[Não contém spoilers]
The Nevers chega-nos pelas mãos da HBO e promete preencher aquele cantinho reservado à fantasia que nunca está verdadeiramente satisfeito.
Três anos depois de um estranho evento que afetou Londres, várias mulheres e meninas ficaram dotadas de habilidades sobrenaturais. Nenhum dos poderes parece repetir-se e balançam entre a total destruição e a perfeita harmonia, do mais simples ao mais complexo. O facto de ter afetado quase exclusivamente mulheres e grupos minoritários, o que poderia ser uma bênção, é interpretado pela elite de velhos homens brancos como um ataque. O povo não compreende o que é estranho e rapidamente o preconceito e perseguição se instalam.
Amalia True (Laura Donnelly) é uma espécie de protetora e agregadora de gente “Tocada”, com o objetivo de as proteger. Uma espécie de Professor X (com direito a casa e tudo), mas sem um plano bem delineado. Penance Adair (Ann Skelly) é a Q deste James Bond, capaz de ler energia e assim inventar fantásticos instrumentos tecnológicos no virar do séc. XIX. Neste piloto vemos o duo dinâmico a cumprir a sua missão e a dar luta a quem deseja explorar os dotados para outros fins.
A série poderá ser facilmente etiquetada como sendo de super-heróis mutantes de época e por isso descartada por muitos antes mesmo de começarem. No entanto, The Nevers propõe-se contar uma história mais profunda, com humor, muito drama e uma história central que alimenta constantemente. Conta com muitos traços à la Joss Whedon, faz por começar o piloto com ação para agradar aos mais impacientes, tem o tradicional aristocrata mau da fita, o polícia feio, porco e mau e até o devasso rico que não sabe o que fazer ao dinheiro, mas o “segredo” desta trama é o conjunto. A mistura entre comédia leve e ação, fantasia e os termos quotidianos faz com que tudo encaixe bem.
O vasto elenco, todo ele bom, ajuda ao encaixe de vários arcos: Olivia Williams, James Norton, Tom Riley e Pip Torrens dão a cara a elementos da alta sociedade, uns mais inocentes do que outros; Rochelle Neil, Eleanor Tomlinson, Elizabeth Berrington e Viola Prettejohn fazem parte dos “Tocados”; e a produção conta ainda com os fantásticos Ben Chaplin, Denis O’Hare e Nick Frost. O destaque vai quase na totalidade para as duas protagonistas e Amy Manson, que interpreta a principal antagonista e dá uma enorme chama de loucura ao enredo.
Apesar desta review se focar apenas no piloto de The Nevers, já tive a oportunidade de ver os primeiros quatro episódios, cedidos gentilmente pela HBO Portugal, e posso garantir que vai melhorando. A série torna-se mais pesada, o drama acentua-se e a história faz por nos dar respostas e oferecer novas perguntas, não dando espaço para grandes “engonhanços”. Conselho: não te afeiçoes muitos aos personagens; afinal de contas, é a HBO.
Como fã de séries de época e de fantasia, este é o meu estilo de série e o selo HBO faz com que deposite nela bastantes esperanças. Lorraine Ali do LA Times diz que The Nevers é para quem “amou Penny Dreadful ou Harlots, WandaVision ou Buffy“. A protagonista Laura Donnelly descreve a série como “um cruzamento entre Batman e Sherlock Holmes“. Eu acrescento que é um X-Men vitoriano com altas doses de afirmação feminina e uma protagonista com um carisma parecido ao de Suranne Jones em Gentleman Jack.
Joss Whedon criou a série, escreveu e realizou o primeiro episódio e esteve envolvido nos primeiros seis episódios (já gravados). No entanto, os escândalos recentes obrigaram ao seu afastamento e atualmente a série está sobre a alçada de Philippa Goslett, que será a responsável pelo leme na 2.ª parte da temporada (a filmar no final do ano). Os primeiros seis episódios começam a ser disponibilizados hoje, 12 de abril, na HBO Portugal.
Vítor Rodrigues