foi um capítulo bem estruturado, que funciona de forma eficaz como um “adeus” adequado à personagem que é Jackson. Tenho tendência a gostar deste tipo de episódios, mais focados numa ou duas personagens ao invés de abordar diversas (e dispersas) narrativas, mas sou também um pouco influenciada pelo facto de Avery se tratar de uma das personagens masculinas de quem mais gosto nesta série. Fico triste em vê-lo partir ao fim de tanto tempo, mas agrada-me que, ao contrário de Andrew, tenha tido uma despedida à sua altura.
Por fim, este Look Up Child foi também seguido da publicação de duas notícias sobre a série, nomeadamente a saída de Jesse Williams do elenco de Grey’s Anatomy e, também, a renovação deste drama médico para uma 18.ª temporada. Acredito que falo pela maioria da audiência quando afirmo que cada vez mais se torna difícil imaginar um futuro risonho para Grey’s, pelo que a sua renovação não surge como motivo de celebração. Ao longo das últimas temporadas, tem-se tornado progressivamente mais claro que a série já deu o que tinha a dar, mostrando-se incapaz de produzir qualquer tipo de storyline de interesse. Assim, confirmada esta nova temporada, resta-me apenas desejar que o final de Grey’s esteja para breve e que sejamos todos liberados deste pacto de sangue ao qual fomos forçados.
Podes acompanhar Grey’s Anatomy todas as quartas-feiras às 22h20, através da FOX Life Portugal, ou podes rever todos os episódios da série até à sua 16.ª temporada na plataforma de streaming Disney+.
Achaste que Good as Hell e Look Up Child foram bons episódios de Grey’s Anatomy?
Inês Salvado