[Contém spoilers]
Grey’s Anatomy continua a sua 17.ª temporada com Sign O’ the Times, o 12.º episódio desta sua instalação. Aqui, Maggie preocupa-se com Winston enquanto tenta cuidar de um paciente que foi ferido nos protestos em Seattle. Entretanto, Levi é colocado à prova numa emergência, enquanto Bailey tem dificuldades em tratar um paciente que não acredita na COVID-19.
De forma a contextualizar um pouco a nossa ação, é seguro dizer que este novo episódio de Grey’s tem lugar por volta de maio do ano passado, após o assassinato de George Floyd – um caso que, tratando-se de uma instância de brutalidade policial que resultou em protestos um pouco por todo o mundo, foi coberto de forma extensa pelos aparelhos mediáticos, encontrando-se agora o autor deste crime em julgamento. Infelizmente, no entanto, poderíamos cair em erro ao pensar que este episódio se refere a eventos atuais, uma vez que ainda nesta passada semana ocorreram casos semelhantes ao de Floyd, gerando uma nova onda de protestos pelos Estados Unidos da América.
De forma compreensível, a série procura manter-se atual e relevante ao explorar, de modo mais acentuado, a brutalidade a que são sujeitos aqueles que resolvem aderir a este tipo de manifestações, assim como a importância dos mesmos e as motivações que levam cada um a protestar da sua própria forma. No entanto, apesar das suas boas intenções, acredito que Grey’s Anatomy se mostrou incapaz de produzir um bom argumento para Sign O’ the Times, apresentando de forma forçosa, analítica e, por vezes, simplificada, assuntos que são bastante complexos. Existem vários momentos de diálogo que simplesmente não surtem o efeito desejado, aparecendo por vezes como conversas superficiais que dificilmente seriam tidas na realidade. Adicionalmente, Grey’s Anatomy procura incluir várias instâncias de peso neste Sign O’ the Times, ao invés de as apresentar ao longo de vários capítulos, contribuindo assim para o ar forçado da narrativa. Estes factos entristecem-me, uma vez que esta se trata de uma temática que me interessa bastante a nível pessoal. Esperava um melhor trabalho por parte dos argumentistas, ao invés de um episódio que parece não ter um rumo concreto para além de ser um capítulo sobre o movimento Black Lives Matter.
Mas falemos então sobre o que aconteceu neste episódio, em termos concretos. Como podem ter deduzido, grande parte de Sign O’ the Times lida com pacientes que acabam feridos quando a polícia decide colocar um fim a um protesto pacífico, abordando os cidadãos que deveria servir com balas de borracha e gás lacrimogéneo. Felizmente, nenhum dos que chegam ao Grey Sloan acaba por falecer, apesar de um jovem ser ferido com gravidade após uma bala de borracha atingir o seu peito. A presença destes indivíduos no hospital, assim como a participação de Richard nos protestos, dá azo a conversas entre os nossos médicos sobre o seu envolvimento neste tipo de movimentos.
Por um lado, Richard sempre acreditou em demonstrações presenciais, como é o caso de marchas ou protestos. O médico tem imensas histórias para contar, assim como cicatrizes que aparecem quase como medalhas de honra, retratando as dificuldades por que passou na luta pelos seus direitos. Noutra ponta deste mesmo espectro, Jackson apercebe-se que sempre viveu uma vida privilegiada, abrigado de determinados desafios devido ao seu estatuto económico. Sempre se interessou por este tipo de causas, mas acreditava que o facto de assinar petições ou doar a determinadas associações e até mesmo boicotar certas companhias era o suficiente. Percebe agora que existe muito mais que pode fazer, pelo que estou curiosa em descobrir quais os planos do Dr. Avery para o próximo episódio.
Entretanto, Maggie perde o contacto com Winston quando o seu noivo é parado pela polícia na autoestrada, no caminho de regresso a Seattle. Sem saber se o médico se encontra em segurança, Maggie vê-se incapaz de se concentrar no seu trabalho, passando o seu tempo a tentar contactá-lo. Após aqueles que são os vinte minutos mais longos da vida da nossa médica, Winston finalmente devolve a chamada. Apesar de se encontrar fisicamente bem, o noive de Maggie está completamente abalado pela experiência, tendo sido vítima de racial profiling e um claro abuso de autoridade. Este é capaz de ter sido o ponto narrativo que mais mexeu comigo, neste episódio. Acredito que o elenco conseguiu comunicar de forma eficaz o pânico sentido por Maggie e a apreensão de Winston e, durante uns momentos, temi que o pior tivesse acontecido, sendo que fico claramente feliz em saber que este não foi o caso.
Também Cormac é apanhado no meio de tudo isto, ainda que não tenha sentido grande destaque para a sua narrativa. O médico leva os seus filhos à manifestação, sendo atacado por neonazis que lá aparecem em contraprotesto. A situação leva a que Hayes reconsidere a possibilidade de os seus filhos voltarem a participar neste tipo de eventos no futuro, mas os testemunhos de Richard e dos pacientes tratados no hospital fazem com que o médico perceba a importância de deixar que os seus rapazes se façam ser ouvidos – sempre com o apoio do seu pai.
Já Bailey vê-se forçada a lidar com um negacionista que acredita que a COVID-19 não existe, ou que esta é uma doença inventada pelos médicos, para capitalizarem o sofrimento das pessoas, como se estes recebessem uma quota por cada caso diagnosticado. O personagem, que testa positivo a este vírus, é uma clara caricatura de todos os indivíduos (ou, se preferirem, todos os broncos) que pensam desta mesma forma, pelo que o seu desfecho enquanto cautionary tale não só é esperado como também bem-vindo.
Por fim, resta-me apenas dizer que gostei de ver Schmitt colocar em prática os ensinamentos de Meredith, demonstrando que está preparado para o que der e vier. Conforme mencionei em Sorry Doesn’t Always Make It Right, muitas destas interações com Meredith adotam um tom de despedida, demonstrando à personagem que os seus discípulos serão capazes de prosseguir sem ela. Não acredito totalmente que este será o fim de Meredith, mas apenas o tempo dirá o que o futuro aguarda para a personagem titular de Grey’s Anatomy.
Podes acompanhar a série todas as quartas-feiras, às 22h20, através da FOX Life Portugal.
Inês Salvado