[Contém spoilers]
Grey’s Anatomy regressa esta semana com In My Life, o mais recente episódio da sua 17.ª temporada. Após uma enorme perda, Teddy sente dificuldade em seguir em frente, o que desencadeia dolorosas memórias do seu passado. Quando Owen a leva para casa, Teddy tem de enfrentar a realidade. Entretanto, Amelia tenta ajudar a resolver a situação ao encorajar Owen a aceitar e a perdoar Teddy.
Numa temporada já por si só depressiva, não estava à espera de passar um episódio inteiro a lidar com o trauma vivido por Altman desde a morte de Allison, o amor da sua vida, no fatídico dia 11 de setembro de 2001. Pessoalmente, acho que Grey’s tem passado demasiado tempo a abordar situações desanimadoras ao longo desta sua temporada, sem qualquer tipo de contraste positivo que funcione como uma espécie de contrapeso, pelo que começo a ficar um bocado saturada. Não sei se falo por todos, mas não vejo televisão (séries de ficção, em particular) para me sentir ainda mais deprimida semana após semana – para isso basta olhar para o estado do mundo em que vivemos. Ainda assim, é um tom de depressão ligeiramente diferente daquele que tem vindo a pintar os últimos episódios da série, pelo que aprecio a mudança.
De qualquer forma, este episódio surge no seguimento dos eventos de It’s All Too Much. Relembro que no final deste último episódio, Owen carrega Teddy até casa após o serviço memorial de Andrew, estando a médica completamente incapaz de produzir qualquer tipo de reação. Neste episódio, a personagem continua neste estado catatónico, presa na sua própria mente e forçada a processar e reviver os piores acontecimentos da sua vida, tentando perceber exatamente onde é que tudo começou a descarrilar.
Apesar de, inicialmente, se tratar de um episódio um pouco difícil de acompanhar, repleto de cortes e mais simbolismo do que aquele que o meu cérebro foi capaz de processar numa primeira visualização, à medida que In My Life vai progredindo, tudo começa a fazer sentido. Ao reviver estes marcos da sua vida, Teddy questiona o que fez de errado e quais teriam sido os resultados se tivesse feito escolhas diferentes (por exemplo, se tivesse fugido com Koracick ou se tivesse seguido em frente com o seu casamento com Owen), sempre com resultados que variam entre o mau e catastrófico. No entanto, nada disto importa, uma vez que os problemas de Altman começaram muito antes de conhecer Koracick ou mesmo Hunt. Tiveram início, sim, no dia em que Allison faleceu.
Assim, este episódio serve como uma oportunidade para conhecermos um pouco mais sobre o passado de Teddy e, principalmente, sobre a sua relação com Allison. Descobrimos que a personagem esteve lá para Altman aquando da morte dos seus pais e que foi durante este período que a relação entre as duas progrediu de uma simples amizade para algo mais. Ficamos também a saber que o dia da morte de Allison no atentado às Torres Gémeas é o dia que Teddy gostaria verdadeiramente de mudar e que a médica se sente responsável pelo que aconteceu. No entanto, a verdade é que, apesar das tentativas de Altman em alterar a realidade, o resultado é sempre o mesmo: não há como escapar à verdade – nem ao que sucedeu a Allison, nem à morte de DeLuca, nem mesmo à condição de Meredith. A grande lição é que Teddy tem de aprender a lidar com a dor ao invés de fugir dela e é quando a médica percebe isto e aceita que não existe nada que possa fazer para mudar o passado que consegue, por fim, regressar. Afinal de contas, ninguém pode ser feliz se não aceitar que existem momentos em que não o vai ser.
Com In My Life, Grey’s Anatomy proporciona-nos um episódio sobre Teddy, mas é Amelia quem se destaca. A médica chega armada com fluidos e sistemas de soro para Teddy e acaba por ficar para proporcionar algum tipo de apoio a Owen. No entanto, quando o seu ex-marido começa a declamar a sua longa lista de queixas sobre Teddy, Amelia aparece como a voz da razão (e, talvez, da maioria dos fãs da série) e coloca Owen no seu lugar, apontando a sua hipocrisia. Afinal de contas, quem é Owen para criticar Altman e afirmar que esta não merece o seu perdão quando ele próprio tem o historial que já conhecemos? Amelia chega mesmo a mencionar o episódio no qual Hunt estrangulou Cristina (uma cena que, por sinal, me surpreendeu) para mostrar que, por vezes, pessoas que sofrem de stress pós-traumático magoam aqueles de quem gostam. Relembra ainda que nem todos lidam com o trauma da mesma forma e que Teddy precisa de ajuda para aprender a viver com o que aconteceu, do mesmo modo que Owen precisa de ultrapassar o modo como a sua relação chegou a um fim.
Sinceramente, estaria a mentir se dissesse que não esperava mais deste episódio. In My Life está longe de se encontrar na minha lista de piores episódios de Grey’s Anatomy, mas estava à espera que me movesse mais do que acabou por mover. Parece que esta saturação de negatividade me deixou um pouco dormente aos acontecimentos, mas ainda assim acho que foi um bom episódio com uma realização brutal e boas performances por parte de todos os envolvidos.
Como sempre, podes acompanhar Grey’s Anatomy todas as quartas-feiras, às 22h20, na FOX Life Portugal.
Inês Salvado