[Contém spoilers!]
Temporada: 7
Número de episódios: 18
Chegou ao fim mais uma temporada de Conta-me Como Foi, a 7.ª temporada. Parece que foi ontem que estávamos a celebrar o regresso de uma das séries mais épicas de Portugal, e já vamos com duas novas temporadas, e mais uma que ainda está para vir.
Como expectável, esta 7.ª temporada de Conta-me Como Foi já não traz a onda de novidade que a passada tinha, ao invés faz-se acompanhar de um sentimento de aconchego e familiaridade que foi (re)conquistado ao longo da 6.ª temporada. Já ninguém precisa de ser (re)apresentado e cada vez que olhamos para as personagens já conseguimos ver uma evolução contínua e não a mera separação entre o que eram há dez anos e o que são agora. Um dos aspetos que diferenciou esta temporada da anterior foi a presença de flashbacks que auxiliaram na contextualização do Emídio e da Ana Paula, por exemplo – claro que houve exceções, mas nunca tão marcantes.
A banda sonora da série manteve a sua qualidade, mas sinto que podia ter inovado um pouco mais, especialmente pelo tempo que dedicaram à rádio – que devo desde já dizer que resultou num episódio bastante engraçado entre os casais Margarida e António e Susana e Fábio. Quanto às referências históricas, continuam presentes e foi muito interessante ver como pegaram de novo em Eusébio que já tinha sido motivo de um dos primeiros episódios da série.
Iniciamos esta temporada com o rescaldo do quase casamento de Isabel e Inácio e muito se desenvolve a história dos nossos protagonistas. Começando por Isabel, ainda que se volte a tocar no Inácio, é claro que ela já não quer ter nada a ver com ele e que, por enquanto, está feliz assim. Já conquistou um certo lugar na sua vida profissional, e penso que só poderá ficar melhor na próxima temporada. Ainda assim, não achei que fosse das temporadas que mais se focou nesta personagem, tendo talvez Susana e Toni sido os grandes focos.
Algo bastante positivo vem com a escrita que fizeram em relação à Susana que com esta temporada, mais do que na anterior, já não consigo imaginar a dinâmica da família Lopes sem ela. Susana desenvolveu um grande gosto pela música e parte da temporada é passada a explorar esse gosto pelo que a personagem mais nova interage com todas as outras em busca de realizar este seu novo sonho. Acaba também por se envolver num triângulo amoroso com Bruno e Fábio. Toda a dinâmica dela com o Fábio foi muito interessante e amorosa, ainda que não deixe de ser triste ver Bruno desiludido. Sinto que esta história ainda irá ter mais desenvolvimentos. Em suma, sinto que a personagem da Susana, assim como os que a acompanham, traz leveza e jovialidade à série e permite boas reflexões em relação à educação de filhos que pertencem a gerações totalmente diferentes.
Movendo agora a nossa atenção para a que considero a segunda estrela da temporada: Toni. Profissionalmente, é colocado numa secção do jornal que não gosta e tem de aprender a lidar com isso, tirando o melhor proveito e dando valor a todas as formas de jornalismo. O enredo que mais gostei foi sem dúvida toda a questão familiar. Desde a guarda de Simão ao casamento com Fátima e como tudo isto se interrelacionou num dos momentos mais bonitos da temporada.
Falando agora no irmão que me falta, Carlos, este seguiu um rumo bem aleatório a nível profissional, e a nível amoroso nem sei que diga. Dececionou-me muito, mas por um lado é bom que os protagonistas não sejam meramente perfeitinhos. Verdade seja dita, ultrapassou a perda de um filho, seguida da perda de uma namorada a quem tinha pedido em casamento. No entanto, dormir com uma mulher casada que por acaso já tinha sido uma das suas paixonetas e da qual Luz desconfiava, bem… Não me parece a melhor decisão.
Ainda não foi desta que vimos Zé e Amparo juntos da forma mais tradicional, mas já houve muitos mais sinais que apontam para isso no futuro, desde a Amparo ter ido ter com Zé à Madeira, à viagem que fizeram ao México. Sinceramente, até gosto desta dinâmica de cão e gato. Numa outra nota, e falando em outro casal, a dinâmica de Margarida e António parece-me ser das mais mal escritas até agora. Ora estão bem, ora estão mal. Compreendo que é a realidade de muitos casais, mas episódio-sim, episódio-não, vemos Margarida chateada com o seu casamento para no fim concluir que afinal António até nem é um mau marido. Quanto ao amigo com quem Margarida desabafa, não consigo evitar estar desconfiada, e detesto isso porque acredito firmemente que um homem e uma mulher podem ser amigos sem interesses para além da amizade.
Nesta linha a série traz também tópicos bastante importantes ao ecrã português como o acompanhamento psicológico. Aliados temos a desmitificação da genecologia, abordagem de culturas e religiões diferentes, de como um pai também poder ter a guarda do seu filho, e o ato e as consequências de uma violação. Ainda que reconheça que todas estas abordagens sejam levianas, são trazidas de forma sóbria ao horário nobre sem uma dramatização desnecessária por vezes assistida em novelas.
Gostava ainda de tocar na questão da homossexualidade. A série sempre teve muito cuidado com a forma como abordava o tema para não chocar demasiado. Mas acho que não faria mal nenhum ser mais arriscada, está a subestimar a sua audiência. Nos anos 80 era tabu? Sim, mas havia casais na mesma e era isso que gostava de ver melhor representado, assim como todo o estigma, já que temos visto muito isso no que toca ao consumo de drogas. Matarem o Almeida daquela forma foi só cruel. Tudo bem que conectaram com uma tragédia nacional, mas tinha mesmo de ser a personagem LGBT?
Temporada analisada e críticas feitas, em geral tivemos uma boa combinação de História, drama, comédia e família, tudo o que se podia esperar de Conta-me Como Foi. A família Lopes fez-nos companhia por quatro meses, o suficiente para nos habituarmos à sua presença, não nos cansarmos e ficarmos imediatamente com saudades após ouvir Dunas no final do 18.º episódio. Mas não se preocupem, como já estava tudo gravado muito antes da pandemia, temos regresso marcado para outubro de 2021.
Melhor episódio:
Episódio 14 – Neste episódio a dinâmica de Toni e Fátima é fantástica e ilustra perfeitamente um problema da época que, infelizmente, continua um pouco presente atualmente. Toni chateia-se com Fátima por esta contactar mãe para tomar conta do seu filho sem sequer considerar o trabalho de Fátima. É neste episódio que vemos Fátima a não se calar e a exigir um companheiro à altura. Toni demonstra-se capaz de entender os seus erros e de fazer um pedido de desculpas decente. Adorei!
Personagem de destaque:
Fátima (Ana Tang) – Toda a interação que a personagem teve com a família Lopes foi refrescante e a posição, demarcada, feminista que assume é um ponto a favor de Fátima. A personagem traz uma nova cultura e religião ao enredo, assim como muitas intervenções que quebram com quaisquer tabus.
Ana Leandro